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O Sabidório

 

De PauloSNSantana

 

Contaram-me que no passado distante, existiu em Coaraci um cidadão que dava nó em pingo d'agua, tirava bombons da boca de crianças e doces de velhinhas.

Ele para ganhar dinheiro negociava imóveis sem a aquiescência do proprietário, vendia e alugava casas, sem que os proprietários soubessem. Não se sabe como ele conseguia mostrar os imóveis aos interessados, nem tão pouco como fechava os negócios, mas os queixosos diziam ter pago quantias iniciais ao malandro que após o golpe desaparecia misteriosamente deixando as vitimas a ver navios.  

                      Acredite se quiser! 

 

A RESISTÊNCIA!

 

De PauloSNSantana

 

Esta estória é uma ficção baseada em fatos reais. Os fatos não aconteceram exatamente como contamos aqui, por isso mesmo evitamos nominar as personagens.

Um conhecido me contou uma história sobre um fato político histórico que aqui ocorreu há muito tempo atrás. Ele conta que houve uma eleição em muito disputada, entre inimigos políticos ferrenhos. Naquela época como nos dias de hoje também acontece, o sangue fervia, afloravam-se as paixões politico partidárias, havia brigas, discussões, muitas dúvidas, acusações infundadas, desentendimentos, ofensas e criticas, entre outras coisas.

Após os resultados das eleições serem divulgados, as comemorações planejadas foram executadas com muita festa e animação, restava apenas a diplomação e a posse. No dia da posse os eleitores do novo prefeito fizeram uma passeata pelas ruas da pacata cidade. O novo prefeito sorridente e orgulhoso e a sua comitiva dirigiram-se à sede da prefeitura municipal para tomar acento no gabinete, mas para surpresa de todos, quando lá chegaram encontraram-na fechada com um Decreto do Ex-prefeito afixado à porta principal da Instituição  e que sentenciava:- Não haverá posse nesta data, pois estamos aguardando posicionamento da justiça eleitoral. Foi uma decepção geral, os eleitores ficaram nervosos e o Prefeito eleito teve como primeira ação do seu governo elaborar um documento na sua própria casa e enviá-lo ao Poder Judiciário em Ilhéus que por sua vez enviou reforço policial para garantir a efetivação da posse. Dias depois o candidato derrotado nas urnas saia de cena e a posse se concretizava. Os eleitores ficaram felizes, a comunidade continuou na expectativa de tempos melhores, a vida voltou à normalidade.

                         Acredite se quiser. 

Um Êxodo Especial

 

Autor Zé Leal

 

Na década de 80 fui transferido  nas minhas andanças do Banco do Brasil, para a cidade de Mundo Novo, onde  fui designado para dirigir o Posto Avançado de Piritiba. Uma cidade hospitaleira, característica  das pequenas cidades brasileiras, quando se tratava  do acolhimento ao pessoal do Banco, que levava serviço e progresso às mais diversas e longínquas comunidades.

Nessa época, conheci  pessoas  interessantes, a exemplo do cantor Raul Seixas. Ele estava de passagem numa fazenda de um amigo, e na oportunidade compôs a música Capim Guiné, que dizia:- “Plantei num sítio/No sertão de Piritiba/ Dois pés de Guataíba/Caju, Manga e Cajá”. Uma figuraça que andava pelas ruas  como uma pessoa comum. Na verdade, tudo era motivo de pesquisas para suas obras fantásticas.

Conheci   também  um senhor muito educado, que atendia pelo nome de Sizé. Era um fiel depositário do Banco. Ganhava um bom dinheirinho e complementava seu orçamento ensinando música no Ginásio local. Era  de cor branca, cabelos grisalhos e aparentava ter  aproximadamente 60 anos  de idade. Forte, mostrava-se sempre bem disposto e de boa conversa. Gostava de contar histórias.

