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ENTRE MITOS E LENDAS

 

De Francisco Carlos Rocha Economista Graduado pela UESC.

Formado em Teologia pela STBG de Itabuna

 

Quando chegavam as férias, para mim era a maior felicidade, pois eu ia passa a maior parte dela na fazenda dos meus avós na região do Bonfim.

Para chegarmos até a sede eu ía de bicicleta juntamente com meus irmãos e meus primos. Era aquela algazarra, pois a descontração começava ao sairmos da cidade. Chegávamos lá, depois de meia hora de pedaladas, pois a distância daqui de Coaraci era de quatro quilômetros, fazíamos o percurso em pouco menos de meia hora.

Quando estávamos nos divertindo nas cercanias da casa, que era de taipa, com pouco mais de cinquenta metros quadrados, com um fogão de lenha nos fundos em um puxadinho de seis metros quadrados, de tanto tempo de uso, as paredes pareciam uma chaminé de uma fábrica. Era ali que minha avó preparava uma deliciosa comida, que para mim se existisse outra melhor só se fosse no céu. Tudo era muito rústico, os cômodos pequenos, mas para mim nada disso contava. O importante era que eu estava naquele paraíso e me sentia bastante livre ao dizer: "este é o melhor lugar do mundo". Mas nem tudo eram flores, pois o povo antigo tinha muitas crendices, tais como, não passe debaixo da escada que dá azar, não quebre um espelho que ele traz sete anos de má sorte, quando um gato preto cruzava a nossa frente, diziam que era um mal sinal. Fantasmas e assombrações, nem se fala, pois durante o dia a conversa que rolava era, cuidado com Saci Pererê, se vai para dentro da roça de cacau, cuidado com a Caipora para ela não te enganar fazendo errar o caminho. Ainda havia a Mula-Sem-Cabeça, Curupira e Mãe D'água, e cobra sucuri no rio.

A gente andava no cacaueiro assombrado, qualquer ruído nos assustava, pois pensávamos que tudo que nossa avó nos contava era verdade. Na nossa ingenuidade e ninguém para desmentir esses mitos, vivemos aterrorizados.

Mesmo assim era maravilhoso estar ali naquele lugar, colhendo goiaba, mangas, tangerinas, laranjas, jambo, pinha, jaca, bebendo mel de cacau feito na hora pelos trabalhadores, na época da colheita. Mas em contrapartida vivíamos estes medos, pois acreditamos que todas as estórias que nos contavam eram reais. A  pior hora, era quando íamos dormir, como disse anteriormente, a casa era de taipa e o vento soprava pelos buracos da parede, então se ouvia um silvo que parecia não ter fim, as panelas batiam uma nas outras, e então eu perguntava a minha avó: "Que barulho é esse?" E ela respondia: "É a minha mãe, que fica a noite toda na cozinha, pois antes dela morrer era seu lugar preferido, pois gostava de cozinhar para os filhos". Aí pronto, a noite parecia que não ia ter fim. Durante o dia, com tantas conversas de fantasmas e mitos, e à noite um barulho terrível feito pelo suposto fantasma da minha bisavó.

O dia parecia que nunca iria raiar. Então no intuito de amenizar o medo, ou espantá-lo, eu me enrolado dos pés à cabeça no cobertor, que era chamado de dorme bem, achava que assim estaria protegido da assombração. A coberta espinhava, mais eu nem ligava, o calor era insuportável, mas para mim era um ar condicionado. Ali debaixo eu me sentia protegido.

Assim as semanas foram passando, e a tristeza vinha chegando, pois eu sabia que ia deixar aquele lugar, pois logo, logo, teria que voltar para casa, pois as aulas, que iam recomeçar. Mas com tudo isso, mesmo com medo das estórias de mitos e fantasmas dos mais antigos, eu ainda ficava sonhando: "Tomara que o ano passe logo e eu possa voltar de novo pra Roça".

