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UMA OVELHA QUE NÃO CHEGOU A SER TRAPEZISTA

 

Do Coaraciense Madeirarte SP-BR.

 

O Circo Nerino tinha voltado em Coaraci, depois de ter dado uma longa volta pela Bahia e Minas Gerais, em 1956, mais não era mais o mesmo da primeira vez, já tinha entrado em decadência, mais ainda tinha algumas atrações, tinha no seu Palhaço Picolino a sua maior atração. Eu estava em casa chegou o Quinda: meu grande amigo de infância, era demais para mim: foi chegando e falando e  quase gritando: - Flavinho! Dono do Circo, o seu Caitano  quer compra um carneirinho. O nome do home era Gaitan, mais agente chamava Caitano, agente não sabia chamar Gaitan. Fiquei super agitado com aquilo pra mim era a gloria, o auge, o máximo. Minha carneirinha ia virar  atração de circo, e ainda do circo Nerino? Era  demais para mim, vamos lá agora, e saímos em disparada com destino ao circo, chegamos lá o Quinda na frente, pra procurar o homem. Quinda era aquele menino cuja mãe sabia ler, e nós tínhamos a maior inveja disso, porque a mãe dele era negra e sabia ler e juntava até gente para ouvir ela ler as literaturas de Cordéis.  A minha não sabia a leitura não. Eu o segui, até que ele viu o homem lá nos fundos arrumando algumas coisas, chegamos perto e o Quinda disse pra ele: - Esse é o menino que tem a carneirinho que vocês estão querendo. O Sr. Gaitan falou pra mim com uma fala que não dava pra intender, é que ele tinha severa perca de voz, mas chamou um daqueles da família que eu não fiquei sabendo quem era, se era o próprio Picolino ou não, que falou: - é você que tem o carneirinho? Eu disse é: - quanto você quer no bichinho? Eu falei: - não sei! Quanto o senhor dá? - Ele falou o carneiro é seu? Eu falei: - não é carneiro é uma fêmea, ficamos ali resolvendo sobre o preço, tomei coragem e perguntei: - pra que vocês querem a bichinha? É pra ensinar? Ela vai ser artista? Ele disse não. É pra nós comermos uma buchada dela amanhã. Sai dali na maior disparada como se diz cantando pneus. Pra mim foi uma das maiores decepções da minha vida de criança, minha carneirinha é que eles jamais iam comer mesmo eles sendo um povo do Circo Nerino. Cheguei à minha casa muito decepcionado afinal eu já estava vendo minha carneirinha fazendo números de adestramento igual ou melhor que os cachorrinhos que tinha lá no circo, que subia numa rampa e pulavam lá de cima numa rede esticada. Junto com esses pensamentos eu falava vou vender bem cara, porque ela vai ser artista de circo, vai se salvar de morrer, da outra vez que o circo passar por aqui, ela vai estar muito grande. E esse desgraçado vem dizer que é pra comer a buchada dela, nem pensar, e assim minha  bichinha cresceu  e teve o  mesmo destino de todos os de seu gênero, quando eu deixei o circo, só escutava as gargalhadas daqueles homens sem coração, que por pouco não comeram minha carneirinha, se eu não perguntasse pra que eles queriam ela, já era, foi Deus que me deu coragem pra perguntar: - o que vocês vão fazer com ela? Eu que tinha traçado um grande futuro pra ela naquele maravilhoso ''Circo Nerino'' que foi tão importante na minha vida e ia ser muito mais se eles tivessem levado minha ovelhinha ''carneirinha'' pra ser artista como os outros bichinhos que tinha lá. 

 

''UM CINEMA UMA PONTE E UMA  ASSOMBRAÇÃO''

 

Embora pequeno ainda, com pouca idade, cabeça grande e feio, descobri o cinema logo cedo.

Para mim o cinema era mágico,  um mundo novo, tudo que minha mente precisava para se desenvolver: Maldade, bondade, crueldade, justiça, prisão, castigo, generosidade, o bem sempre vencendo o mau e a minha personalidade sem eu perceber ia moldando-se ali na geral do cinema Coaraci.

