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O SOFRIMENTO DE UM PAI.

De PauloSNSantana

 

Essa história eu ouvi de um amigo de Coaraci. Aconteceu há muito tempo. Foi um fato que surpreendeu a comunidade, os nomes das personagens foram modicados e o causo, não aconteceu exatamente como contamos: 

- Havia um fazendeiro na região, que era muito rico, dono de muitas propriedades rurais, produtor de cacau, grande pecuarista, era um homem sério, honesto, e fazia parte da Maçonaria. Chamava-se José Virgulino Cantaria, ele tinha três filhos homens e a sua esposa chamava-se Deodorina Cantaria uma religiosa assídua e bondosa. Apenas Ramiro um dos filhos era companheiro na lida diária na Fazenda Esperança onde gerenciava, e cuidava dos negócios da família. Os irmãos Totinho e Romão eram a avesso de Ramiro. Baderneiros e jogadores inveterados, viviam envolvidos com a justiça local e representavam duas encrencas, e uma preocupação eterna para o Coronel Virgulino que viajava todas as semanas para suas propriedades espalhadas pela região do cacau. Virgulino passava muitos dias afastado de sua residência, a sede da Fazenda Esperança. Uma ocasião Virgulino recebeu um alerta da empresa compradora de cacau, dizendo que a produção na Fazenda Esperança havia caído muito, que o cacau entregue na Empresa estava abaixo do esperado. 

Virgulino não entendeu o ocorrido, pois  seu gerente havia afirmado a ele que tudo estava correndo como planejado e que a produção se manteria estável naquele ano.  Alguma coisa estava acontecendo, e muito estranha. Será que estava sendo roubado? O cacau estava sendo desviado e vendido em outro município? Eram as suas dúvidas.

Então ele contratou um detetive em Ilhéus para investigar a Fazenda Esperança, observar quem entrava e quem saia transportando cacau, inclusive seus próprios filhos. 

Semanas depois foi informado pelo detetive que seus filhos Totinho e Romão estavam gastando muito dinheiro com jogatina, bebidas e mulheres. Virgulino passou a vigiar os dois e constatou que as informações do Detetive eram realmente verdadeiras e ficou muito desconfiado!

Os prejuízos continuaram, centenas de arrobas foram desviadas, e só podia ser durante a noite por alguém conhecido. O fazendeiro já estava sentindo as consequências do prejuizo. Estava devendo a bancos, sem poder investir nas suas roças de cacau, sem poder valorizar os seus trabalhadores, sem poder trocar de carro o

que fazia normalmente todos os anos, estava vivendo um inferno astral. 

Ele precisava descobrir urgentemente onde estava sendo desovado o cacau e quem era o responsável pelo golpe. Mas como nada que se faz às escondidas dura pra sempre, os boatos sobre os seus dois filhos foram aumentando, todos sabiam do golpe menos Virgulino. Foi então que o detetive o procurou pra relatar que soubera que iria haver outro golpe na Fazenda Esperança naquela semana. Virgulino soube que o grupo era chefiado por Totinho e Romão e que eles planejaram roubar todo o cacau estocado na fazenda, e seria na próxima sexta-feira. Imediatamente convocou seus capatazes, pediu sigilo a todos, e combinou acabar de vez com golpe. Marcaram viagem  na sexta-feira, e montaram um cerco a cinco quilômetros da propriedade, na única estrada pela qual poderia passar algum carregamento de cacau transportado por veículos automotores. Chegaram às 18 horas, esconderam-se e esconderam os carros e ficaram esperando que os ladrões com o carregamento aparecessem. Virgulino se recusava a acreditar que seus próprios filhos eram os bandidos, e planejava perdoá-los, mas obrigá-los a trabalhar para manter seus vícios. Já estava cansado da irresponsabilidade deles, pois havia proporcionado a cada um as melhores chances na vida e a melhor educação possível. Mas como os dedos das mãos não são iguais, apenas Ramiro era seu braço direito, trabalhador, honesto, estudado, bem relacionado na sociedade local. 

