
REVISTA CULTURAL
COARACI - BAHIA
"Caderno Cultural de Coaraci,cidadania à flor da pele"


A PODOLOGA ADEI ANGÉLICA SHOCÊ, FALA DE SEU PROJETO PROFISSIONAL
“Nos meses de abril e maio tive um problema com a unha do pé, no dedo halux, e passei apertado. Sempre que a unha encravava, eu mesmo a cortava dos lados e pronto o problema estava sanado, mas da última vez não foi assim, e houve uma inflamação que me impedia de calçar tênis. Fui a um médico e ele passou um anti-inflamatório e pediu que aplicasse gelo no local para diminuir o abcesso, mas o problema persistiu, até que uma amiga indicou a Podologa Adei Angélica Shocê, que exerce a sua profissão em Coaraci, ela com muita competência e conhecimento, extraiu cartilagens profundas que estavam causando a inflamação e dor e o problema foi resolvido.
Abei Angélica Shocê é Técnica em Podologia. Escolheu esta área justamente porque já foi vitima de uma “Unha encravada”:
- Quando eu tinha este problema fui várias vezes ao Dr. Scholl em Salvador, porque eu mexia demasiadamente nas minhas unhas encravadas e sofria muito com isso, chegando a extrair uma unha, fiz a Podoplastia outra vez e só andava com a unha inflamada, ai pensei: - Ainda vou fazer um curso de Podologia, pois o tratamento com Dr. Scholl é muito caro.Fez este curso no SENAC em Bauru no Estado de São Paulo. O curso teve uma duração de um ano e meio e ela voltou de lá como uma profissional da saúde.
- Quando eu retornei de São Paulo, pensei em abrir uma clinica em Vitória da Conquista, mas quando cheguei aqui encontrei a minha mãe que residia em Coaraci, adoentada e resolvi ficar pra cuidar dela. Depois que ela faleceu eu continuei aqui, e pensei: - vou ficar onde estou. O tempo foi passando e a essa altura não da mais pra arriscar-me com uma mudança de vida.
Os Podologos são pro-fissionais da saúde aptos a tratar dos pés das pessoas, tratam das patologias superficiais dos pés. Fazem assepsia das unhas dos pés, e não receitam medicamentos. Também cuidam dos calos e das calosidade, e das unhas encravadas.
Ter unha encravada pode ser um fator genético, algumas pessoas nascem com esse problema, têm crianças que já apresentam este tipo de problema. Mas na maioria das vezes o problema surge pela maneira errada como as pessoas cortam as suas unhas. Também pode ser consequência do calçado que se usa diariamente, calçados bico fino ou calçados apertados por exemplo. Não se deve cortar os cantos das unhas. É aconselhável cortar as unhas retas, caso contrário corre-se o risco de sofrer os incômodos de uma unha encravada. E se por ventura a unha começar a encravar, é bom não mexer nela, e deve-se procurar um especialista:
- Eu estou em Coaraci pela misericórdia “Do Senhor”, eu faço de tudo para ficar aqui, mais confesso que várias vezes já pensei em mudar-me para Vitória da Conquista, mas minha família encontra-se residindo aqui e em Itabuna e isso me prende a Coaraci, embora eu goste muito das pessoas e da cidade. Em Conquista eu fico muito só, caso contrário já teria ido embora.Quando os rendimentos ficam apertados aqui, vou lá dou uma trabalhada e volto.
A maior dificuldade que enfrento aqui é a pequena margem de lucro. O poder aquisitivo das pessoas aqui em Coaraci é muito baixo, eu não posso nem cobrar um valor mais elevado. Um exemplo das dificuldades econômicas que passo é que tenho que trabalhar também como manicure e não deveria estar fazenda este tipo de atendimento, pois o profissional da saúde não pode misturar as duas coisas; o trabalho técnico-cientifico com outra atividade. Muitas vezes tenho que fazer outros trabalhos além da podologia e manicure.
