
UMA CASA MAL ASSOMBRADA
De PauloSNSantana
Este fato aconteceu em 1982, em uma casa nas cercanias do Centro Social Urbano de Coaraci. Na época estávamos aqui minha esposa Teresinha, minha filha e eu. Ainda não havíamos nos estabelecido em uma casa adequada, pois aguardávamos os móveis que viriam de Salvador. Enquanto isso não acontecia, ficamos uns tempos no Hotel Guarapari, em casas de aluguel, até estabilizarmos a nossa vida, passou-se um bom tempo. Enquanto vivemos de aluguel sofremos muito, pois quando achávamos que tudo estava na mais completa normalidade o proprietário solicitava aumento ou a casa para alugar a outro. Em uma dessas situações, vendo o nosso sofrimento uma colega, já estabelecida na Cidade, que iria sair de férias e consequentemente viajar para sua cidade natal, nos emprestou sua casa, ficamos em um dos quartos, da casa que tinha um longo corredor, que passava por outro quarto também grande, uma sala de jantar, chegando à cozinha, que tinha uma porta dando acesso a um pequeno quintal. O banheiro ficava nos fundos da casa. Era uma casa fria, com piso de cimento vermelho, sem forro, e as telhas eram vistas, com suas falhas e entradas de luz. Dividíamos o ambiente com algumas baratas e ratos espertos, que só faziam suas investidas na escuridão da noite. Foram dias calmos, minha esposa era tranquila, e minha filha única até aquela época dividia seu tempo entre brincar, comer e dormir. Eu saía logo cedo e voltava apenas para o almoço, e à noite, após o jantar saiamos para conhecer a cidade pequena e acolhedora. Fazíamos algumas visitas e retornávamos cedo, é que ainda não tinha uma tv, muito menos som. Esperávamos a chegada de nossos moveis. Dormíamos cedo, ainda não havia a parafernália eletrônica dos dias atuais, computador e celulares nem em sonho.
Para falar com a família em Salvador, tínhamos que utilizar os orelhões ou central telefônica. As noites eram silenciosas e calmas.
O silencio era quebrado pelos cachorros latindo e gatos travando batalhas, disputando as fêmeas em cima do nosso telhado. Fazia muito frio, dormíamos em um colchonete no chão.
A casa era antiga, possuía portas grandes, com fechaduras enormes, e aqueles chavões, enferrujados. Havia trincos, as janelas também eram grandes e sem vidros, deixando a frieza entra sem pedir licença. Parecia um mausoléu. Uma geladeira. Naquela época chovia muito e fazia muito frio. Dormíamos enrolados em grossos cobertores de lã, juntos, para sentir o calor dos corpos, e assim enfrentar o frio.
Quando tínhamos que ir ao banheiro na madrugada era um problema sério, se fosse minha esposa eu tinha que acompanha-la e ficar esperando, se fosse eu, levantava devagar e silenciosamente para não acorda-las. Mas confesso que a caminhada até o tal banheiro não era para qualquer um. Andava no escuro, arrepiando-se a cada passo e sentia como se estivesse sendo seguido até a porta do sanitário. Arrepios, frieza, não era fácil.
Quando íamos os dois eu e minha esposa, era tranquilo, mas fazer aquele percurso solitariamente, não era para qualquer pessoa, principalmente se fosse impressionada e tivesse medo do sobrenatural. Os ratos eram os vizinhos mais barulhentos, mexiam nas panelas, no fogão, derrubavam coisas, mexiam no lixo, atrás de alimentos frescos. Os grilos faziam aquele barulho. O movimento na rua cessava às dez horas. Apenas no final de semana ouvíamos pessoas passando até às três da manhã.
Dizem que as sextas-feiras são misteriosas e que guardam muitos segredos do além.
Que as almas gostam de perambular pelas ruas em busca de corpos quentes, e que os antigos moradores pedem permissão para visitarem suas antigas casas para observar se os novos donos estão cuidando do patrimônio.
E foi justamente em uma dessas sextas feiras, que fomos receptores de uma dessas visitas noturnas. Era uma noite quente de verão, silenciosa como um túmulo, apenas o vento soprava nos nossos ouvidos, aquela canção de ninar misteriosa. Dormíamos bem, aconchegados, éramos jovens e revolucionários, e aquela vida era apenas o começo para nossa pequena família. Um investimento para um futuro melhor. Naquela noite em especial estávamos cansados, pois tinha sido um dia difícil, saímos para lanchar, e as dez horas já estávamos deitados. Pegamos logo no sono.