Na década de 50 eu já caminhava nas ruas escuras de Coaraci, com meus 09, 10 anos de idade, passava pela praça quase vazia, via alguns vagabundos  conversando, uns contando as vantagens do dia, passava pela ponte e ouvia correnteza do rio fazendo um barulhinho que era percebido de longe, as águas faziam aquele barulho gostoso, amplificado pelo silencio da noite calma, ainda hoje tenho gravado na mente e ouço aquele barulho de água correndo por baixo da ponte, depois passava pela Rua do Campo, ainda bem agitada naquela hora. Lembro-me das histórias de assombração que “Tonho” contava, do vulto sentado na pedra que tinha na frente do cemitério, por vezes parecia ouvir passos a traz de mim, ai eu aumentava os passos até chegar em casa, minha mãe sempre ficava muito brava, mais parecia entender as necessidades da vida de um pobre menino. Em frente de casa estava soberano o pé de Tambori, com seus milhares de parasitas, extraindo dele a  vida pra si. Voltei anos mais tarde e não encontrei mais nada, nem cinema, nem o barracão de madeira, onde seu Tavinho fabricava tamancos, nem pé de Tambori. Mais a nossa antiga casa esta lá no mesmo lugar com aquele jeitinho, uma casa de “platibanda” como era conhecido àquele modelo de casa. Observei que o lugar onde meu irmão tinha uma criação de grilos não estava mais lá, era o quintal de nossa casa, novas construções apagaram o passado.

A vida das pessoas daquela época era muito movimentada, a pessoa tava assim, dava uma vontade de ir ao rio pra pescar, alguns tinham tarrafa, pegavam e iam tarrafear, dai a pouco voltava com um monte de peixes, alguns ainda vivos. A vida da gente era assim como o lema dos três mosquiteiros, um por todos e todos por um, fazíamos tudo pra trazer uma comidinha pra casa, e trazíamos.

Lembro-me do Evilazio que vivia no rio pescando o tempo todo, era um grande lutador, apesar de ser franzino, o mais franzino de todos nós, pegava uma varinha de pescar, usava sempre um chapéu de couro, e sumia rio a baixo ou rio a cima e só voltava com sua enfieirinha cheia de peixe, ele adorava fazer isso, depois se mudou pra São Paulo com o resto da família, e se enfincou no trabalho, por conta própria até morrer em 2011 com uma meningite. O Evilazio era desses meninos muito interesseiros, mas gostava muito de trabalhar, era um leão pra trabalhar, pau pra toda obra, mais nunca foi empregado de ninguém, trabalhava por conta própria, como o mais velho eu o admirava muito, e sofria silenciosamente quando o via lutando naquela pequena granja, sem progredir em nada. Saia ano entrava ano e ele ali estacionado, e a idade chegando. Ele não conseguiu voltar pra terra dele, onde ele passava a vida, na beira do rio pescando, meu Deus, meu coração doe só de lembrar-me dessas coisas. Esteja com Deus meu irmão.

Voltando  à infância nas ruas da pequena Coaraci, lá existia uma senhora muito linda que se chamava “Liberdade”. A minha cabeça era povoada por um monte de mitos, Os monstros das histórias de Trancoso que minha mãe contava, dos Negros D’agua que viviam nos rios e lagos da região, histórias do “Saci Pererê, da Caipora, histórias de Lobisomens e de Mulas sem Cabeça”, que os mais velhos afirmavam que existiam, que eles já tinham visto, isso formava imagens tão reais nas nossas cabeças, impossível de não acreditar. Fora isso os monstros dos filmes que agente assistia como o Mostro da Lagoa Negra, e o Povo Gigante que saia das profundezas do mar e derrubava prédios e amassava carros e multidões, tinha as histórias locais que não deixavam a desejar, de onça que tinha comido boiadas inteiras, comido fazendeiros e boiadeiros. De negros que tinham morrido de picadas de cobras Jararaca, potes de dinheiro que algumas pessoas tinham descoberto e retirado chão em grandes fazendas, de fazendeiros que antes de morrer enterravam seu dinheiro, porque não tinham confiança nos Bancos, e também por não existiam bancos como nos dias de hoje, e nem ladrões como tem hoje, bandidos só tinham nos filmes faroeste, ou nos de gangsteres.

