
SUPESTIÇÃO
Caso contado por Zé Gato
Texto de PauloSNSanatana
A superstição é um terrível mal. O Sr. José Gato viveu muitos anos lá no Ribeirão dos Covas, ali em Itajuípe, como ele mesmo diz. Mas fez questão de dizer também que foi naturalizado em Coaraci. Ele é um verdadeiro contador de histórias, quem o ouve narrando uma história, é como se estivesse presenciando tudo.
Ele contou ao Caderno Cultural de Coaraci, que em Ribeirão do Covas existia um moço, “O Teófilo” que era domador de animais, laçador de boi bravo, que dominava o animal pelas ventas, colocava cangalha, forrava com folhas de bananeira e montava fazendo graça, que era uma figura. Mas também que era uma pessoa sem princípios, que não enjeitava uma discussão, brigava com todo mundo e até batia no pai com bainha de facão, e de quem tinha o maior medo da vingança, pois atormentava o velho dia e noite. Algum tempo depois o velho teve um enfarto e morreu. O medo da vingança de “Teófilo” aumentou, ao ponto de ficar paranoico. Ele costumava dizer pelos cantos do lugarejo:
- ''Meu pai qualquer hora vai me pegar!''
Lá no Covas tinha um açougue que matava dois bois todos os sábados, e nesse dia aparecia por la um cachorro com o nome de ”Frido”, valente como o diabo, grande, e que fazia ponto no açougue para conseguir as sobras das carcaças do animal abatido. ”Frido” tinha uma contenda com outro cachorro conhecido por “Canguçu”, também valente, grande e agressivo, que já chegava rosnando, procurando briga para tomar conta do pedaço e ganhar as melhores sobras. ”Canguçu” vinha do “Braço do Norte”, subia a ladeira de “Cedute” vinha faminto para comer carne fresca. Era uma briga desgraçada! ”Frido” rosnava de um lado, “Canguçu” não se intimidava a atacava do outro! Isso todo sábado. Quando chegava carne fresca lá estavam os dois cachorros rosnentos procurando briga!
Na madrugada de sexta-feira, “Teófilo” vinha montado em um cavalo velho, subindo a serra de “Cedute”, cheio de superstição, quando ouviu uma zoada, um barulho estranho, na verdade era o cachorro “Canguçu”, que já vinha rosnando, logo atrás do cavalo, Teófilo parou o cavalo, e pensou que era o seu Pai que estava perseguindo ele para vingar-se. O medo e o pavor foi tão grande que Teófilo, meteu as esporas no animal que saiu em desabalada carreira, ele também gritava apavorado, chamando por Zezé, um morador conhecido da redondeza, ”Ei Zezé”, “Ei Zezé”, meu pai veio pra se vingar de mim! Zezé ouviu a zoada colocou o candeeiro acima da cabeça e pensou esse é Teófilo, a voz é dele, pouco depois viu um cavalo correndo em direção a sua cabana, em pouco tempo chegaram os três, o cavalo, o cachorro e Teófilo; o cavalo cansado, o cachorro rosnando, e Teófilo borrado com medo. O cavalo freou em cima do barraco, quase entrando na choupana. Zezé perguntou:
-O que foi Teófilo?
-Teófilo gritou:
-É a alma do meu pai me perseguindo!
-E tá rosnando com muita raiva!
Zezé então disse desconcertado:
-Não é a alma do seu pai não!
-É “Canguçu” que vinha rosnando atrás do seu cavalo!
-Teófilo, surpreso, e com vergonha, abaixou a cabeça, e pediu a Zezé pra não espalhar o ocorrido, pra ele não passar vergonha. Mas Zezé era um linguarudo de primeira e não guardou o segredo de “Teófilo” que passou a ser perseguido pelos meninos do lugar, que gritavam quando ele passava:
-“Teófilo cadê Canguçu?”.
Acredite se quiser!
A BOSTA QUENTE
Entrevista com José Gato
Texto adaptado por PauloSNSantana
O Pai do Sr. José Gato, o Sr. Basílio, comprou a sua roça por oitenta e oito mil réis. Trabalhava dia e noite usando como ferramenta uma enxada. Todas as sextas feiras, no fim da tarde, ele vinha por dentro da mata, até chegar à roça, onde dormia, e no sábado cedinho começava a trabalhar até a noitinha e no domingo até à tarde quando voltava pra casa e ia fazer feira. Toda semana era a mesma coisa, muito trabalho e dedicação. Plantou uma mandioquinha, criou uns porquinhos, até que foi morar dentro da propriedade.