 

TERRA DE NINGUÉM

 

Autor da História PauloSNSantana

 

Existia um boteco onde se reuniam a escória, e os fora da lei. Lá se falava de roubos , jogos de azar, golpes e encomendas de assassinatos. As conversas eram de arrepiar os cabelos mais selvagens: Assaltos, assassinatos, ameaças e agressões. Era um ambiente onde não se respeitava a história de ninguém, quem mandava no pedaço era Veneno de Cascavel, com uns vinte assassinatos nas costas, fora assaltos a bancos e mortes por encomenda. Na parede verde desgastada pelo tempo, podia-se ver uma prateleira empoeirada com garrafas de cachaça batizadas, vários tipos de conhaques e cigarros. Havia um quadro com listas em papel pautado, onde se podia ler com facilidade os nomes dos maus pagadores, dos homens e mulheres de má conduta. Alguns justiceiros faziam do antro seu escritório, lá se acertava mortes por encomenda, assaltos, e espionagens. O lugar não era frequentado por gente do bem, nem tão pouco temente a Deus, aquele lugar não tinha espaço para Deus, o Diabo ditava as regras. Mas as listas estavam lá pra quem quisesse ler, nomes de pessoas ilustres, bandidos e vilões que deveriam ser riscados do mapa dos vivos. Alguns nomes riscados com uma cruz já haviam sido eliminados. As pessoas comuns tinham medo do lugar, diziam que ali morava o Diabo. Não havia luz elétrica no recinto, e quando se aproximava a noite, os fifós eram acessos e os mal encarados frequentadores permaneciam conversando até altas horas. Certa ocasião incluíram o nome de Bernardo Bala de Prata na lista dos que deveriam ser eliminados. A morte foi encomendada pelo Coronel Olho de Cobra, apelido em função de um olho de vidro que ganhou em um tiroteio. Tudo certo para execução do serviço. Foram designados pelo chefe, cognominado de Veneno de Cascavel, Marcinho Mata Rato e Juvenal Cão, dois jagunços para fazerem o serviço por dois mil reis. Deveriam atocalhar Bernardo Bala de Prata, na rota de sua propriedade, a Fazenda Bela Vista, atirarem para matar, cortar as orelhas e trazer como prova. O Coronel Olho de Cobra encomendou o serviço por ciúme do homem com a sua mulher. Os bandidos foram até a fazenda da vitima para conhecê-lo e não matar a pessoa errada. Da cidade até a propriedade eram doze léguas exatas, e a viagem foi cansativa. Chegaram à cancela ao anoitecer, a varanda da casa já havia sido iluminada por candeeiros, e Bernardo Bala de Prata, conversava com seus capatazes, quando os dois homens aproximaram-se. Bernardo perguntou o que queriam ali naquela hora e recebeu como resposta um pedido de pousada, água e comida. Bernardo chamou a mulher, e pediu que acomodasse os homens e arranjasse comida, café, e oferecesse a eles tudo que precisassem. Assim se fez, e até sobremesa tiveram. No outro dia bem cedo Bernardo esperou os dois homens saírem de sua propriedade. Os homens agradeceram e foram embora. No lugar escolhido para o cumprimento do serviço, eles se esconderam. Uma hora depois vem Bernardo montado a cavalo, seguindo para cidade. Os homens estavam com Bernardo na mira, só era apertar o gatilho e atirar pra matar, quando um deles falou baixinho pro outro: - Compadre para o home, não atira não! Mata Rato então mandou Bernardo apiá do cavalo e disseram a ele:- Coronel nos foi contratado pra lhe matar. Mas o Coronel é um homem bom e não merece morrer assim, até com doce fomos servidos pela sua mulher, nos ia ganhar dois mil reis para executar o serviço. Nos vamo seguir viagem e deixar o sinhô em paz. Mas advertimos que tenha cuidado porque Veneno de Cascavel vai tentar matar o Coronel. E foram embora.

Acredite se quiser.

 

PREMIAÇÃO COMPLICADA EM TEMPOS DE ELEIÇÃO

 

(História escrita por Zé Leal)

 