No Brasil nas décadas de 40 e 50 não existiam tantos ladrões como na atualidade, os poucos que tinham eram piedosos, não matavam as suas vitimas como hoje acontece, podemos dizer que o Brasil evoluiu muito pra pior.

Uma coisa daqueles tempos que não me esqueço é que ouvíamos no rádio que meu pai tinha comprado naquela época, o programa: “Repórter Esso na voz de Eron Domingues” a musica de abertura era sensacional...

 

       Texto de Euflavio Gois 2013.
      em São Paulo.

 

SONHOS OU PESADELOS?

PauloSNSantana

 

Sonhos são feitos para sonhar, mas tendem a acabar e mostrará a dura realidade da vida. Poderiam eles jamais acabar, mas de que adiantaria se tudo fosse como em nossos sonhos, sem lutar pelo que é nosso de direito, lutar pelo que vale a pena e não simplesmente ganhá-los sem os merecer. Acho que é para isso que sonhamos para poder acordar e lutar pelo que acreditamos. Sei que também existem os pesadelos que atormentam nossas noites, quando os minutos angustiantes teimam em ficar e o alivio de acordar mesmo que todo suado em sua cama no meio da noite, levantar, beber água e saber que foi só mais um pesadelo. Mas e quando se tem um pesadelo acordado, quando parece que quanto mais você segue a luz parece que mais escuro fica? Que como nos sonhos o tempo para em seu sofrimento? Quando até mesmo a esperança esvaece nas sombras do medo? Que talvez isso seja um pesadelo e você vai acordar de novo, mas se for verdade? Terá mais uma saída? Ou a luz no fim do túnel é mais uma miragem? Eu digo pesadelos são reais assim como seus sonhos, seus medos, pecados, desejos, mesmo aqueles mais ocultos, realize-os, liberte-se do medo, acorde do pesadelo, construa seus sonhos, lute pelo que acredita ser o certo, esqueça a sociedade, viva sua vida.

Você já sonhou ou teve pesadelos, viajou mundo afora, já voou antes mesmo de surgirem as tais asas deltas, com asas e tudo, viu o mar e a terra lá de cima, lutou em guerras, fugiu de inimigos, quis correr, mas os passos eram lentos e não conseguia escapar dos seus perseguidores, como se corresse em uma esteira rolante, assustadora?  Os sonhos podem ser coloridos ou em preto e branco.

- Uma noite dessas, eu sonhei estava em uma grande favela, só haviam casas pobres e muitas ruelas, o chão era de barro batido, com algumas poças de lama, muitas ruelas, centenas delas e em cada cruzamento havia um grupo de homens estranhos sentados em circulo, eles estavam fumando algum tipo de cigarro de palha, parecia um morrão de maconha, eram homens mau encarados, parecia uma facção criminosa combinando alguma coisa, o dia estava cinzento, não havia crianças, nem famílias, eu estava desorientado, correndo de alguma perseguição, entrava em beco e saia de beco, e não via conhecidos, nem saídas... Foi assim até acordar.

Uma coisa interessante é que durante os sonhos vivem-se momentos de liberdade total, algumas pessoas acham, explicam e acreditam que durante os sonhos o espirito é liberado da matéria ficando preso apenas por uma espécie de cordão umbilical podendo viajar no espaço, encontrar-se em lugares e com pessoas estranhas, vivenciar situações criticas de desespero e de dor. Pode reencontrar inimigos de vidas passadas, gente de toda espécie. Se isso for verdade já devo ter reencontrado muitos amigos e inimigos mortais nos caminhos do inconsciente.

-Não me lembro de ter ouvindo musicas durante os pesadelos, os sonhos são como cinema mudo, é como se eu fosse invisível, eu os vejo mais eles não, não há comunicação verbal. Já fui assassinado e sobrevivi! Numa rua de um bairro de classe média, um homem armado saiu de trás de um fusca azul claro, ele estava de tocaia esperando que eu atravessasse para o outro lado da rua para começar a atirar, quando dei fé, ele já estava atirando, as balas entravam no meu corpo, lembro-me de ter pedido clemência, pois tinha família e filhos para criar, mas o assassino foi impiedoso. Quanto a mim? Fui baleado mas saí vivinho da Silva e estou aqui contando essa história...