Ele me disse que era maestro de uma orquestra em um Cassino de Santos, que tinha uma vida equilibrada, apesar de que na sua juventude chegou a ser lutador de boxe. Me pediu para dar um soco em sua barriga, com toda força que eu tivesse. Fiquei com receio de socar a barriga de um idoso. Mas, diante de sua insistência  me preparei  e desferi um murro com  muita força no abdômen de Sizé, e até hoje me arrependo. Quase quebro a mão. A barriga dele parecia que era de pedra. Ele disse, acredita agora que fui lutador de boxe? Lutador de boxe tem que ter o abdômen preparado para assimilar  os golpes dos adversários.

Lamentava-se do fechamento dos Cassinos  e dizia que Dutra  desempregou muita gente, inclusive ele.

De vez em quando eu ia à sua casa, e antes de almoçar tomava um aperitivo que ele preparava. Era uma infusão de aguardente com casca de lima de umbigo. Uma delícia. Fizemos então uma boa amizade. Eu e Sizé ficamos amigos. Ele contava as histórias dele, e eu as minhas. Uma amizade pura, verdadeira. Quando fui transferido para Irecê, fui à casa de Sizé me despedir dele e de sua esposa. Eram umas 10 horas da manhã. Abraço pra lá, palavras  de incentivo, boa sorte etc. Naquele momento, disse a ele:- Eu sei que você tem guardado um Pistom  (trompete) e que  nunca mais tocaria qualquer música. Você que foi maestro nos Cassinos de Santos, que domina todos os instrumentos musicais não vai me negar este pedido. Pegue seu Pistom e toque uma música para mim. Quero guardar esta despedida com muito carinho pelo resto de minha vida. Ele hesitou, pensou e disse:-   “Não posso lhe negar nada. Mulher traga o Pistom”. Abriu a caixa, que por dentro era de veludo vermelho e retirou o  Pistom que parecia que era de ouro. Passou a língua nos lábios, respirou fundo e começou a solar a música  Êxodos, sem errar uma nota sequer. Enquanto ele executava a música eu chorava emocionado. Inesquecível aquele momento.

Um forte abraço e um até breve. Segui meu destino. Nunca mais vi Sizé. Onde quer que ele esteja Deus o abençoe.  Um grande homem e saudoso amigo.

 

                                        Zé Leal. 

CADA PALAVRÃO UMA SENTENÇA!

 

Autor Zé Leal:

 

Caro Paulo

 

Depois de instalado e bem acomodado em Ilhéus, onde estamos residindo, retorno  ao convívio salutar do Informativo Cultural. Outras historias estão na forma. Oportunamente as enviarei para sua analise Recentemente, encontrei por aqui, o Sr. Zeca Gomes, de família tradicional de Coaraci, que com seus  janeiros próximos de 90, deve ter muitas historias para contar. Vou ver se consigo extrair alguma coisa dele. Quem sabe uma bela  matéria semelhante que você fez recentemente com o Pastor Jessé. Quando lhe envio um texto, deixo você a vontade para  adapta-lo a linguagem jornalística. Abraços

 

CADA PALAVRÃO UMA SENTENÇA De Zé Leal

(Os nomes dos personagens da discussão são fictícios!)

História adaptada por PSNS

 

Eu (Zé Leal), Renatão e Bitonho, após  uma manhã de atividade etílica no Bolacha, depois de muita conversa, roda de samba e tudo mais que por ali acontece, achamos que chegara a hora de bater em retirada para um descanso merecido. Sem antes, contudo, ir tomando a saideira pelos bares que  estivessem a caminho. Até que chegou a vez de um Bar de um amigo, que seria o último ponto antes da subida da Rua da Favela, que nos conduziria  à casa de Bita. Se tivesse um bafômetro no percurso, seríamos multados com certeza. Ao entrarmos no Bar, o clima estava muito tenso, pois rolava uma discussão  acirrada, regada naturalmente com muita cerveja gelada, entre; Proprietário, Bozo e Jonas. das pessoas aqui citadas, três já estão no andar de cima, e não poderão testemunhar quanto  a  veracidade do fato.