Estamos em 1996. Época de eleição municipal. Me desloquei de mala e cuia de Salvador para Coaraci, estimulado por Gentil Figueiredo, para ajudar Dra. Sonia Leal minha prima, na fundação do PSC, e consequentemente, abrir caminhos para sua candidatura, o que não aconteceu, já que optamos em apoiar Carlos Fernandes. Infelizmente, não tivemos êxito na campanha. Política é assim; uns ganham outros perdem. Perdemos, mas não fizemos nenhuma inimizade. Respeitamos  o resultado das urnas com tranquilidade. Durante a campanha, realizamos  comícios, e fizemos também visitas a todos distritos e povoados do município, na tentativa de convencer o eleitorado que a nossa proposta era melhor, etc. Não conseguimos. Numa dessas visitas, resolvemos  realizar um jogo de futebol no povoado da Lagoa, entre um time de Coaraci, formado por simpatizantes de nossa campanha, que enfrentou a seleção da Lagoa. Ao final, a equipe vencedora receberia um troféu, oferecido por nosso grupo. Estrategicamente, o time visitado deveria levar o troféu, ou seja, vencer o jogo, afinal, queríamos fazer um mimo  aos nossos correligionários. E se nós vencêssemos o jogo? Isso não poderia acontecer. A solução seria arrumar um juiz que nos ajudasse no êxito daquela missão. Surgiu um nome; Bal. Fomos falar com ele, que surpreso disse...”eu vou ter que  ajudar um time a perder? ”e continuou...”, mas se é para ajudar nossa campanha, vou ver o que posso fazer”. Começou o jogo, tiro indireto toda hora, gol anulado de Coaraci, impedimento inexistente, primeiro tempo 0 x 0. Bal me disse “Zé Leal, tá difícil, o time é muito fraco”. Começou o segundo tempo, a mesma coisa. Os jogadores de Coaraci começaram a estranhar o juiz, reclamando demais, um jogador foi expulso, e nada de gol. Quando faltavam 10 minutos para acabar o tempo regulamentar, Bal encerrou a partida, alegando que já estava escuro. Ainda estava muito claro. “Aí “ele me disse” não dava para aguentar mais, o risco de sair um gol é muito grande”. O jogo terminou empatado em 0x0. Os patrocinadores do evento então decidiram entregar o troféu ao time local, que comemorou a conquista até altas horas. Na apuração das eleições, perdemos na Lagoa. O troféu não ajudou em nada. Que loucura.

 

TEMPO PRA FALAR!

 

Pesquisa e Texto de PauloSNSantana

 

Antigamente no povoado de Itacaré e algumas fazendas da região, tudo era motivo para enxurradas de comentários, expostos e discutidos em rodinhas de bate papo: a política, os filmes, o cinema, o futebol do Rio e de São Paulo, fofocas, fuxicos, eram difundidos rapidamente nas periferias, nas portas das vendas, dos botecos espalhados em todo o povoado e até nas estradas, onde se encontrava facilmente tamboretes, fixados na terra, próximos a alguma casa ou ponto comercial, onde os repórteres do povo encontravam-se para prolongarem-se em um bate papo corriqueiro, acompanhado de cigarros de palha, cafezinhos, e cachaça destilada.

Havia muito disse me disse, discussões e brigas por causa dos mal entendidos. Os linguarudos escarafunjavam fatos polêmicos com se fossem espiões, e espalhavam pelos quatro cantos do povoado, daí estouravam brigas homéricas e quase sempre com sequelas: perda de dentes, de dedos, de uma das orelhas, e até língua decepada. Em Itacaré do Almada haviam vários locais de onde se conseguia pescar uma centena de fatos e causos escabrosos:

A área do projeto da Praça Getúlio Vargas, a travessia Pau de Peri, o Ginásio, a porta do Cinema, os bares e barracas de bebidas, a Pracinha da Igreja Católica, as Fazendas, as arquibancadas do campo de futebol, os clubes, etc.

Um dos pontos mais antigos foi a “Boca da Conversa”, mas ainda hoje é assim, e sempre vai haver um recanto, um lugarzinho para se falar da vida dos outros.

 

CHIQUINHO DO PÃO

 

Texto adaptado de PauloSNSantana

 

Com o crescimento da população uma figura se tornou folclórica nas ruas do distrito, chamava-se Francisco, era um padeiro que passava  no inicio das tardes pelas principais ruas de Coaraci levando na cabeça um grande cesto cheio de pães, que eram oferecidos através da frase; "olha a massa, olha a massa”.

Francisco só era conhecido por Chiquinho do Pão. Mais em outras horas do dia, era visto vendendo água potável, conduzida em cangalhas nos lombos de jumentos. Ele oferecia o produto gritando: “olha a água, olha a água”. Era água cristalina e doce, comercializada em carotes, captada de uma fonte próxima ao Bairro da Colina.

Chiquinho viveu em companhia de uma mulher afrodescendente muito valente, a baixinha quando ficava nervosa costumava bater nele.