Verdade mesmo é que durante os sonhos ou pesadelos, pode haver alterações orgânicas, como por exemplo: taquicardia, sudorese, respiração acelerada, causados por medo, tristeza e alegria e prazer. Podemos sorrir e gargalhar em alto e bom som,  acordando vizinhos de quarto, uma vez eu já fui arguido: - De que você estava sorrindo quando dormia? E eu respondi que não me lembrava.

-Em outra ocasião eu vinha caminhando por uma rua do interior, muito comprida, sem calçamento, com uma mulher e duas crianças e um homem de seus quarenta anos, seguíamos conversando calmamente, quando o homem que caminhava conosco, disse que iria entrar em um boteco bem a nossa frente, no alto, em cima de um barranco, a mulher pediu pra ele não ir lá, mas o homem irredutível, não deu atenção seu pedido e seguiu até a tal venda que tinha duas portas de madeira surradas e sem pintura, havia um banco de madeira cravado no barro vermelho na frente da burara, de dentro da vendinha ouvia-se gritos e uma discussão acirrada, o homem entrou e a quizomba aumentou, logo em seguida nós o vimos sair cambaleando da bodega, sendo agredido por um estranho que cravava facadas em seu tronco, uma peixeira enorme fazia jorrar muito sangue, haviam outras pessoas presentes no lugar, mas ninguém quis ajudá-lo, e após umas dez perfurações dilacerantes o homem caiu desfalecido e lavado em sangue, tanto sangue que a ruela ficou com o chão de barro tingido de vermelho e o sangue escorria  como água barrenta de chuva. O assassino saiu calmamente limpando a sua peixeira, sem ser admoestado por ninguém, não havia policia, era um lugar de ninguém habitado por feras humanas. E eu ali naquela hora! Será que era o inferno?

Durante os sonhos ou pesadelos pode haver hipertensão arterial, já houve muitos casos de mortes durante o sono, quem nunca ouviu falar que fulano ou beltrano morreu enquanto dormia? Pode haver agressão física, xingamentos e até sonambulismo.

-Em outro pesadelo eu estava em uma pequena cabana bem humilde, com paredes de barro batido, coberta de telhas com uma janela e uma porta, e do lado de fora algumas feras humanas malignas queriam invadir para atacar-me, eles eram figuras aterrorizantes e queriam a todo custo agredir-me, tentavam arrombar a porta, batiam na janela, zumbiam horrivelmente nos meus ouvidos, eram feras horripilantes. Eu dormia agitadamente e ao meu lado a minha esposa. Me mexia na cama, pra lá e pra cá violentamente, até que uma daquelas bestas arrombou a janela e segurou o meu pé, comecei a puxar a perna e dar pontapés, chutar com força, queria escapar do possesso, precisava ser mais violento e contundente com ele ai dei um chute tão forte que voei da cama e fui parar no chão frio do quarto onde dormia. Acho que toda a casa acordou e até os vizinhos do andar de baixo, imagine 80 quilos estatelados no piso do quarto do andar de cima...

-Em outra ocasião entrei numa briga contra bandidos, tentava salvar alguém, impedir alguma maldade ou simplesmente me defender, estava acuado cercado por agressores, mas enfrentava a todos como podia, dando murros e pontapés, eles queriam dominar-me e talvez me assassinar, eu me defendia como podia, sozinho, sem ajuda de ninguém. Na maioria dos sonhos estou sozinho contra todos. Mas ai um dos malfeitores colocou a cara bem nos limites do meu chute certeiro, não atingi “o agressor” e sim uma das  pernas de minha companheira que ao meu lado dormia um sono dos anjos, ela acordou assustada perguntando: - O que é isso? Meu Deus! A coitada sentiu a dor de um chute violento que deveria ter atingido o criminoso presente no meu pesadelo.

Você já teve pesadelos?

Você já chutou alguém enquanto dormia?