Três horas da manhã, era um horário das visitas do além, aluguem me disse que meia noite e três horas eram os horários que deveríamos respeitar mais. Acordei com um barulho estranho que vinha da cozinha, lá dos fundos da casa.
Abri os olhos, mais não adiantou muito, pois estávamos em um escuro absoluto. Minha esposa dormia um sono pesado e minha filha como anjo. Mais o barulho se repetia, mais e mais e mais. Fiquei preocupado. Imaginando coisas: - Será que era algum ladrão? Ratos? As panelas de alumínio caíram com muita força, fazendo muito barulho, sabe como é alumínio no chão. Mas o silencio voltou a reinar.
Achei que eram os ratos e deixei pra lá. Mas aí... Ouvi passos, lentos e firmes vindos da cozinha, arrastando chinelos, daqueles de sola de couro, eu acho, passos lentos que pararam frente à porta vizinha ao nosso quarto, alguns segundos depois os passos seguiram em direção ao nosso quarto, passos lentos e firmes, poderiam ser de um velho, uma velha senhora, não eram passos de ladrão tenso ou ansioso, e sim de um ser calmo e tranquilo. Passo a passo, parou bem em frente a nossa porta. E ali permaneceu...
Minha esposa e filha dormiam, eu estava agitado, o coração disparado, a respiração era barulhenta e forte. Não possuíamos armas! Como eu iria enfrentar um desconhecido naquela altura do campeonato? E se houvessem mais pessoas ali? Silencio total. Mas quem quer que fosse ainda estava parado ali bem em nossa frente e na nossa porta, separado apenas por ela, frágil, e surrada pelo tempo. Resolvi então acordar minha esposa, com muito jeito para não assustá-la. Eu tinha que tomar uma decisão rápida e certeira e não queria deixa-la desprotegida. Tive então a ideia de levantar e averiguar o que ocorria lá fora. Era perigoso sim, mas não podia ficar esperando o amanhecer sem fazer alguma coisa. Chamei então minha esposa. Quando ela acordou e me perguntou o que era, falei alto, para quem estivesse lá fora ouvisse. -Me da o revolver aí, agora. -Uma técnica usada para assustar ladrão;-Mas a minha esposa retrucou:-Que revolver? Tá sonhando?-Eu apertei seu braço, e apontei para a porta. -Ela então respondeu: Há esta aqui, ta aqui!
Eu então como um gato, pulei, meti a mão na chave, e finalmente abri a porta! Mas não aconteceu nada...
Não havia ninguém, nem panelas no chão, nem chinelos, nem almas, nem ladrão, apenas eu ali, assustado, e sozinho. Acredite se quiser!
’’SUSPEITO OU LADRÃO?’’
Texto de PauloSNSantana
Valmir era tropeiro. No Garganta, haviam quatro armazéns de Cacau, mas como não havia espaço para todo cacau colhido, eles traziam para Coaraci. Para isso davam duas viagens por dia. Em um dia quente no verão ele vinha montado conduzindo uma tropa de animais carregados, quando avistou ao longe, o Delegado Philófio Pinto, seu Filho e mais um soldado viajando conduzindo um homem amarrado. Parou o lote de animais, na margem da pista, e perguntou:- Qual era a finalidade daquilo? O delegado respondeu, que era um ladrão de cacau. Então Valmir perguntou ao delegado se tinha pegado ele roubando? O Delegado disse que não, que era apenas um suspeito. Valmir irritado gritou: - Se o senhor não pode afirmar que o homem é ladrão, não vai levar ele assim amarrado. Eu vou cortar as cordas, e quero ver qual é o corno e filho da pu.. que é macho para impedir. Puxou um parabélo e um revolver da cintura, pegou o facão amolado e cortou as cordas todas. E assim se sucedeu. Soube que depois o Delegado foi exonerado junto com o soldado. Acredite se quiser!
