
REVISTA CULTURAL
COARACI - BAHIA
"Caderno Cultural de Coaraci,cidadania à flor da pele"


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Cangaceiros de Lampião Palacete da Baronesa
Em junho a frente de 50 homens Lampião ataca uma Baronesa em Água Branca, Dona Joana Vieira de Siqueira Torres em seu palacete na cidade do mesmo nome, roubando o que encontrava pela frente. Sequer o crucifixo e o rosário de contas de ouro que a velha senhora de 90 anos trazia no pescoço deixam de ser arrebatados. O fato repercutiu na imprensa, inclusive a do Recife. Em agosto aconteceu outro assassinato frio por vingança, também em Água Branca, de pessoa indiretamente ligada à morte de Cassimiro Honório (Ioiô), devolveu-lhe o nome aos jornais. Volta a Pernambuco. Por encomenda de pessoa amiga invade a Vila de Belmonte em outubro e ataca o comerciante de família de destaque e negócios de expressão regional: Luiz Gonzaga Gomes Ferraz. Mata-o, após várias horas de combate e roubam-lhe os bens, inclusive a aliança de casamento, e ateiam fogo ao casarão assobradado em que este vivia com a família. A imprensa passou a chamá-lo de um dos piores facínoras. E a gesta (cantiga que exaltava os feitos dos cangaceiros de Lampião) elaborada no próprio bando não se faz esperar com o fato de que deu origem à tragédia e os nomes dos principais envolvidos são cantados com os versos da mulher rendeira:
Mandei chamar coqueiro,
Balisa e João Dedé,
A surra de seu ioiô
Eu vingo se Deus quiser.
Ioiô foi desfeiteado
Nós prometemos vingar
Montenegro deu a surra
Gonzaga é quem vai pagar
Gonzaga estava dormindo
Quando lampião chegou:
- Você hoje paga a surra
que mandou dar em Ioiô!
Gonzaga por ter dinheiro,
Pensava que não morria,
mas ioiô já ta vingado
Isso mesmo eu prometia.
A aliança de Gonzaga
custou um conto de réis,
Lampião botou no dedo
sem custar nenhum déreis!
Foi no dia 25 de Maio de 1925. Lampião e Sua Cabroeira invadem e tomam de assalto o palacete da Senhora Joana de Siqueira Torres. Viúva do Barão Acú-Torres: Dona Joana conhecida como a Baronesa de Água Branca.
Como ainda não dispunha de recursos que pudessem sustentar seu pessoal, mandou pedir certa quantia em dinheiro à Dona Joana Vieira de Siqueira Torres, baronesa de Água Branca, para a compra de provisões. Teria mandado dizer-lhe que feita a colaboração, ela jamais seria incomodada novamente, nem por ele nem por qualquer um outro do cangaço. A Senhora de Água Branca – município ao qual pertencia a Vila de Piranhas – entretanto, não atendeu ao seu pedido e, pior: mandou um recado desaforado pelo mesmo portador endereçado àquele que tentou extorquir de suas posses: “Diga a seu chefe que o dinheiro que tenho é para compra de munição com a qual pretendo arrancar-lhe a cabeça”. Depois, para se prevenir, pediu ao Governo da Província que mandasse reforçar a guarda de seu território com uma força policial mais equipada de homens e armas. Ao ouvir do mensageiro o recado da Baronesa, Lampião virou-se numa fera bravia, com vontade de esganar. E logo quis dar o troco: mandou comprar algumas redes e as preparou segundo os costumes locais de carregar mortos, onde um madeiro é colocado de um punho a outro, sendo carregado nos ombros por dois homens robustos. Preparou tudo com esmerado cuidado, seus homens vestindo-se como pessoas comuns do lugar, com roupas simples e chapéu de palha, descalços, ou arrastando sandálias leco-leco. Fuzis, punhais e cartucheiras eram carregados no lugar onde deviam estar os mortos, enrolados em panos untados com groselha para aparentar sangue, dentro das ditas redes. Dirigiram-se esses à porta da delegacia de polícia e, aos berros, um dos cabras, disfarçado, gritou para o soldado de plantão: “acuda, praça! Mande gente lá para as bandas do povoado da Várzea, que a cabroeira de Lampião está acabando com tudo ali; mataram estes daqui e ainda há mais gente morta aos montes. Ande depressa, homem de Deus! ”O despreparado soldado chamou imediatamente o corneteiro, que tocou reunir. Foi o momento propício para a execução do plano de Lampião: as armas foram retiradas das redes e empunhadas contra o pelotão policial, que já estava perfilado, pronto para sair à procura dos bandidos. Aí, enquanto a polícia era rendida, outra parte do grupo já havia entrado na cidade e agia no saque à casa da Baronesa. Irreverente, Lampião foi até ela e, fitando-a com severidade, soltou o vozeirão: - Então, Senhora Baronesa, vai arrancar-me a cabeça agora? Venha, vamos dá um volta pela cidade para que vosmecê e todos daqui saibam qui cum o capitão Virgulino não se brinca nem se manda recado desaforado”. E fez a respeitável senhora, dona de notório prestígio público, segurar seu braço e andar assim com ele desfilando pela cidade. – (este foi o primeiro de um sem-número de assaltos cometidos pelo bando de Lampião. Aconteceu em 28/06/1922, poucos dias depois que tinha assumido o comando do grupo de Sinhô Pereira, jovem ainda, aos 25 anos de idade).