Já caiu da cama?

Pessoas acometidas pela doença do glaucoma devem usar seus colírios antes de dormir, para controlar a pressão ocular, se observarmos alguém dormindo veremos que seus olhos não param de mover-se para todos os lados, durante toda a noite, quando dormimos o cérebro continua em “stand-by”, em alerta, reorganizando nossos arquivos, é por isso que sonhamos ou temos pesadelos.

 Os sonhos e pesadelos são vídeos do subconsciente, uma produção involuntária de tudo que vivenciamos.

Podemos ter visões do futuro (premonições), e tudo será salvo em um HD (nosso cérebro), no subconsciente imaginário.  Acredite se quiser!

 

 O ÚLTIMO EMPREGO DO CEMITÉRIO!

Autor PauloSNSantana

 

Em uma cidadezinha violenta do interior da região do cacau, trabalhar no cemitério era um tipo de negócio que os homens não queriam nem ouvir falar, pois o serviço não tinha folga, trabalhava-se em feriados e dias santos e durante a noite quando havia uma movimentação misteriosa, além de desaparecimentos de pessoas. Os contratados para trabalhar no cemitério pouco tempo depois faleciam ou desapareciam misteriosamente. Todos os dias morriam duas ou três pessoas na região vitimas da pistolagem .

Um dia chegou à cidadezinha um cidadão nordestino, um cabra da peste, vindo do Sertão de Dentro, baixinho, cabeça grande, pés e mãos grandes, troncudo, destemido e um fiel seguidor do Padim Padre Cícero. Ele estava precisando de uma colocação, pois tinha família e não sabia como mantê-los, procurou emprego no comércio, nas fazendas mas não conseguiu arrumar nada. Até que  um dia, um homem misterioso muito pálido que mais parecia uma alma penando na terra, aproximou-se dele perguntando o que se passava e quando ouviu a história das necessidades do desconhecido  informou que havia uma única vaga que há muito tempo não era preenchida no cemitério da cidade. Porém não contou ao cidadão o porque da vaga estar a tanto tempo disponível.

No outro dia pela manhã o nordestino que se chamava Artimedes das Rosas Rubras de Volta Seca, impressionou o intendente do cemitério com seu nome extenso. O intendente quando viu o candidato interessado na vaga suspirou de alivio, pois desde que o último funcionário desapareceu trabalhando à noite no cemitério, ninguém mais quis se aventurar naquela função.

O intendente chamava-se Manelão Lustroso, era um preto que de tão preto era azul marinho cintilante, tinha um sorriso quilométrico e uns dentes brancos mais tão alvos que no escuro podia-se ver sem dificuldades onde se encontravam. Lustroso era tão alto que poderia sem problemas fazer uma sexta em um jogo de basquete sem sequer ficar na ponta dos pés. As suas mãos de tão grandes poderiam sem dificuldade segurar uma bola de basquete das grandes. O homem era tão forte que conseguia levantar a tampa de um mausoléu com apenas um braço. Suava muito e a sua fronte brilhava e as gotas de suor escorriam pelo seu rosto. Foi o único homem na região capaz de gerenciar aquele cemitério maldito, de covas rasas, com pouca vegetação, poucas arvores, sem flores e sem sombras. O escritório dele era ali no cemitério, dentro de um mausoléu, que mais parecia uma tumba, o interior era iluminado por grandes velas de um metro cada. Não havia sanitários nem banheiros, nem água potável, nem muros, nem casas nas redondezas e muito menos gente para conversar. Mesmo assim Artimedes tinha certeza de que tinha ouvido algumas pessoas resmungando do lado de fora da tumba, mas ele estava determinado a aceitar o serviço.

Lustroso recebeu Artimedes com sorriso aberto e um fortíssimo aperto de mão, e o pobre nordestino teve que aguentar a dor calado, afinal de contas precisava do emprego pra sustentar a sua família, mulher e dez cabecinhas. Artimedes estava precisado do emprego e confiou sua vida ao Padim Padre Cícero, ele não pensou duas vezes e assinou o contrato de serviço, seria um faz tudo: zelador, vigia, coveiro, deveria abrir e fechar covas e procurar sinais de anormalidades nos túmulos.