Bozo encarnando em Jonas, os dois do lado de fora do balcão, e o Proprietário do bar, que pedia a Bozo para deixar Jonas em paz. Mas Bozo continuava enchendo a paciência de Jonas. Porque ele não se casava de novo? Que ele (Bozo) logo que enviuvou tratou de  se casar novamente...Será que Jonas não dava mais nos couros? E Jonas dizia; Bozo me deixe em paz pelo amor de Deus. O dono do bar que era amigo de Jonas, não aguentando mais as provocações de Bozo,  disse; Bozo sabe porque você não deixa Jonas em Paz? Vou lhe dizer; porque você é um corno. Bozo foi à loucura, e disse ao dono do bar: - como você pode dizer uma coisa dessas comigo? Logo eu, Bozo, homem de confiança do ex-Prefeito da cidade, que dirigia o Simca Chambord  dele, levava sua esposa a Itabuna, e quase aos prantos indignado, invocava sua amizade com o ex-prefeito. Ele  avalizava pra mim em branco e dizia;  Bozo se no vencimento você não puder pagar, me fale. Sempre paguei com os lucros de meu comercio.

Agora quanto a você amigo ingrato, que me dirigiu palavrão tão agressivo, que prefiro não repetir, lhe digo que você é um homem morto, amanhã vou chegar aqui neste bar, com meu 38, e vou lhe dar seis tiros. Seu caixão já está separado. O proprietário do bar retrucou dizendo. Pois então, lhe digo que além de corno, você é xibungo. Aí Bozo, enfurecido, aumentou a sentença para  12 tiros.

Chamei Bitonho e Renatão, e caímos fora, subimos a Favela e fomos filar o gostoso pirão de minha sogra D. Zilda. Não sei se novos palavrões ocorreram, nem se a promessa da sentença foi ampliada. Mas sei que Bozo e o proprietário do bar, continuaram bons amigos. Ainda bem. 

 

UMA CRIANÇA QUE PENSA COM LÓGICA

 

De Roberto Alves Póvoas.

 

Quando eu achava que não poderia ver mais muitas coisas na vida no interior além de trabalho – casa – trabalho, encontrei uma criança, à qual vou chamar de Beto (diminutivo do meu nome), que me fez pensar que ainda temos uma luz no fim do túnel. Beto em sua casa, como qualquer casa deste mundo afora, tem os membros mais velhos que dominam e coordenam a vida dos pequenos. Ele mora em um bairro onde existe um grande número de cachorros e gatos que fazem suas necessidades fisiológicas nas áreas públicas, que são utilizadas pelas crianças para o lazer. Beto como grande parte das crianças é suscetível às micoses provocadas pelos dejetos destes animais, e por isso foi proibido de andar descalço.

Em sua casa, assistindo TV, viu nos intervalos das novelas um chamado do programa Globo Rural, onde o técnico falava sobre a vida das abelhas e informava que a colmeia de milhares de indivíduos, não resistia à morte da abelha rainha, morrendo todos. Ele ficou com aquela informação na cabeça. Ao chegar à escola onde cursa o 1° ano do ensino fundamental, indagou a um funcionário:- “Tio, como faço para encontrar a micose rainha?”. O funcionário curioso com a pergunta estranha, perguntou: - “E para que você quer encontrar a micose rainha?”. Ele então concluiu: - “Ah! Tio, quando a abelha rainha morre, também não morrem todas as abelhas? Se eu encontrar a micose rainha, matando ela, morrerão todas as micoses, não é? E assim vou poder andar descalço, certo?”

Conclusão: - Pois é, encontrei uma criança ainda no 1° ano do ensino fundamental empregando a lógica para resolver seu problema. 

 

Acredite se quiser!