O Sr. José Gato tinha três tios, que se aproximaram do Sr. Basílio para pedir emprego. Alguns posseiros da região andavam tentando tomar parte da roça de Basílio, mediam erradamente as terras, diziam que era por aqui ou por ali, com intuito de surrupiar o pai de José Gato. Mas Basílio gritava, reclamava, e teve muito trabalho para manter intacta a sua propriedade. Iniciou uma roça no centro da mata, que passou a chamar-se roça de dentro. Lá naquela época havia um boi bravo que se desgarrou de um matadouro na “Lagoa”, dos irmãos Nélson Leão e Eurico Leão; um boi fujão que foi parar na roça de Sr. Basílio, e lá permaneceu comendo parte da mandioca de sua roça. Na região todo mundo sabia desse animal e tinham muito medo de encontrá-lo dentro da mata. Um dia, Sr. Basílio mandou Pedro um seu empregado ir até a roça de dentro para colher umas mandiocas para dar aos porcos. Pedro foi, mas estava muito amedrontado pelo boato que o animal solto estava em sua roça, pensava que tava lá e poderia atacá-lo, foi armado com a espingarda do Sr. Basílio, da qual não se separou. Investigou seu caminho minuciosamente, ouvidos bem abertos e visão de águia, derrepente avistou bostas frescas, pisou pra ver se estava quente, e quando atestou a temperatura, não pensou duas vezes, saiu correndo, chegando em casa esbaforido, molhado de suor. Sr. Basílio, perguntou a ele:
-O que foi que ouve?
-Foi o boi, Basílio, foi o boi, foi o boi!
Basílio inquiriu novamente:
-Você atirou nele? Matou ele?
Pedro disse meio sem jeito:
-Não, só vi sua bosta, quente!
-Por isso saí correndo!
Sr. Basílio gritou muito nervoso decepcionado e surpreso:
-Pedro você correu da bosta do animal? Quando a noticia se espalhou e o povo soube do caso, passaram a fazer gracinhas com ele. Quando ele passava os meninos gritavam:
-Pedro, fugiu da bosta do boi! Pedro cadê a bosta do boi!
Acredite se quiser.
A CASA DE FARINHA
Fonte Coaraci Último Sopro de Enock Dias
Texto adaptado por PauloSNSantana
Na fazenda de Duca, por volta de 1930, uma providencial casa de farinha ia sendo construída: Cocho, roda de farinha, pilão, forno, mas ainda faltava a prensa, um complexo conjunto de peças devidamente encaixadas e utilizadas para eliminar o excesso de água da massa de mandioca. Todo esse conjunto seria ordenado por um gigantesco parafuso, o componente de maior dificuldade para ser construído. Por algum tempo o tal parafuso era motivo de conversa entre os irmãos Duca, Dole e Dema, entre outros vizinhos de roça. Fizeram muitas viagens à região do Ouro, a Ribeirão do Terto, mas nenhuma solução foi concebida. A história do parafuso não saía das rodas dos amigos, das conversas noturnas, até que uma noite quase no final do bate papo entre vizinhos, Agripino Oliveira, um dos vizinhos presentes, disse em alto e bom som, que iria fazer o tal parafuso: “Eu faço”, disse ele. Os três irmãos não acreditaram, e estopetados saíram com as seguintes frases: -“mas o que é senhor!”, e Dole arrematou: - “Eita!”, Dema entusiasmado disse: -“aí, eu vi!”. Agripino era cunhado de Dole, também era carpinteiro, pedreiro e pintor em algumas obras da fazenda. Pois bem conseguiu com a ajuda dos vizinhos e dos irmãos construir o tal parafuso, e com a ajuda de trabalhadores e vizinhos erguer o pesado e complexo conjunto. Dai em diante foram realizadas as mais concorridas farinhadas, e festivais de mingaus, beijus de coco, de goma, e de tapioca, paçoca de banana da terra e de aipim, cuscuz de milho ralado, etc. Durante mais de quarenta anos a prensa de Agripino prestou inestimáveis serviços, ao povoado de Duas Barras.