O conselho que dou para as pessoas é que procurem dar mais atenção aos seus pés, muitas pessoas se desligam e esquecem que os pés são importantis- simos para uma boa qualidade de vida. E muita atenção para aquelas pessoas que são diabéticas ou hipertensas, cuidem bem dos seus pés para evitar problemas graves que podem levar até as soluções extremas,Espero que passem a cuidar bem dos seus pés e de suas unhas. Abraços.
UMA OVELHA QUE NÃO CHEGOU
A SER TRAPEZISTA
Do Coaraciense Euflavio Madeirarte SP-BR..
O Circo Nerino tinha voltado em Coaraci, depois de ter dado uma longa volta pela Bahia e Minas Gerais, em 1956, mais não era mais o mesmo da primeira vez, já tinha entrado em decadência, mais ainda tinha algumas atrações, tinha no seu Palhaço Picolino a sua maior atração. Eu estava em casa chegou o Quinda: meu grande amigo de infância, era demais para mim: foi chegando e falando e quase gritando: - Flavinho! Dono do Circo, o seu Caitano quer compra um carneirinho. O nome do home era Gaitan, mais agente chamava Caitano, agente não sabia chamar Gaitan. Fiquei super agitado com aquilo pra mim era a gloria, o auge, o máximo. Minha carneirinha ia virar atração de circo, e ainda do circo Nerino? Era demais para mim, vamos lá agora, e saímos em disparada com destino ao circo, chegamos lá o Quinda na frente, pra procurar o homem. Quinda era aquele menino cuja mãe sabia ler, e nós tínhamos a maior inveja disso, porque a mãe dele era negra e sabia ler e juntava até gente para ouvir ela ler as literaturas de Cordéis. A minha não sabia a leitura não. Eu o segui, até que ele viu o homem lá nos fundos arrumando algumas coisas, chegamos perto e o Quinda disse pra ele: - Esse é o menino que tem a carneirinho que vocês estão querendo. O Sr. Gaitan falou pra mim com uma fala que não dava pra intender, é que ele tinha severa perca de voz, mas chamou um daqueles da família que eu não fiquei sabendo quem era, se era o próprio Picolino ou não, que falou: - é você que tem o carneirinho? Eu disse é: - quanto você quer no bichinho? Eu falei: - não sei! Quanto o senhor dá? - Ele falou o carneiro é seu? Eu falei: - não é carneiro é uma fêmea, ficamos ali resolvendo sobre o preço, tomei coragem e perguntei: - pra que vocês querem a bichinha? É pra ensinar? Ela vai ser artista? Ele disse não. É pra nós comermos uma buchada dela amanhã. Sai dali na maior disparada como se diz cantando pneus. Pra mim foi uma das maiores decepções da minha vida de criança, minha carneirinha é que eles jamais iam comer mesmo eles sendo um povo do Circo Nerino. Cheguei à minha casa muito decepcionado afinal eu já estava vendo minha carneirinha fazendo números de adestramento igual ou melhor que os cachorrinhos que tinha lá no circo, que subia numa rampa e pulavam lá de cima numa rede esticada. Junto com esses pensamentos eu falava vou vender bem cara, porque ela vai ser artista de circo, vai se salvar de morrer, da outra vez que o circo passar por aqui, ela vai estar muito grande.
E esse desgraçado vem dizer que é pra comer a buchada dela, nem pensar, e assim minha bichinha cresceu e teve o mesmo destino de todos os de seu gênero, quando eu deixei o circo, só escutava as gargalhadas daqueles homens sem coração, que por pouco não comeram minha carneirinha, se eu não perguntasse pra que eles queriam ela, já era, foi Deus que me deu coragem pra perguntar: - o que vocês vão fazer com ela?
Eu que tinha traçado um grande futuro pra ela naquele maravilhoso ''Circo Nerino'' que foi tão importante na minha vida e ia ser muito mais se eles tivessem levado minha ovelhinha ''carneirinha'' pra ser artista como os outros bichinhos que tinha lá.