Veio a noite, fria e escura, o silêncio era quebrado apenas pelos silvos das corujas,  grilos cantantes e sapos na lagoa bem próxima do local. Às 21 horas, eles ouviram os primeiros sons de motores de carros utilitários, vindos das bandas da Fazenda Esperança. Minutos depois já se podia enxergar o clarão dos faróis dos dois carros e eles ouviram perfeitamente os dois motores possantes subindo e descendo a serra. Imediatamente arrastaram um grande tronco pro meio da estrada estreita, para impedir a passagem dos carros, e os capatazes ficaram de tocaia esperando eles chegarem e a ordem do patrão para atirar se fosse necessário. Os carros se aproximaram lentamente, diminuíram a marcha, era uma subida e estancaram frente ao tronco que bloqueava a estrada. Os motores continuaram ligados, e para surpresa de Virgulino, os dois motoristas eram seus filhos, e quatro comparsas que estavam com eles, fugiram do local,  embrenharam-se no mato escapando do cerco. Totinho e Romão ficaram sozinhos. Virgulino gritou: - Mãos pra cima bandidos, ladrões de cacau! Então eles responderam gritando de lá: - tirem este tronco da estrada! Nós vamos passar de qualquer jeito! Virgulino respondeu imediatamente: 

- nenhum ladrão vai passar nessa estrada, entreguem-se com os braços pra cima, devolvam o cacau que vocês roubaram da minha fazenda, vocês são bandidos como qualquer outro, da pior espécie. Totinho então ameaçou: - saia do caminho seu velho, ou vamos passar fogo em você, vamos passar por cima de você e de seus capangas xibungos! Quando ouviu aquelas palavras, Virgulino tremeu nas bases, pois nunca tinha pensado em ouvir ameaças dos seus próprios filhos; sem pensar duas

vezes, pois sabia que eles não iam se entregar facilmente, e não poderia adiar aquele problema, então com a voz embargada de pai traído, gritou aos seus capatazes autorizando a abrir fogo e a atirar para matar. Então imediatamente se iniciou um tiroteio que durou mais ou menos uns dez minutos, depois do que se fez um silêncio morbito, os dois bandidos que estavam cercados, foram baleados e mortos, estavam inertes no chão. O Coronel aproximou-se cuidadosamente com uma lanterna na mão esquerda e com um trinta e oitão na mão direita, ajoelhou-se, fez o sinal da cruz, pediu perdão a Deus, identificou os corpos, conferiu se estavam mesmo mortos e ordenou aos seus capatazes que colocassem os corpos nas carrocerias das duas picapes, sobre o cacau roubado e os conduzisse para a delegacia. 

Naquela madrugada foi um alvoroço danado, com burburinhos nas esquinas, praças e portas de bares, praça de táxi, nas casas residenciais que diziam: 

- Mataram dois filhos do Coronel José Virgulino!

O fazendeiro arrasado acompanhado de seu advogado apresentou-se ao Delegado, prestou depoimento e colocou-se a disposição da justiça. Ele foi autorizado a voltar a sua fazenda para aguardar a intimação da justiça. O processo arrastou-se por longos meses, ouviu-se depoimentos de testemunhas e de interceptadores e finalmente foi marcado o julgamento popular. Após doze horas de um cansativo embate, os jurados chegaram a um veredito. E o Juiz se pronunciou: 

- O senhor José Virgulino foi julgado e inocentado pelo júri popular, que alegou que o réu foi autor de um crime em legítima defesa, que teve que usar de recursos extremos, com arma de fogo, para defender a própria vida. E sentenciou:

- Cumpra-se a sentença!

                       E encerrou a sessão.  

                        Acredite se quiser!

Alexandra Maria   Orrico da Costa ‎

-

14de maio às 21:24 · 

 

Fiquei maravilhada com a matéria dos GETS, minha mãe(Maria Fani),em nossas saudosas conversas sobre nossas aventuras sempre guardava um lugar especial pra falar da banda e senti em sua narração a mesma emoção e alegria que ela me passava, parabéns! Saiba que tem em mim uma fã e assídua leitora do caderno cultural! Obrigada!

Propriedade de PauloSNSantana, Rua José Evangelista de Farias, nº16, 1º

andar, Centro, Coaraci-Ba. Fones: (73) 8121-8056 - (73) 3241-2405.

Na Internet o site: www.informativocultural.wix.com/coaraciE-mail: informativocultural162@gmail.comDiretor Geral: Paulo Sérgio Novaes Santana. Produção: PauloSNSantana. Colaboradores: Dra. Suzy e M. Celia Cavalcante Santana, Artista Plástico Leonel Matos.Circulação: Coaraci, Almadina, Itapitanga, Itamutinga, Itajuipe, Internet.Impressão: GRÁFICA MAIS.

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