ARQUEIRO VERDE
Caso contado por José Gato
Texto de PauloSNSantana
Havia um tal de “arqueiro verde”, um forasteiro, homem inescrupuloso, que tinha mania de enviar cartas anônimas às famílias, denegrindo o nome da mulher, dos filhos e do marido. Este indivíduo frequentava a casa da família que seria sua vitima, para saber os nomes de todos os residentes e depois de conhecer os particulares de cada um, escrevia uma carta recheada de fuxicos, intrigas e mentiras, e escondido na escuridão da noite, atrás das árvores e das vegetações, com um arco e uma flecha amarrava cuidadosamente a carta na flecha e atiçava a mesma na direção de uma janela ou porta aberta da casa.
Daí era só esperar a confusão se criar, as famílias brigarem e até separarem-se. Dezenas de queixas foram registradas na delegacia de policia local, os policiais procuraram incessantemente pelo meliante, muito bem escondido no anonimato.
A notícia se espalhou e o povo assustado, tomou precauções contra o tal “arqueiro verde”, uma alma misteriosa que assombrava o povoado, perigosa e sorrateiramente. Mandavam fechar as portas e janelas cedo. O meliante assinava as cartas em nome de “Arqueiro Verde”. A cidade passou a viver um clima de insegurança por um bom tempo. Porém como nenhum mal feito fica eternamente oculto, uma das cartas ele escreveu em uma nota fiscal, com número de talão e tudo mais. A policia investigou até descobrir de onde havia sido tirada aquela folha. Encontraram o talão na casa comercial do senhor José Augusto, pai de Zeca Branco, daí para o suspeito foi um salto mortal. Pegaram o indivíduo esperto e desapareceram com ele.
JULINHO CHA CHA TOCOU E NÓS NÃO VIMOS A BANDA TOCAR
(História escrita por Zé Leal)
Esta história aconteceu no ano de 1965. Eu trabalhava em Correa Ribeiro, firma que comprava e exportava cacau, e vendia mercadorias diversas em atacado e varejo. Eu era o responsável pela seção de mercadorias. Substituí Ronaldo, que havia substituído Renato Dattoli. Julinho era o Gerente, Barreto o sub e Dionísio era o responsável pela seção de cacau. Elias era o ensacador. As possibilidades de ascensão na empresa eram limitadas, o que irritava particularmente a mim e a Dionísio, que veio de Pau Brasil, região muito violenta e tinha como eu, pretensões de crescimento. Outras coisas nos aborreciam, como a divisão das sobras de cacau. Sentíamo-nos ludibriados. Até que um dia, fomos eu e Dionísio para uma festa no Clube Social. Engravatados, de paletó, não podia ser caneta Parker (calça diferente do paletó) dia de sábado, estávamos prontos para uma noitada. Entramos pela porta dos fundos, num beco junto à casa de Painé, que dava acesso ao bar, e ali nos posicionamos em pé no balcão. Começamos a fazer o aquecimento, já que tanto a banda de música, quanto as pessoas ainda não tinham chegado. Chegamos muito cedo. Ficamos ali instalados. Conversa vai, conversa vem, as pessoas começavam a encher o salão, as paqueras passavam, nós as víamos de longe, a banda também chegou, começou a tocar. Chamava-se orquestra de Julinho Cha Cha, da cidade de Canavieiras. A orquestra tocava, as pessoas dançavam de vez em quando um recado para mim e para Dionísio. As meninas clamavam por nossa presença. Mas, a nossa conversa tomou um rumo perigoso. Íamos matar Julinho. Tudo resolvido. Dionísio ia contratar um pistoleiro em Pau Brasil, e começamos a arquitetar a sua morte. Seria a nossa solução. Afinal, não tínhamos nosso trabalho reconhecido pelo gerente. Tinha que morrer. Tiramos os paletós, folgamos as gravatas, e tome cerveja, e tome planejamento. Depois do plano montado, resolvemos repor as gravatas e os paletós, e quando chegamos no salão, não tinha mais ninguém. As meninas foram embora, a banda não vimos passar. Fomos pra casa dormir, no outro dia uma ressaca danada. Não namoramos ninguém, não matamos ninguém, nem vimos a banda de Julinho Cha Cha tocar. Coisas da mocidade.