UM JOGO INESQUECÍVEL
12 de dezembro de 1972
De. Nilo Bonina
Aniversário da Nossa Cidade, e como presente para abrilhantar a nossa festa, foi convidado o Itabuna Esporte Clube para enfrentar a seleção local: Dai então passou a ser o primeiro time profissional da Bahia a jogar na nossa Cidade.
O Itabuna estava cheio de moral, pois tinha disputado a decisão do campeonato baiano de 1970 com o esporte clube Bahia, ficando com o vice-campeonato.
Como nosso campo não era murado, evidentemente não tínhamos estádio. Foi exigido pela diretoria do Itabuna um grande reforço policial, pois o nosso policiamento era competente. Mas não tínhamos número suficiente para darmos total segurança aos jogadores e ao público em geral. A cidade ficou perplexa quando da chegada do aparato policial vindo da cidade de Ilhéus.
Ilhéus, pois naquela época, o comando militar da nossa região, e a correcional das delegacias, tinham suas bases na bela cidade das praias.
Quando menos esperávamos, eis que adentra na cidade um verdadeiro pelotão bem disciplinado, e muito bem armado, composto por trinta e três homens da melhor qualidade do batalhão da policia militar de Ilhéus. O engraçado foi a correria para o almoço da tropa e seus acompanhantes, pois não foi avisado o horário da chegada dos mesmos. Aguardava mais ou menos duas horas antes do jogo; Daí começou a correria, pois tinha que providenciar o almoço e a estadia para os policiais; Os mesmos chegaram às onze horas e o Prefeito e sua equipe já estava na missão da recepção para a comitiva do Itabuna, que foi no total de quarenta e nove pessoas.
No final deu tudo certo, pois tínhamos na cidade poucos hotéis e restaurantes simples, mais com uma comida de alta qualidade. Jamais me esquecerei de D. Biziu, Dona Rosa, Dona Edelzuíta, Dona Maria Anita, e o velho Bexiguinha. Com essa equipe, ninguém passava vergonha. Que saudades...
Já os torcedores estavam ansiosos para saber qual seria o árbitro do grande evento.
O detalhe, é que, no campeonato da nossa cidade, tínhamos um cidadão que colaborava com o nosso esporte e de quando em vez era escalado para apitar algumas partidas. Interessante era que o mesmo não usava uniforme. Tinha que ser traje social, e sapatos de cor preta. Daí vem à revelação, da qual eu cansei de presenciar, acredite quem quiser. Por baixo dessa roupa social, presa na sua cueca, uma capa Pat-sol e dentro da mesma um revolver Smith Weston, calibre trina e oito. Era um árbitro que quando pegava no apito, se transformava, ''literalmente''. Quando algum torcedor discordava da sua marcação e soltava um palavrão, ele parava o jogo e de dedo em riste ia à direção da torcida, em voz alta bradava: ''esse fila da p... que xingou, vem aqui na minha frente se for homem''. Nessa hora não tinha homem. O povão dava risada, alguns assobios, e ele cafungando reiniciava o jogo. Ah, uma das pessoas que conhece bem essas histórias e participava muito do esporte de Coaraci, ainda está entre nós, é o meu amigo Valmir Negrão. Tínhamos outro árbitro que fazia parte do nosso esporte, só que não usava roupas sociais, era uniforme mesmo. Quando estava em ação, não deixava de usar por dentro de seu calção um objeto perfuro cortante, com uma bonita bainha de sola. Não me lembro do nome do cidadão. Mas sei que ele sempre gostava de atuar com um bonito calção azul; Eles não trabalharam nesse jogo.
Chegamos para o jogo e mais uma surpresa para a nossa torcida. O nosso uniforme era vermelho e preto, e foi cedido pelo Alberto Aziz.
O motivo era que o Itabuna tinha as mesmas cores do nosso uniforme e não trouxeram uniformes reserva.
Começa o jogo e o Itabuna com a maior pose, falaram para nós não chagarmos junto, pois eram profissionais e não queriam voltar com nenhuma baixa. Eles tinham um time muito bom, com jogadores competentes como Americano, Ailton, Caxinguelê, Serjão, Luizinho, Perivaldo, além de Melosa e Maurício que vieram do Rio de Janeiro, do Bangu.