Fonte Coaraci Ultimo Sopro.pg.125

 

O CEMITÉRIO

 

Texto adaptado por PauloSNSantana

 

A noite foi chegando e o rapaz já se preparava para mais uma noitada. O jovem, que deveria ter uns 19 anos, pegava sua mochila e o pé de cabra e partia para mais um roubo. Calmamente ele caminhava pelas ruas sem ser visto, para sua nova empreitada no cemitério central. Não tinha pressa, pois quanto mais tarde chegasse a seu destino melhor seria para que ninguém o visse entrar. Passou na porta do cemitério observando se estava tudo calmo pela vizinhança. Aquela seria uma noite de sorte para o rapaz. Mesmo assim, ele preferiu entrar no cemitério pelos fundos, para não chamar a atenção de quem passasse naquela hora. Conseguiu pular o muro com a maior facilidade. Caminhava por entre os túmulos em busca de algo fácil de roubar e de carregar. Já tinha conseguido duas placas de bronze quando viu um vulto passar correndo. Correu atrás por entre os túmulos para não ser visto, mas o vulto havia desaparecido. Cheio de pavor, pegou a mochila e resolveu encerrar a noitada. No mesmo horário na noite seguinte, lá estava ele pulando o muro do cemitério. Quando o rapaz já havia terminado de pegar mais alguns objetos das campas, viu o vulto passar novamente. Era uma mulher, alta e com roupas claras. O jovem não teve tempo de se esconder, pois a moça apareceu bem na sua frente. O rapaz, com o coração à boca, ficou paralisado de medo.

— Você está aqui toda noite roubando. — Dizia a moça de olhar profundo para o rapaz. O jovem engolindo em seco, respondeu. — Venho porque preciso. Ele não deixou que a moça falasse, pois saiu correndo. Pelo caminho foi pensando na aparição, que veio para questioná-lo e interrogá-lo, como se fosse um chefe de polícia. Acho a situação muito estranha e resolveu deixar passar dois dias para um novo roubo. Novamente o ritual do assalto ao cemitério e o jovem estava lá com sua mochila. Ele nem teve tempo de procurar por nada, pois a moça apareceu novamente intimando.

— Você aqui novamente? Ainda não se cansou de roubar? — Ia falando ela, cercando o rapaz.— Chega, gritou o rapaz. O que você quer? Por que não me deixa em paz? Porque cismou comigo? — Falava ele sem paciência e já sem medo algum.— Eu quero que você saiba que isso não é certo, pois você está importunando os mortos e saqueando as campas. — Falava ela, bem impaciente.

— Além do mais, quero ver se você vai roubar a si próprio. — Disse a moça, desaparecendo. Atordoado o rapaz fitou-a, sem nada entender.— A mulher, vendo a situação, desistiu da discussão. Chegou perto do rapaz e falou-lhe baixinho: jazigo 11, campa 37. Logo após, desapareceu. O jovem pegou sua mochila e foi embora. No caminho foi relembrando a conversa e não conseguia entender o que ela havia falado. Com o pensamento remoendo, ele resolveu retornar ao cemitério. Pulando o muro novamente, o rapaz andou pelos corredores a procura do endereço deixado pela moça. Caminhava devagar com a respiração ofegante pela ansiedade do que viria pela frente. Seja o que for, eu enfrentarei, pensava ele. Chegando no jazigo 11, o passo diminuiu. O jovem andou bem devagar, nem precisou procurar pelo número pois sua foto estava lá. Ao chegar perto da campa, lembrou-se que já havia morrido do passado, dos dias de roubo no cemitério, da polícia se aproximando, do tiroteio e de seu último suspiro de vida. Neste instante, o espirito da mulher ofereceu a mão e o conduziu à eternidade.

 

ARMADILHA BRUTAL

 

Autor PauloSNSantana

 

FICÇÃO

 

Tudo começou quando uma pequena equipe de policiais seguiu para o Distrito de Tacuru, sob o comando de um delegado municipal para prender e recambiar para o município de Tirite, o bandido Ramírez, um cigano violento, acusado de roubo, agiotagem e assassinatos, e para isso teriam que entrar em território inimigo. Um acampamento de ciganos.

A viagem foi marcada para a madrugada de um Sábado de carnaval. Jonas Albuquerque era o delegado, e Lucas Barbacena seu auxiliar, um jovem habilidoso com armas, destemido e voluntarioso. Os homens de farda eram Juacir e Atanásio, soldados da PM, esses não tinham preparo nenhum para a ação, além de carregarem com eles um armamento velho e pouca munição, eram parte de um pequeno contingente que fazia a segurança do município de Tirite.