COMEMORAÇÃO MILIONÁRIA COM UM GANHADOR DA LOTERIA!
Texto de PauloSNSantana
Aconteceu no dia 29 de dezembro de 1977. Um jovem formando colaria grau naquela noite, um sonho que durou alguns anos e poucos meses, e que determinaria uma mudança radical na vida dele. O local escolhido pela turma para cerimônia foi a Igreja de São Francisco. Ele providenciou com seus próprios recursos financeiros, um smoking preto, gravata borboleta preta, e um sapato de amarrar de verniz. Enviou convites para alguns amigos e membros de sua família, que compareceram a sua colação de grau, uma festa considerável. O jovem formando não podia bancar as despesas do baile de formatura que seria realizado em um grande clube da cidade. A Igreja estava cheia de familiares amigos e convidados, e a solenidade transcorreu como planejada. No final todos se abraçaram aos seus pares, familiares e amigos e seguiram ao baile de formatura. Menos o jovem agora diplomado, que ainda segurava seu diploma e admirava o brilho de seu anel de formatura. Ele recebeu felicitações da sua família, depois se despediu seguindo sozinho rumo a uma festa popular, onde provavelmente encontraria outros formandos da sua turma. Era uma festa pagã. Pegou um táxi, retirou a gravata borboleta, guardou o diploma em um dos bolsos do smoking, desabotoou alguns botões da camisa e solicitou ao motorista que o levasse à festa da Boa Viagem. Quando chegaram, o largo ainda estava cheio, fieis e profanos desfilavam, dançavam, felizes e despreocupados. Ainda podia-se encontrar muitas famílias e crianças. Havia um cheiro gostoso no ar, acarajé, churrasco de gato, pipocas, perfumes, e bolas coloridas, com um fundo musical barulhento das dezenas de barracas espalhadas ao largo da praia.
Os fregueses sentados em cadeiras e mesas vermelhas estampadas, com logomarcas das fornecedoras de cerveja e refrigerantes, bebiam e conversavam.
Vestido daquele jeito chamou a atenção dos transeuntes mais desligados, das moças, das prostitutas, das crianças e dos batedores de carteira, infiltrados no meio da multidão, ávidos por uma carteira recheada. Ele caminhava atento a tudo, procurando os colegas no meio do povo que se acotovelava, naquele mar de gente. Repentinamente, sentiu que estava sendo vítima de uma ação criminosa, muito bem arquitetada de batedores de carteira, ladrões que se aproveitam das multidões para aplicar o golpe e roubar as carteiras das pessoas. Um ladrão estava sua frente, outro no lado esquerdo, mais um no lado direito e outro nas suas costas. O plano deles era desviar a atenção, enquanto o ladrão mais experiente, com seus dedos leves, surrupiava a carteira da vitima. Mas o jovem havia se prevenido, bom baiano que era, ainda no táxi, guardou por segurança sua carteira dentro da cueca. Pra se livrar dos meliantes, empurrou o indivíduo que estava na sua frente, e gritou pega o ladrão! O povo ao seu redor ajudou, e os marginais saíram correndo, sumindo na multidão, sem nada levar.
Seguiu então para a barraca mais próxima, frente ao mar, onde as mesas já estavam todas ocupadas. Ele entrou com dificuldade, chamando a atenção de todos, é que o smoking que vestia destoava de tudo, não era nada apropriado àquela ocasião. Sem jeito, suado, cansado, estressado, dirigiu-se ao balcão onde finalmente respirou calmamente, pediu ao garçom uma cerveja bem gelada, encheu o copo, bebeu e virou-se para as mesas, passou os olhos em todas, deu uma geral no ambiente, procurou uma mesa disponível ou pessoas conhecidas, e voltou a beber mais um gole ou dois goles da bebida gelada, quando conferiu às horas.