Não esquecendo que desse grupo Perivaldo atuou pelo Bahia, Botafogo Carioca, chegando a seleção brasileira. Interessante era que eles falavam que ia nos dar um chocolate, fazendo gozação comigo, pois muitos deles eram velhos conhecidos meus, desde o tempo quando fazia parte daquele grupo, na famosa desportiva itabunense. Não sabiam eles que aqui em Coaraci, só iam encontrar feras, jogadores de muita raça, dedicação e acima de tudo defendíamos as cores da nossa cidade com muita honra e amor à camisa e sem receber salário para isso.
Pegamos o Itabuna, colocamos na roda, começamos a mostrar que aqui sempre foi um celeiro de craques; Aí eles viram quem tomou o chocolate!
A nossa torcida fez aquela desta, a noite um belo jantar no saudoso clube dos bancários com uma grande confraternização com diretores, políticos, torcedores e muitos boleiros.
Desta data em diante, começaram a ter mais respeito com o futebol de Coaraci, que continua a revelar jogadores de alto nível técnico.
Neste jogo os jogadores que atuaram pela seleção foram: Jacson, Massa Bruta, Boginho, Hamilton Quebra Banca, Jorge Bode Rouco, Nego Mita, Josemar, Zé Donato, Luís de Deus, Milton Satanás, Zé do Índio, Toinho, Nilo, Detinho, e Nego Rose.
Dos jogos que participei pela seleção de Coaraci, esse foi um jogo inesquecível.
O BURRO FUJÃO
Texto adaptado por PauloSNSantana
O velho Vicente descontrolou-se, pois não conseguia encontrar seu burro onde por muito tempo costumava deixá-lo. Percorreu as ruas do povoado, perguntando a tantos quantos encontrava pelo caminho, e nenhuma resposta era positiva! Continuou na busca pelas ruas e arredores do povoado e nada. Voltou então para roça, cansado, e sem o seu burro fujão, companheiro de muitos anos. Precisava voltar, mesmo sem ele, pois tinha que levar os mantimentos para sua mulher e filhos. Na estrada dois quilômetros depois encontrou um homem que usava um chapéu de palha, e perguntou se não tinha visto um burro, animal de idade avançada e com caçoas nas costas.
-O estranho perguntou se o animal tinha pelo-de-rato!
-Vicente respondeu que sim! Que realmente ele tinha pelo-de-rato!
-O homem perguntou se estava faltando uma ferradura na pata dianteira esquerda! E arrastando uma ponta de cabresto pelo chão! Sim, respondeu seu Sr. Vicente. Que realmente o animal estava sem a ferradura na pata dianteira e o cabresto deve ter-se rompido!
-O homem então perguntou se o burro estava com dois velhos caçoas sobre a cangalha. O Sr. Vicente mais uma vez confirmou, dizendo que eram dois caçoas velhos. E que pelo jeito era o seu burro mesmo.
-Então o homem perguntou se o burro era cego do olho direito. O velho Vicente já bastante esperançoso respondeu que sim, que o burro não enxergava bem do olho direito, que era mesmo o seu burro. O homem misterioso então se calou.
Sr. Vicente perguntou mais uma vez, se ele sabia onde estava o animal? O estranho respondeu que não tinha visto, não! Vicente, um velho já cansado de guerra, com fome e preocupado, ficou com tanta raiva do estranho, que virou as costas pro miserável, e continuou a sua triste caminha pensativo, para roça. Como era possível o estranho saber tanto do animal e não ter visto? O fato é que o desconhecido viu o burro sim, e tentou roubá-lo, mas o burro, esperto, saiu em carreira desabalada em direção a roça de Vicente.
Uma légua depois Vicente encontrou um vizinho, amigo e compadre, Libório, e passou a relatar os acontecimentos e seu desapontamento com aquela situação. Libório pediu calma ao Sr. Vicente, e disse que talvez o homem tivesse visto mesmo o animá. Senão, como acertaria todos os problema do animá? Que acertou quando disse que tinha pelo de rato, faltava uma ferradura, era cego do olho direito, que o animá tava com caçoa véi. Podia inté tê visto mesmo! Um longo silencio se fez! Até que Libório disse: Fiquei precupado, quando vi o burro chegar sozim na roça e sem o senhor cumpade.
-Vicente deu um pulo e perguntou:
-O que cumpade?
-Como é cumpade? O burro voltou sozim? O cumpadi acenou sorrindo, que sim.