 

FLASHES DA CIDADE DO AMOR

 

De Dr. Eldebrando Morais Pires

 

Livro Minhas Garatujas pag.127

 

A política em Coaraci é muito amena, sem mortes e sem separações de missas para partidos diferentes. No mais é igual a do país. Fui candidato a prefeito, houve uma urna anulada e dela dependia o resultado (perdi por 61 votos) da eleição. Gilberto Lyrio ficou em terceiro, fora do páreo, mandou os seus eleitores votarem em Gildarte o meu principal adversário. Gildarte venceu. Na eleição seguinte não fui candidato e marchei com... Gilberto Lyrio que me negou os votos da vitória na eleição anterior! Viu o que é politica? E Gilberto só ganhou com os votos do nosso partido. Alguns eleitores nossos zangados votaram nele por causa da eleição precedente.

Wanderlino Clodoaldo de Almeida dentista só porque o curso era o menor (três anos), foi o secretário mais cintilante de um prefeito da cidade. Uma das maiores inteligências locais adorava matemática e tinha os maiores defeitos de um político militante no Brasil: era sério, honesto, sincero (à agressão) e, acima de tudo, leal. Elegera-se vereador e deixou a Câmara (como seu maior edil) para servir à Prefeitura, no executivo. Antes de morrer, sempre comentava: - Com esse negócio de mensalão aquela nossa derrota foi providencial. - Foi mesmo Wanderlino. Vira e mexe o prefeito recém-eleito Gilberto Lyrio reclamava: Ah! Esse negócio de prefeitura (ele já foi vereador) presta não. É um inferno, o povo só quer emprego, receita, remédio. Demais... Wanderlino o deixou falar depois o chamou e pediu que sentasse em uma cadeira, puxou uma folha de papel passou pelo cilindro da maquina de escrever, ajeitou, encarou Gilberto Lyrio: - Vamos lá prefeito: agente bate aqui, agora mesmo o seu pedido de renuncia, eu levo hoje mesmo para a Câmara, questão unilateral os vereadores aprovam, ratificam, o vice assume e amanhã cedo você volta à tranquilidade do bem estar da sua lembrada coletoria! Muito fácil... Com isso Gilberto apaixonou-se pelo cargo só o passando ao próximo, no ultimo dia, com uma saudade danada. 

 

TRAQUEOSTOMIA E POLITICA –

A 1ª TRAQUEOSTOMIA EM COARACI ACONTECEU EM 1950.

 

De Dr. Eldebrando Morais Pires (pg. 99)

 

Olhe bem Luciana! Aquela criança ia morrer! Os olhos semiabertos, os lábios lívidos, a respiração superficial, imóvel, próxima ao último suspiro. Deitada sobre uma mesa de exame clínico num posto de saúde do Interior, clareada por um “Aladim”, sufocada pelas “falsas membranas” vedando a passagem do ar pela sua garganta, vítima da terrível difteria. Corriam os anos cinquenta. Um bisturi salvador rompeu a traqueia. O ar foi sugado com força pelos seus pulmões em falência, o sangue rapidamente voltou célere aos seus vasos. A criança abriu os olhos arregalando-os e chorou forte! À sua frente três desconhecidos de branco: um colega com “o bisturi! Na mão, eu e...uma...Auxiliar de Enfermagem!”, os três com os olhos marejados e no corredor a mãe aos prantos de alegria com o filho redivivo. Era a primeira traqueostomia realizada em Coaraci. 

 

QUANDO O ORGULHO PERDE O SEU VALOR!

 