A pequena equipe não tinha a menor ideia do que os esperava. O plano de captura havia vazado, e um cigano da região de Tirite, avisou a sua gente em Tacuru, deixando-os preparados para rechaçar qualquer tentativa de prisão no acampamento. Os ciganos eram extremamente violentos, e não respeitavam limites quando se tratava de preservar a honra e a união do acampamento, eram conhecidos pela fala mansa e o sangue frio. A família do bandido Ramirez era conhecida pela violência e as histórias de crimes cometidos por eles  era conhecida pelos policiais, pois tinham uma extensa ficha criminal.

Mesmo assim o grupo seguiu viagem em dois carros particulares, uma Rural e um Escort, cada um com dois ocupantes, o carro da frente conduzia o delegado e seu auxiliar e o segundo carro os dois policiais militares.

Quarenta quilômetros de estrada de chão, era a distancia entre Tirite e o pequeno município de Tacuru. O delegado combinou com a equipe como abordar o criminoso e como agir diante de uma reação inesperada. Mas eles não estavam preparados, e a missão era perigosa. Aquela missão era um erro fatal! O pequeno grupo de policiais subestimou o criminoso e a sua gente violenta, além de  não ter solicitado reforços, nem ter comunicado ao delegado de Tacuru.

A viagem foi tensa e silenciosa e no final de uma hora e meia  chegavam nas proximidades do acampamento, em um morro de onde se podia avistar o município de Tacuru.

 Os carros subiram uma ladeira de aproximadamente dois quilômetros de extensão, serpenteando um morro, rodeado de fazendas de cacau e pecuária, e finalmente avistaram o acampamento, e observar que havia  movimentação de montarias, bicicletas, motocicletas, carros, camionetes, caminhões e uma centena de pessoas, dançando, e um som alto que mais parecia um trio elétrico.  Era uma festa.

Os ciganos estavam comemorando alguma coisa. Pararam os carros e desceram para os acertos finais. Aventaram a possibilidade de abortar a ação, o que foi rechaçado pelo delegado.

As festas de ciganos são tradicionais, e eles obedecem a um ritual milenar, que começa com a oferta de presentes aos pais dos noivos e seus familiares, seguidos de danças tradicionais e solenidade religiosa. Uma festa de ciganos pode durar dias.

A equipe comentou sobre a presença de crianças e mulheres, o que infelizmente, foi uma falsa impressão de segurança.

 

A menos de trinta metros do acampamento já estavam cercados por uns cinquenta ciganos armados, entre eles mulheres nervosas e desconfiadas, que conferiam minuciosamente o que havia no interior dos carros. Era a hora de abortar a missão. Mas a equipe continuou com seu plano de captura.

Por outro lado a  festa continuava, colorida pelas roupas das ciganas, que davam um tom amistoso quando sorriam traiçoeiramente, os ciganos ostentavam joias, e armamento pesado. As belas ciganas desfilavam perfumadas, e seus corpos suados e sedutores atraíram os olhares dos soldados no segundo carro.

Finalmente o primeiro carro estacionou no centro do acampamento, perto de uma fogueira apagada pela chuva da madrugada mas ainda quente e esfumaçando. Os soldados estacionaram o segundo carro a uns vinte metros do carro do delegado, e ficaram em pé junto as suas portas e de guarda. 

O delegado e seu auxiliar desceram do automóvel e foram conduzidos pelos ciganos até o Chefe, um homem alto, cabelos e bigode brancos, que usava um chapéu de couro e ostentava uma arma de grosso calibre na cintura, um homem cordial que apresentou-se com Zidane, apertando as mãos dos indesejáveis visitantes. Inicialmente os policiais foram recebidos com sorrisos e desconfiança. Mas o Chefe Cigano homem astuto, raposa velha, rosto rosado, olhos grandes e dentes de ouro, já sabia quem eram e porque estavam ali. Mesmo assim perguntou o que faziam e quem os havia convidado, se vieram em paz para festa de casamento de sua filha. As ciganas aproximaram-se astuciosas, conferindo os armamentos dos policiais. Fez-se um silêncio tumular! Todos queriam ouvir o que ia dizer o homem estranho!