Vicente sentou-se no chão, respirou profundamente, tranquilizou-se, fez uma cigarrilha de palha, deu boas baforadas, depois uma boa risada da situação, e balançou a cabeça; Levantou-se então, carregou o saco com os mantimentos, jogou nas costas, despediu-se do vizinho e continuou viagem para casa. Depois daquela data, nunca mais deixou seu ''burro'', sem antes amarrá-lo em lugar seguro.
Fonte Coaraci Ultimo Sopro
A PASSARELA DO GARGANTA
Fonte Livro Coaraci Ultimo Sopro
De. Enock Dias Cerqueira
Texto adaptado por PauloSNSantana
Aconteceu em São Roque, conhecida antigamente como o Garganta. O Prefeito na época era o Sr. Aristides de Oliveira. Era um dia festivo, dia de inauguração, a população local estava eufórica, as crianças corriam pelas ruas, os bares estavam cheios, as mulheres desfilavam sua beleza, os homens com seus ternos de linho branco, todos aguardavam a chegada das autoridades para inauguração da passarela de São Roque. O Padre estava presente, o Juiz, o Advogado, policiais e Delegado, Vereadores, Professores, filarmônica, uma festança politica. Parecia até dia de eleição. Vez por outra soltavam rojões. Os moradores estavam satisfeitos pois foram atendidos pelo Prefeito Aristides. Era a primeira obra de Aristides, fora de Coaraci. Muitos visitantes estavam lá para prestigiar o evento. O Sr. Manoel Ribeiro também. Todo mundo falando da tal inauguração da passarela, e aquele nome passarela ficou em sua mente. Ele sabia que seria bom para a comunidade e empolgado, queria agradecer em nome de todos. Lá pelas tantas! Subiu no palanque e pediu a palavra, então começou a falar e a soltar algumas bobagens sem nexo, entre agradecimentos e elogios, no final, falou a seguinte pérola: ''Sr. Aristides, sentimos honrados pela construção dessa passarela, que veio para atender os anseios dos pederastas do Garganta''. Sei que estão todos felizes e em nome deles agradeço de coração pela obra. O povo não entendeu nada, muita gente não sabia o que era aquela palavra, inclusive quem a pronunciou, muita gente que sabia o que era sorriu gargalhadas, e surpresas a parte, o seu Manoel queria dizer PEDESTRES e não PEDERASTAS, mas com certeza a categoria sentiu-se prestigiada, naquele tempo em que era melhor morrer que ser um deles.
COMPANHIA INESPERADA!
De PauloSNSantana
Rodolfo gostava de viajar, não havia hora ou dia que o impedisse de atravessar as estradas deste pais, levando e trazendo mercadorias para serem comercializadas, no nordeste. As viagens eram longas, passava até trinta dias na estrada. Intempestivo, e destemido não abandonava uma boa discussão, gostava de conversar, e nas horas de folga, jogava futebol e bebia cervejas com amigos. Disciplinado não usava arrebites. Levava dinheiro para manutenção do veiculo, alimentação e para os guardas rodoviários. Conhecia quase todos os caminhoneiros que rodavam nas estradas nordestinas. Costumava parar para jantar no Posto Jaguar, a 240 km de Petrolina, quando estava na região. Nas reuniões com amigos conversava sobre mulheres, trabalho, mecânica, fretes, pedágio, e propinas, acidentes e o cotidiano nas estradas.
Havia muito humor, tristezas e nostalgia na sua vida. Rodolfo, dizia não ter medo de nada, nem mesmo de assombração, que não acreditava em historias da carochinha.
Dormia na boleia do caminhão. Acordava cedo, ligava o motor, revisava a máquina e após um café, era pé na estrada.
Desta vez Rodolfo estava viajando pelas longas e cansativas estradas do Piauí, transportava uma carga de eletrodomésticos.
Já havia rodado muito, quase 12 horas dirigindo sem dormir, para ganhar algum tempo, o relógio marcada 20 horas, a estrada estava molhada, caía uma garoa, fazia muito frio e a estrada estava deserta, ainda faltavam 100 quilômetros para Picos.
Avistou um vulto branco, ha mais ou menos um quilômetro. Quando chegou mais perto constatou que era uma mulher dando sinal para parar, pedia carona. Ficou assustado.