Todos os dias Lustroso saia ao anoitecer e só retornava ao amanhecer, não se sabia para onde ia nem de onde vinha. Ele entregou a Artimedes um relógio de pontos para dar cordas de quinze em quinze minutos durante a noite e de hora em hora durante o dia. Artimedes iria ganhar um salário mínimo descontado do mesmo os gastos com aquisição de alimentos no único mercadinho da cidade, que pertencia aos proprietários do cemitério, que era particular, e de uma família muito esquisita.

Durante o dia era um entra e sai de defuntos, e de gente chorando desesperada, e quando chegava à noite era um verdadeiro breu, só podia-se enxergar alguma coisa se fosse época de lua cheia ou se fosse os dentes de Lustroso.

Durante o dia ouvia-se um converseiro e chororô danados e à noite por incrível que pareça também, só que durante o dia ele via quem estava conversando, chorando ou reclamando, mas à noite não enxergava nada, via alguns vultos, sombras, esbarrava-se em corpos invisíveis, sentia sopros e assobios. Mas Artimedes precisava do emprego e pela família seria capaz de enfrentar o cão com uma vara curta.

Todas as noites ele tinha que circular com uma pequena lanterna no interior do cemitério e dar cordas no relógio de pontos. Em uma ocasião Artimedes, pensou ter ouvido um chamado de alguém, alguma voz chamando-o pelo seu nome às três horas da madrugada:       

- Artimedes, psiu, Artimedes, psiu, venha aqui! Parecia a voz de uma mulher. Talvez de uma velha; ele apegou-se com o Padim Padre Cícero e saiu à procura da voz misteriosa, caminhou para o interior do cemitério e uns dez metros depois, a lanterna apagou-se e ele ficou no escuro e muito assustado, mas como era um cabra da molesta, continuou seguindo ao encontro da voz aflita que o chamava insistentemente. Ai surgiu em sua frente dois vultos fantasmagóricos, o de uma velha senhora, acompanhada por outro de um homem grande e alto do porte de Lustroso. Artimedes se aproximou corajosamente e perguntou o que as almas queriam. A velha então lhe disse:

- Não lhe contaram porque aqui havia uma vaga para trabalhar? Ele muito assustado respondeu que não. A velha agora acompanhada de mais duas almas com porte atlético avantajado, disse em tom de advertência: - Foi porque todos os que aqui trabalharam estão agora do lado de cá. Você poderá ser o próximo. Cuidado.

Quando Artimedes ouviu aquela advertência virou-se com o intuito de sair correndo dali, mas para todos os lados que olhava via vultos negros caminhando em sua direção e outros vultos alvos como a neve com os braços abertos para abraça-lo. Artimedes lembrou-se de seu Padim Padre Cicero, pediu socorro, mas a sua oração não foi suficiente, e ele criou coragem para enfrentar as almas obscuras que o cercava, encheu os pulmões de ar e saiu correndo passando como um foguete pelos vultos apavorantes que o cercavam e foi esbarrar-se em uma muralha humana, negra e com dentes que mais pareciam lanternas acessas, era Lustroso, que o segurou pela gola da camisa e perguntou pra onde ia com tanta pressa, quando viu que ele estava fugindo puxou a peixeira afiada e ameaçou cortar a sua garganta dizendo que iria beber o seu sangue e depois enterrá-lo junto aos outros ex-funcionários assassinados ali no cemitério, Lustroso só não conseguiu seu intento porque na hora “H” o nordestino cabra de peste, gritou bem forte e com desespero:

- “Valei-me meu Padim Padi Ciço”, o grito ecoou pelo cemitério acompanhado de uma forte ventania que arrancou Artimedes das mãos de Lustroso, o baixinho correu apavorado, parecia que tinha passado sebo nas canelas, e desapareceu na estrada, sumiu daquele cemitério maldito pra nunca mais voltar, nem mesmo para receber o saldo do seu misero salário. Lustroso perdeu a força castigado pelo Padim Padre Cicero e desapareceu pra sempre deixando as almas sofredoras em paz.  Acredite se quiser!