A fazenda se chamava Palmira, ela era muito grande e a sede era muito bem estruturada. Em frente passava um rio, margeado de flores silvestres, e todo forrado de grama. Valia a pena passar um fim de semana naquele lugar aplausível, que mais se parecia um paraíso. O proprietário morava na capital, e só visitava a fazenda na época da colheita, não tinha nenhum amor por aquele lugar tão fascinante. O nome do coronel, (como assim era chamado), pois comprara a patente por um valor altíssimo, era Laudemiro dos Santos Silva moura. Mas ele gostava de ser chamado de Coronel Moura. Homem sisudo, de poucas palavras, tratava os empregados com arrogância. Os trabalhadores ao verem de longe o veículo dele chegando, era aquela demandada, podia ser 06h00min da manhã. Todos corriam da sede e iam para as roças de cacau, começarem a labuta, pois todos temiam a presença daquele homem. Pois quando ele passava alguns dias lá. Dava seis horas e ele gritava: ”cambada de preguiçosos, é assim que vocês ganham o meu dinheiro, na moleza, se preparem, pois aqui não é lugar de repouso e sim de muito trabalho”. Os peões, já sabendo disso, para  não ouvir desaforos, desapareciam da sede da Fazenda, seja qual hora fosse. O patrão era  uma pessoa muito prepotente e se achava superior aos outros. O que era muito estranho era que o administrador era o filho  dele, e os empregados não compreendiam porque o rapaz exercia essa função, e os seus irmãos eram todos formados, tinha um que era médico, o outro advogado e a filha mais nova era arquiteta. Todos estavam independentes e bem financeiramente.  Porque aquele filho veio se embrenhar naquele fim de mundo? Um dia os  dois discutindo, o filho questionou: “meus irmãos são todos formados, e eu aqui trabalhando como peão, a roça produz muito pouco, e quando lhe peço um empréstimo, o senhor sempre diz que não tem, diz que os  tempos estão difíceis”. Então o coronel retrucou, você nem meu filho é, quando sua mãe era viva, lhe tratava com excesso de mimos, você deu sorte em ela ter lhe  doado em vida a parte dela, e todos nós aceitamos. Mas agora você fica onde eu quero e ponto final. Então o filho saiu muito triste, quase chorando, pois depois que sua mãe adotiva morrera, o pai tirara todas as regalias que ela lhe proporcionava. Mas como existe a lei do retorno, não demorou para acontecer uma  tragédia na vida daquele homem. O seu sócio na empresa, fez uma série de falcatruas, tomou empréstimos e levou todo o dinheiro da firma. O que restara, o banco confiscou, inclusive a sua parte da fazenda. Aquele homem se viu desesperado, o chão se abriu a seus pés, pois jamais imaginara que aquilo ia acontecer com ele, e o sócio ia tomar uma atitude dessa maneira. Não aguentando tal tragédia, o coração enfartou. Passou um mês internado e ao receber alta, se perguntou: Para onde eu vou? O que vai ser de mim a partir de agora?  Foi conversar com os filhos, cada um deu uma desculpa e não aceitaram o velho pai em suas casas. Aí ele pensou! Eu vou para a fazenda, que é o único lugar que me resta. Então pegou os poucos pertences, embarcou em um ônibus e partiu para a região de Camacan, onde ficava a propriedade do filho. Só que o cacau já não produzia como outrora, o que produzia só dava para manter a folha de pagamento e as despesas básicas. Então o coronel Moura, que já tinha esquecido até o título; falou ao filho que tinha perdido tudo e que ia permanecer ali, morando com ele. O filho respondeu tudo bem papai, pode ficar a vontade, aqui. Iremos cuidar bem do Senhor. O velho não aguentou e os seus olhos se encheram de lágrimas. E disse, meu filho me perdoe por todo o mal que eu lhe fiz, durante todos esses anos, lhe tratando como um simples empregado. Destratei muito a sua esposa, não olhava os seus filhos como meus netos. E hoje estou aqui, sendo bem recebido e sendo muito bem tratado. Bobagem pai, essa é minha obrigação como filho, eu sempre lhe amei  como um verdadeiro pai, e hoje para mim é um grande dia, pois eu e minha família vamos cuidar muito bem do Senhor. Então o Pai não suportando mais, desabou em lágrimas, me perdoe meu filho, me perdoe, eu jamais irei me perdoar por ter lhe tratado tão mal. Não se sinta assim não meu pai, pois os maiores pecados o filho de Deus perdoou quando entregou a sua vida naquela cruz. Hoje para mim, é uma benção poder cuidar e estar tão próximo do homem que me adotou. Eu lhe agradeço por tudo meu pai. E aquele filho e a sua família cuidaram dele até a sua morte. 

        De: Francisco Carlos Rocha Almeida

 

O SOFRIMENTO DE UM PAI.