O que aquela mulher estava fazendo ali, naquela estrada deserta, naquela hora?
Mas mesmo assim parou o caminhão, mas antes, deu uma boa olhada, e observou que não havia mais alguém a Parou o veiculo ha uns 10 metros da desconhecida, que veio andando calmamente ate a boleia do caminhão. Solicitou carona até o posto Dois Irmãos, disse ao motorista que era perto dali uns 20 quilômetros. Rodolfo mandou que entrasse, e após cumprimentá-la perguntou o que fazia naquele local deserto, sozinha, naquela hora? A desconhecida silenciou alguns segundos, e respondeu que estava procurando o filho e o esposo acidentados, que houve um acidente, que ela desmaiou que levaram eles e a deixaram-na ali, mas que estava seguindo ao encontro deles, que no posto tinha conhecidos que a levariam para casa.
Rodolfo estava cada vez mais assustado com a história fantástica da mulher, não havia sinais de acidentes no local e ela não tinha aparência de acidentada, nem um arranhão, e o carro onde estava? Rodolfo estava confuso, achou que na boleia do seu caminhão estava uma doida qualquer, embora a moça fosse bonita, cabelos lisos e penteados. Resolveu ligar o som, mas o aparelho não funcionou, um aparelho relativamente novo, deixou de funcionar misteriosamente.
Resolveu perguntar o nome dela. Clarisse! Respondeu com um bonito sorriso. Rodolfo puxou conversa, falaram da família, dos amigos e das estradas perigosas, e assim viajaram 19 quilômetros; faltava apenas 01 km para tal posto, quando repentinamente a mulher misteriosa, pediu que ele parasse que iria descer ali mesmo, onde amigos a apanhariam mais tarde. Rodolfo insistiu em levá-la até o posto, mesmo porque não havia viva alma naquele lugar. Ela exigiu que parasse ali, que agradecia muito, que Deus iria confortá-lo, e protege-lo pela bondade. Disse que ele era um bom homem, e fez um pedido:
-Quando chegares ao Posto Dois Irmãos, diga ao frentista, que me trouxe até aqui, e que estou procurando meu marido e filho. Disse também que o frentista a conhecia. Desceu do caminhão, e desapareceu na escuridão. Rodolfo olhou pelo retrovisor e não ha viu mais! Seguiu viagem, muito assustado! O radio voltou a funcionar misteriosamente, ele viu ao longe a iluminação do posto. Ficou calmo. Quando chegou no posto estacionou o caminhão junto a uma das duas bombas existentes, travou a máquina, desceu e foi ao encontro do frentista cumprimentando-o:
-Boa noite amigo;
O frentista respondeu:
-Boa noite, em que posso servir o senhor?
-Dei uma carona a uns 20 km daqui para Clarisse, ela desceu a um quilômetro e pediu para te dizer que ainda esta procurando pelo marido e pelo filho. Que você a conheceu. O frentista ficou assustado e pálido e perguntou a Rodolfo se ele não estava brincando. Rodolfo retrucou:
-Eu tenho cara de bobo, meu amigo! Estou cansado e com fome, e você acha que estou de brincadeira?
O frentista então falou para Rodolfo:
-Amigo essa Clarisse é bonita, cabelos lisos e estava usando roupas brancas?
-Rodolfo respondeu que sim.
O frentista, assustado, disse então pra Rodolfo:
-Você transportou um fantasma, amigo!
Rodolfo, apavorado, arguiu:
-Como? O frentista passou então a dizer:
-Aquela mulher morreu na semana passada, em um acidente violento, o marido e o filho salvaram-se por pouco, mas ambos estão em coma. Rodolfo ficou estupefato, surpreso, e incrédulo. Passou as mãos sobre a cabeça! Não era possível, ele havia conversado com a mulher.
O frentista disse que aquela historia já havia acontecido com outros caminhoneiros. Que Rodolfo deveria rezar pela alma da mulher.
Disse que no dia do acidente socorreu todos os acidentados, mas que a mulher, a tal Clarisse antes de morrer perguntou pelos familiares e pediu para ele rezar uma missa para sua alma, que Rodolfo foi escolhido por ela e que deveria fazer o mesmo, senão poderia ser vitimado por algum acidente sério. Será que Rodolfo atendeu ao chamado? Mandou rezar uma missa? Acredite se quiser.