O Delegado explicou o motivo da presença deles  naquele local e naquela hora, que não sabiam da festa, mas que estavam cumprindo uma missão e o objetivo que os havia conduzido até lá. Nesta hora o clima mudou radicalmente, mandaram parar a musica, suspenderam a festa, as mulheres começaram a chorar e gritar  histericamente, o que chamou atenção dos ciganos, que correram para saber o que estava havendo. Um enxame de ciganos aproximou-se para dar apoio ao Chefe que estava calmo e era o dono da situação naquele momento. Zidane contemporizou com o delegado que aquela não era uma boa hora, pois era uma festa com muitos convidados e que a prisão de seu filho seria uma desonra. O delegado e seu auxiliar estavam rodeados por ciganos raivosos prontos para atacar. O delegado estava firme no propósito de deter o criminoso, era um homem corajoso e demonstrava segurança, em nenhum momento titubeou, mas observava o local, procurando uma saída segura, queria afastar-se do meio daquela gente, pra poder sacar as suas armas em caso de ataque, recuou, puxando seu auxiliar, dizendo que tudo iria se resolver na justiça. Talvez tentasse naquele momento sair dali. Mas era tarde demais, estavam cercados por feras alcoolizadas, descontroladas e criminosas.

Os soldados observavam a tudo apavorados, sem nenhuma possibilidade de fuga ou apoio, pois também estavam cercados por uma dezena de outros ciganos, os fuzis estavam engatilhados, mas nada podiam fazer, a não ser esperar o desfecho. De repente surge o cigano Ramirez, o criminoso em questão, veio para acirrar mais ainda os ânimos, começou a falar alto, alegar maus tratos, quando esteve preso Tirite. Disse que não seria preso novamente e que não era hora pra conversas fiadas, que só sairia dali morto. Foi a gota d’agua. Os ciganos estavam armados com facões, biscós, revolveres e rifles de repetição, as mulheres com punhal, esperando a ordem de Zidane para executarem os intrusos. Foi quando o irmão mais velho de Ramirez, acertou covardemente e violentamente o maxilar de Barbacena com um golpe de facão, ouviu-se um gritou terrível e a vitima caiu desacordada, com um corte profundo no rosto, o queixo estava deslocado, então as mulheres e homens armados e raivosos caíram em cima sem dó nem piedade, completada a ação criminosa, voltaram-se para o delegado imobilizando-o e atacando-o brutalmente, assassinando-o a golpes de facão, biscóis e tiros. Os soldados assustados, não puderam atirar pois já estavam também imobilizados pelos ciganos furiosos, que descontrolados atiravam pedras e paus, nos carros e avançaram para completar o serviço, sendo impedidos por  Zidane, interferiu gritando:

-Policial de farda nós não matamos! Deixem eles carregarem os mortos e fujam, saiam todos daqui agora! Levem o que puder, vão embora agora. Os corpos dilacerados, cobertos de sangue, estendidos no terreiro, agonizando foram esquecidos.

Em pouco mais de dez minutos o acampamento estava vazio e sem vida. Todos fugiram do local levando o que podiam.

O sol estava quente, os dois homens da lei estavam estirados no chão agonizando, mas nada podia ser feito naquela hora, os soldados desceram do carro e correram para socorrer os companheiros, que já estavam mortos.

Um dos policiais ficou ajoelhado rezando junto aos corpos, enquanto o outro seguiu em disparada para o distrito de Tacuru, para comunicar o fato as autoridades locais que imediatamente deslocaram-se para o acampamento, não encontrando mais nenhum cigano, só os cadáveres e o soldado. O delegado local solicitou um rabecão, que chegou três horas depois, conduzindo os corpos ao Instituto Médico Legal de Itabicas, depois das autopsias os foram entregues aos familiares, velados e sepultados com honras e méritos.

O bandido Ramirez, nunca mais foi visto, dizem que fugiu para o sul do país. 

Foi aberto um inquérito para investigar os crimes, os soldados foram ouvidos na justiça, e continuaram servindo no pelotão de Tirite.

Como foi um linchamento, os verdadeiros culpados nunca foram punidos. 

Acredite se quiser!

 

histórias de Coaraci

População estimada 2014 (1)20.183

População 201020.964

Área da unidade territorial (km²)274,500

Densidade demográfica (hab/km²)74,17

Código do Município2908002

Gentílicocoaraciense

Prefeito

JOSEFINA MARIA CASTRO DOS SANTOS

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