 

De PauloSNSantana

 

Essa história eu ouvi de um amigo de Coaraci. Aconteceu há muito tempo. Foi um fato que surpreendeu a comunidade, os nomes das personagens foram modicados e o causo, não aconteceu exatamente como contamos:

- Havia um fazendeiro na região, que era muito rico, dono de muitas propriedades rurais, produtor de cacau, grande pecuarista, era um homem sério, honesto, e fazia parte da Maçonaria. Chamava-se José Virgulino Cantaria, ele tinha três filhos homens e a sua esposa chamava-se Deodorina Cantaria uma religiosa assídua e bondosa. Apenas Ramiro um dos filhos era companheiro na lida diária na Fazenda Esperança onde gerenciava, e cuidava dos negócios da família. Os irmãos Totinho e Romão eram a avesso de Ramiro. Baderneiros e jogadores inveterados, viviam envolvidos com a justiça local e representavam duas encrencas, e uma preocupação eterna para o Coronel Virgulino que viajava todas as semanas para suas propriedades espalhadas pela região do cacau. Virgulino passava muitos dias afastado de sua residência, a sede da Fazenda Esperança. Uma ocasião Virgulino recebeu um alerta da empresa compradora de cacau, dizendo que a produção na Fazenda Esperança havia caído muito, que o cacau entregue na Empresa estava abaixo do esperado.

Virgulino não entendeu o ocorrido, pois  seu gerente havia afirmado a ele que tudo estava correndo como planejado e que a produção se manteria estável naquele ano.  Alguma coisa estava acontecendo, e muito estranha. Será que estava sendo roubado? O cacau estava sendo desviado e vendido em outro município? Eram as suas dúvidas.

Então ele contratou um detetive em Ilhéus para investigar a Fazenda Esperança, observar quem entrava e quem saia transportando cacau, inclusive seus próprios filhos.

Semanas depois foi informado pelo detetive que seus filhos Totinho e Romão estavam gastando muito dinheiro com jogatina, bebidas e mulheres. Virgulino passou a vigiar os dois e constatou que as informações do Detetive eram realmente verdadeiras e ficou muito desconfiado!

Os prejuízos continuaram, centenas de arrobas foram desviadas, e só podia ser durante a noite por alguém conhecido. O fazendeiro já estava sentindo as consequências do prejuízo. Estava devendo a bancos, sem poder investir nas suas roças de cacau, sem poder valorizar os seus trabalhadores, sem poder trocar de carro o que fazia normalmente todos os anos, estava vivendo um inferno astral.

Ele precisava descobrir urgentemente onde estava sendo desovado o cacau e quem era o responsável pelo golpe. Mas como nada que se faz às escondidas dura pra sempre, os boatos sobre os seus dois filhos foram aumentando, todos sabiam do golpe menos Virgulino. Foi então que o detetive o procurou pra relatar que soubera que iria haver outro golpe na Fazenda Esperança naquela semana. Virgulino soube que o grupo era chefiado por Totinho e Romão e que eles planejaram roubar todo o cacau estocado na fazenda, e seria na próxima sexta-feira. Imediatamente convocou seus capatazes, pediu sigilo a todos, e combinou acabar de vez com golpe. Marcaram viagem  na sexta-feira, e montaram um cerco a cinco quilômetros da propriedade, na única estrada pela qual poderia passar algum carregamento de cacau transportado por veículos automotores. Chegaram às 18 horas, esconderam-se e esconderam os carros e ficaram esperando que os ladrões com o carregamento aparecessem. Virgulino se recusava a acreditar que seus próprios filhos eram os bandidos, e planejava perdoá-los, mas obrigá-los a trabalhar para manter seus vícios. Já estava cansado da irresponsabilidade deles, pois havia proporcionado a cada um as melhores chances na vida e a melhor educação possível. Mas como os dedos das mãos não são iguais, apenas Ramiro era seu braço direito, trabalhador, honesto, estudado, bem relacionado na sociedade local.