Ele estava sendo observado! Na sua frente, junto ao balcão havia varias mesas unidas e cobertas com toalhas brancas, e nas cadeiras estavam sentadas pessoas de uma grande, feliz e barulhenta família. Gente elegante e de tradição! Na cabeceira da mesa um senhor que mais parecia o chefe daquela família, bem vestido, olhava para o jovem vestido a rigor, ao mesmo tempo em que fazia comentários ao pé dos ouvidos de alguém. Aquilo perturbou o jovem, mas ele sabia muito bem qual era o motivo. Alguns copos depois, o senhor, fez um sinal convidando-o a sentar-se à sua mesa, junto à sua cadeira, desocupada intencionalmente, e foi logo perguntando porque estava usando aquele traje naquela hora e naquele lugar. O tímido rapaz então explicou que chegara da solenidade de sua formatura e que havia acabado de colar grau. O homem que ouviu a tudo atentamente pediu um minuto de atenção, e conclamou a todos que estavam à sua mesa que aplaudissem o “Doutor, que havia colado grau naquela noite”, no que foi imediatamente acompanhado com bastante entusiasmo. E continuou em auto e bom som: ''O Doutor essa noite esta por nossa conta!''. Mais uma vez todos aplaudiram euforicamente. E assim se sucedeu por toda a noite, madrugada e no dia seguinte até às quinze horas, quando a comitiva seguiu até o bairro da Ribeira e depois, passaram rapidamente pela Igreja do Bonfim, de onde decidiram levá-lo à sua residência. Todo o percurso foi seguido por uma caravana de carros novos, o jovem formado, encontrava-se no carro da frente, um Impala Vermelho, conversível, importado dos Estados Unidos da América, pertencente ao Senhor desconhecido. Finalmente em frente a casa, ele e o jovem, despediram-se, aquele misterioso patrocinador da farra, identificou-se: “Meu Jovem! Eu sou um ganhador da loteria esportiva”! Sou o mais novo milionário baiano, estávamos comemorando a minha sorte, todas aquelas pessoas são nossos parentes e alguns amigos. Apertaram as mãos, desejaram sucesso um ao outro, e nunca mais se reencontraram. Infelizmente, tempos depois, o jovem soube pela mídia televisada, que aquele Senhor, perdera toda a fortuna em negócios mau realizados.
Você acredita nessa história?
O UÍSQUE DOS FILHOS DE LOMANTO
(Escrito por Zé Leal)
Lomanto Jr. então Governador da Bahia, veio visitar Coaraci, e reuniu-se com correligionários na residência do prefeito Gildarte Galvão. Conversa pra lá, conversa pra cá, eu e Genilton de vez em quando, dávamos uma olhadela para matar a curiosidade. Mas, nossa missão era dar assistência aos filhos do Governador que acompanhavam a comitiva. Um deles era o Leur e o outro Lomantinho, ainda bem jovens. Num certo momento, mandaram pegar no carro um litro de uísque importado, e nos pediram que conseguíssemos água de côco. Logo, trouxemos um cacho de côco verde, fomos para o quintal da casa, nos juntamos aos dois e começamos a ajudá-los na difícil tarefa de consumir aquele líquido precioso. O primeiro litro foi liquidado rapidamente. Trouxeram o segundo, recomeçamos a difícil missão, e veio o chamado; vamos rápido que o Governador os espera. Deram um tchau, agradeceram o apoio e foram embora. Eu e Genilton ficamos surpresos, pois os filhos de Lomanto esqueceram o segundo litro de uísque quase cheio. Eu disse Genilton, e agora? Ele respondeu vamos continuar o sacrifício. Secamos o produto esquecido, rapidamente, e ainda sobraram alguns cocos que levei pra casa. Dona Zizita, minha mãe adorou o presente. Dia seguinte chega um telegrama do palácio do Governo, pedindo que enviássemos pelo correio o litro de uísque esquecido, aos cuidados de um assessor da governadoria. Respondemos que infelizmente o pedido não poderia ser atendido, pois não fomos orientados que teríamos que parar com a nossa missão, ainda que os visitantes fossem embora. E que se mandassem um terceiro litro, teríamos prazer em consumi-lo, para matar a saudade daquele encontro inesquecível. O palácio silenciou. Coisas da mocidade.
A HISTORIA DOS ILUSTRES IRMÃOS ANDRÉ E ANTONIO REBOUÇAS
Fonte: Livro Álbum de Família, Perfis e Genealogias.