O COMUNISTA
Eu fui lá no Cardiopulmonar olhar a caixa dos peitos e pedir ao nosso querido Antonio Carlos para dar uma escutada nessas vias aéreas castigada anos seguidos e irresponsáveis (confesso-o) pelos vapores do álcool e a fumaça daninha do venenoso cigarro. Faz como eu gente! Deixa de fumar e de beber. Melhor nem começar! Porque? Do meu time só tem eu de há muitos anos. Cuidado! Você pode não ser um único eu!...Com sinceridade. Não quero ser como o caso de Jurguta:” Satanás pregando quaresma. ”Lá no consultório do Dr. Antonio Carlos Moreira de Lemos (aqui, nada de apelidos) Lembrei do pai dele meu velho amigo: Helvécio Lemos era (ao que se sabia) o único comunista de Coaraci. COMUNISTA???!!!
De boca pequena o povo comentava. Cuidado! Cuidado com eles! Se “eles” ganharem, vai todo mundo preso e depois some todo mundo e ninguém dá noticias. Assim, no espaço num falhar de olhos, “eles” dão fim ás pessoas, aos adversários. Não fica ninguém. Você viu com foi lá na Rússia? E o “criminoso” do Fidel Castro? È preciso ter muito cuidado.
Helvécio era tido como inteligente, lido e conhecedor profundo dos princípios do governo do povo pelo povo. Conhecia o manifesto de Prestes e dizia até que conhecia profundamente o famoso e difícil “Das Kapital” (não é assim?) Marx para ela era o gibi! Um perigo na cidade.
Mas aquele meu amigão capitalista, fazendeiro, próspero comerciante, dono de uma das maiores lojas do comércio de Coaraci, tomou um dia umas pitangas no Bar novo Mundo do amigão João Reis e se abriu, declarando aos quatro ventos: - eu também sou cumunista! Aqui em Coaraci são dois eu e Helvécio. Dizem as más línguas que o desabafo do álcool era por que todo comunista (olha ai o Helvécio!) era inteligente e culto como o Carlos Mariguela, Jorge Amado para citar só dois. Mas fulano? Nunca soube que ele voltou no partidão. Que nada rapaz! Deve ter sido “ela” lá no bar de João.
O povo já dizia até onde seria o “Campo de concentração” em Coaraci, ia ser no campo de futebol. Quem fosse condenado ( ou escolhido?)era preso ali e de lá ninguém mais dava noticia. E todo mundo ia perder tudo. Fazendeiro de cacau e proprietário de qualquer coisa nunca mais. Ia tudo para governo. E viria gente de fora para dirigir as propriedades. E Helvécio lá em cima!
E o inacreditável do futebol clube é que houve a eleição e depois dela o novo comunista disse lá no bar, tomando as suas pequenininhas, de peito cheio: Eu votei foi em Ademar de Barros!! Só ele pode salvar o nosso Brasil! Pouco depois estabeleceu-se em Coaraci o verdadeiro PARTIDÃO. E parece até que foi fundada uma célula pelos novos e ferrenhos adeptos com o nome modificado como se mandava fazer. Deles destacamos os apelidos “Jacaré e China” e mais uma nova Oriunda do jornal “ O Momento”, aquele de Mariguela e Giocondo Dias a dona Vitória que se dizia apenas “ simpatizante”. Os novos Comunistas não votaram em Ademar de Barros ou Antonio Carlos Magalhães
Por Eldebrando Moraes Pires
CAMPO DO EXU
De PauloSNSantana
Não sei se os leitores sabem, mas o Centro Social Urbano Nossa Senhora de Lourdes, foi construído sobre o campo do exu, lugar de despachos de umbanda e candomblé, ali à noite ninguém pisava sem antes apelar para todos os caboclos protetores, fechar o corpo, ou então se estivesse muito doido ou bastante bêbado para circular à noite naquele local.
Havia muita movimentação noturna ali, tal o numero de camisinhas que encontrávamos durante a limpeza da área.
Aquele local foi escolhido, contra previsões funestas dos adeptos da seita. Hoje as pessoas perderam o medo, até esqueceram desse particular. Ouvi muitas estórias do campo do exu. Às vezes sentia a carga negativa daquele lugar, era esquisito mesmo.