Veio a noite, fria e escura, o silêncio era quebrado apenas pelos silvos das corujas,  grilos cantantes e sapos na lagoa bem próxima do local. Às 21 horas, eles ouviram os primeiros sons de motores de carros utilitários, vindos das bandas da Fazenda Esperança. Minutos depois já se podia enxergar o clarão dos faróis dos dois carros e eles ouviram perfeitamente os dois motores possantes subindo e descendo a serra. Imediatamente arrastaram um grande tronco pro meio da estrada estreita, para impedir a passagem dos carros, e os capatazes ficaram de tocaia esperando eles chegarem e a ordem do patrão para atirar se fosse necessário. Os carros se aproximaram lentamente, diminuíram a marcha, era uma subida e estancaram frente ao tronco que bloqueava a estrada. Os motores continuaram ligados, e para surpresa de Virgulino, os dois motoristas eram seus filhos, e quatro comparsas que estavam com eles, fugiram do local,  embrenharam-se no mato escapando do cerco. Totinho e Romão ficaram sozinhos. Virgulino gritou: - Mãos pra cima bandidos, ladrões de cacau! Então eles responderam gritando de lá: - tirem este tronco da estrada! Nós vamos passar de qualquer jeito! Virgulino respondeu imediatamente:

- nenhum ladrão vai passar nessa estrada, entreguem-se com os braços pra cima, devolvam o cacau que vocês roubaram da minha fazenda, vocês são bandidos como qualquer outro, da pior espécie. Totinho então ameaçou: - saia do caminho seu velho, ou vamos passar fogo em você, vamos passar por cima de você e de seus capangas xibungos! Quando ouviu aquelas palavras, Virgulino tremeu nas bases, pois nunca tinha pensado em ouvir ameaças dos seus próprios filhos; sem pensar duas vezes, pois sabia que eles não iam se entregar facilmente, e não poderia adiar aquele problema, então com a voz embargada de pai traído, gritou aos seus capatazes autorizando a abrir fogo e a atirar para matar. Então imediatamente se iniciou um tiroteio que durou mais ou menos uns dez minutos, depois do que se fez um silêncio morbito, os dois bandidos que estavam cercados, foram baleados e mortos, estavam inertes no chão. O Coronel aproximou-se cuidadosamente com uma lanterna na mão esquerda e com um trinta e oitão na mão direita, ajoelhou-se, fez o sinal da cruz, pediu perdão a Deus, identificou os corpos, conferiu se estavam mesmo mortos e ordenou aos seus capatazes que colocassem os corpos nas carrocerias das duas picapes, sobre o cacau roubado e os conduzisse para a delegacia.

Naquela madrugada foi um alvoroço danado, com burburinhos nas esquinas, praças e portas de bares, praça de táxi, nas casas residenciais que diziam:

- Mataram dois filhos do Coronel José Virgulino!

O fazendeiro arrasado acompanhado de seu advogado apresentou-se ao Delegado, prestou depoimento e colocou-se a disposição da justiça. Ele foi autorizado a voltar a sua fazenda para aguardar a intimação da justiça. O processo arrastou-se por longos meses, ouviu-se depoimentos de testemunhas e de interceptadores e finalmente foi marcado o julgamento popular. Após doze horas de um cansativo embate, os jurados chegaram a um veredito. E o Juiz se pronunciou:

- O senhor José Virgulino foi julgado e inocentado pelo júri popular, que alegou que o réu foi autor de um crime em legítima defesa, que teve que usar de recursos extremos, com arma de fogo, para defender a própria vida. E sentenciou:

- Cumpra-se a sentença!

                           E encerrou a sessão.

 

                                 Acredite se quiser!

histórias de Coaraci

População estimada 2014 (1)20.183

População 201020.964

Área da unidade territorial (km²)274,500

Densidade demográfica (hab/km²)74,17

Código do Município2908002

Gentílicocoaraciense

Prefeito

JOSEFINA MARIA CASTRO DOS SANTOS

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