Autor: José Antônio Formigli Rebouças
’’HOMENAGEM AO DIA 13 DE MAIO’’
Texto de PauloSNSantana
Vou transcrever aqui, uma parte do conteúdo do Livro ’’Álbum de Família, Perfis e Genealogias, do Autor e Pesquisador, Dr. José Antônio Formigli Rebouças’’, fatos que nos asseguram ter vindo para o Brasil na época do descobrimento, dois irmãos Rebouças, um deles com certeza se estabeleceu em Maragogipe onde teve numerosa descendência branca e negra, é aí que encontramos, por exemplo, Antônio Pereira Rebouças, de 1798 a 1880, filho de Gaspar Pereira Rebouças e de dona Rita Brasília dos Santos. Pelo nome já se vê que a mãe era negra, escrava provavelmente. Menino pobre aprendeu a ler e já rapazinho empregou-se em um cartório.
Tanto se familiarizou com os documentos e processos que passou a rábula, advogado sem formatura, como era frequente na época. Em 1846 obteve do parlamento o direito de advogar em todo o país. Tornou-se, depois, secretário do governo de Sergipe posteriormente foi deputado federal, representando a Bahia e Alagoas, tornou-se um grande amigo do Imperador Dom Pedro II, foi condecorado com a ordem de Cristo e tomou parte em grandes questões nacionais.
Seu maior galardão, entretanto foi ser o pai de outros grandes ilustres brasileiros do segundo império, André e Antônio Pinto Rebouças. André Rebouças de 1838 a 1898 é descrito por Joaquim Nabuco como um matemático, astrônomo, botânico, zoólogo, industrial e moralista higienista, filantropo, poeta, filósofo, dos homens nascidos no Brasil, o único universal pelo espírito e pelo coração. Fez seus estudos na antiga Escola Militar, depois Politécnica do Rio de Janeiro. Engenheiro Bacharel em Ciências Físicas e Matemática, foi sempre o primeiro aluno da classe, juntamente com seu irmão Antônio, completaram seus estudos na Europa, tendo ainda oportunidade de visitar os Estados Unidos. André como engenheiro deixou no Brasil obras de grande envergadura entre elas as docas do Rio de Janeiro.
Antônio Rebouças de 1839 a 1874 foi o idealizador e projetista da famosa estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá, seu traçado original era para Antonina cidade que deve seu nome ao grande engenheiro, mas interferências políticas da poderosa família Correia mudaram o porto para Paranaguá, respeitando-se, porém o traçado de Antônio na subida da serra após a decisão de uma comissão de engenheiros estrangeiros contratados pela firma concessionária, Cia. Generali du Chemin de Fér Brasilien.
Depois desse empreendimento Antônio lançou-se no projeto de uma estrada que deveria ligar Curitiba a Mato Grosso, nessa empreitada consumiu todos os seus bens e os de seu irmão André, e contraiu doença que o levou à morte.
André Rebouças em seu entusiasmo integrou as forças brasileiras que lutaram na guerra do Paraguai, traçou planos de combate e os apresentou ao Duque de Caxias. Por causa das intrigas políticas o valoroso contestável Caxias foi afastado do comando do exército brasileiro e dos campos de batalha, mas André Rebouças não parou de criticar a incompetência, a desorganização, e absoluta falta de higiene, ausência de planos táticos e estratégicos dos que ficaram no comando das operações. Depois de muitos reveses, como conta a história, finalmente foi entregue ao Duque de Caxias o comando das forças aliadas, e logo depois a guerra se decidiu contra o tirano paraguaio. Gravemente enfermo, André Rebouças voltou para o Rio de Janeiro.
André Rebouças foi um abolicionista importante e muito respeitado que muito escreveu e trabalhou para livrar os negros dos grilhões da escravatura, ele era também um grande amigo e admirador do Imperador Dom Pedro II. Mas a abolição da escravatura gerou muito desconforto para alguns políticos da época, André sentindo-se até certo ponto responsavel pelo descontentamento geral que se seguiu ao decreto da abolição, que culminou com a Proclamação da República, acompanhou o imperador D. Pedro II em seu exílio, seguindo juntos para Portugal. Após a morte de D. Pedro II na França, André foi para África, onde tentou trabalhar como engenheiro, mas voltou para a Ilha dos Açores, onde foi encontrado morto no mar, sem que se saiba até hoje se foi vítima de acidente ou suicídio...