Trabalharam na portaria, Sr. Salvador, o falecido amigo Domingos e o Sr. José Lourenço, este último um cara espiritualizado, vidente e crente dos cultos espirituais. Eu conversava sempre com os três, o Salvador sempre foi Testemunha de Jeová, homem da bíblia, radical nas suas convicções.
O Sr. Domingos, da Igreja Batista. José Lourenço era calmo, estável, centrado, vivia com Dona Maria e tinham um casal de crianças, tímidas e muito bem educadas.
Era um homem simples, usava roupas simples e andava sempre de sandálias havaianas. Educado, falava baixo, e não gostava de discussões.
Havia muitas dificuldades no relacionamento entre as pessoas que trabalhavam e circulavam naquelas dependências, não sei se com influencia ou não de exu. Para conseguir manter a disciplina, e organização enfrentei exu com uma vara bem curta. Nunca fiz contatos sobrenaturais quando estava trabalhando lá.
Mas nunca entrava sem me benzer primeiro! Nunca fui cooptado por entidades diabólicas. Bem que tentaram! Mas José Lourenço sim, esse sentia na pele o terror do campo do exu. O Sr. Domingos, não se separava da sua bíblia. Já chegava ao trabalho com ela nas mãos.
A portaria do CSU é até hoje um espaço pequeno frio e desguarnecido não oferecendo segurança alguma para os vigilantes
O relato mais impressionante que ouvi das aparições de exú na área do CSU, fora feita pelo Sr. José Lourenço. Ele não costumava falar muito, e não mentia. Uma vez perguntei se ouviu ou viu alguma coisa estranha provocada por entidades malignas do campo do exu?
Ele começou falando que pretendia sair daquele local de trabalho, tão logo fosse possível, e que seus protetores espirituais estavam cuidando para que em breve fosse embora, que ele estava mal, todas as noites recebia a visita de entidades terríveis. Perguntei o que ele viu?
-Ele fez silencio, depois disse que não podia falar sobre o assunto, porque era médio vidente, e corria riscos de receber uma entidade dessas, que daria trabalho para expulsar do corpo!
- Mais continuou:
-Disse que estava na portaria, era meia noite e meia, as ruas estavam desertas, as luzes do CSU apagadas, fazia silencio, que nenhum carro passou mais, que o guarda noturno estava longe, mas ainda conseguia ouvir seus apitos. Fumava um cigarrinho de palha para afastar o frio, enrolado na capa de frio, com o radio de pilha, baixinho, atento a qualquer ruído estranho, quando ouviu um barulho parecido com cascos de um animal, um boi, arrastando no chão, atrás da parede da portaria pelo lado de fora. Os cascos arrastavam com força, parecia um animal grande, fazia um ruído assustador, depois um gemido ,que foi aumentando, parecia que estava ferido, eram mugidos e aumentavam, o chão tremia e que ele ficou apavorado, tremia todo o corpo, se quisesse falar não conseguiria, o queixo estava tremendo! O clima mudou de gelado, para quente! Disse que olhou pelo canto da parede, e viu que alguma coisa queimava do outro lado. Pensou em sair correndo, mas teve medo. Então apelou as caboclas Sete Penas, elas vieram logo pedindo a oração de São Sebastião.
Rezou, trocou as palavras, esqueceu algumas, repetiu, mas atrás da parede havia mais falas, falavam coisas estranhas os cascos continuavam arrastando com força no chão.
Ele chamou então o Caboclo Cabeça de Prego aí ouviu mais um gemido aterrorizante. Acalmou-se, recobrou as forças, a respiração voltou ao normal, a temperatura esquentou, levantou-se devagar, olhou e viu no campo de futebol um vulto com capa vermelha, rodopiando.
Pegou o radio, a capa, o facão e foi correndo para dentro do CSU, e lá ficou até o dia raia.
O Sr. José Lourenço me disse que quando contou aos colegas, eles disseram que era besteira!
Aconteceu sim, no campo do exu! O Sr. José Lourenço pouco tempo depois pediu demissão voluntária. E você? O que faria? Se encontrasse com Exu? Duvidaria de José?
Acredite Se Quiser.