 

A CRISE DA REGIÃO CACAUEIRA

 

Carlos Rocha Almeida

 

      Nos anos 1930 os fazendeiros de cacau eram considerados como um grupo de homens que haviam trabalhado para a uma alta movimentação financeira nesta região, mesmo com as sérios dificuldades econômicas e sociais.

      Em 1990 a produção começou a cair por causa da vassoura de bruxa que aliada aos preços que vinham despencando no mercado internacional, gerando assim uma grande crise.

      O cacau começou a  ser produzido em 1820 por estrangeiros de origem suíça e alemã.

     Quem tinha uma fazenda de cacau que produzia acima de 1.000 arrobas por ano, era considerado rico. Tinha que quase que obrigatoriamente, pois era status, possuir uma pick-up um Jeep, Rural, para justificar a sua ascensão.

Confesso que minha tristeza maior  após o declínio da lavoura cacaueira, foi o número de desempregados que a crise gerou. Por que no mais, poucos benefícios esta lavoura trazia para a  população urbana.  Pois o dinheiro que dela advinha, diga-se de passagem, de poucos. Pois apenas uma pequena parte de agricultores se podiam se dar ao luxo de serem considerados ricos. E o comércio local não evoluiu na mesma proporção que o crescimento pessoal de alguns privilegiados.

      Me lembro bem, pois trabalhei por 09 anos em um armazém de cacau, e via na prática o comportamento,  de alguns que não gostavam nem de esperar para ser atendido, obedecendo como é normal, de se atender  primeiro o que chega no estabelecimento, e assim por diante, por ordem de chegada. Eles diziam: “Não posso perder tempo, separa esses materiais, entregue no armazém e mande a Nota Fiscal, para fazer o pagamento. Eu era o gerente da loja de insumos, e alguns exigiam dizendo: “Já que está todo mundo ocupado, venha me atender, pois você não está fazendo nada”. Era só para me humilhar, pois eu era encarregado de compras, fazia o trabalho de escritório”. Tipo,  dar entrada de mercadorias, baixa, verificar estoque, caixa, faxineiro, carregador. Eram tempos difíceis para a maioria e muito bom para poucos.  Não se preocuparam  em diversificar, prevendo que  aquele mundo de facilidades iam durar eternamente. Como diz a bíblia: “Tudo passa, só não passa a palavra de Deus”. Com isso perderam os fazendeiros e a população do sul da Bahia, pois a opção por empregos eram poucas. Pela falta de visão deles  e dos órgãos competentes.

      Naquela época quem podia adquirir um carro, um telefone, uma televisão. Eram só os ricos. Não só por culpa dos cacauicultores, apesar deles enxergarem apenas a monocultura como único meio de economia e subsistência para a região, isso é, era uma política egoísta, eles só olhavam para o próprio umbigo.

      Tomavam empréstimo a vontade, chamado na época de penhor, para investir nas fazendas, mas muitos, investiam em casas boas, carros do ano, filhos estudando fora. E a dívida aumentando, e eles sempre brigando querendo anistia da dívida. Eram tempos áureos para

 

quem possuía “este ouro”. Contratos com os armazéns, existiam mais de 20 modalidades. Tinha que consultar uma lista para oferecer as opções de adiantamento pela venda do produto na flor, sem  flor, cacau à ordem (quando já havia sido entregue com antecedência), cacau fixo, (entregue mediante pagamento pela cotação do dia), etc.

        Hoje, a produção de cacau não tem muita relevância no panorama econômico e social da região, não podendo negar que para a época ele foi de extrema importância para a região, criaram escolas técnicas, gerava empregos diretos e indiretos. Mas hoje sem o cacau a qualidade de vida da maioria da população melhorou significativamente, hoje é mais fácil adquirir um carro, uma moto, uma casa, um eletrodoméstico. Isso se deve a mudança da economia, que com a inflação sendo mais controlada, viabiliza a aquisição de qualquer bem, ou abrir uma casa de comércio. E também o comercio informal, que tem sustentado a vida de muita gente. O cacau hoje faz falta. Mas você pode não concordar, mas encerrou-se o ciclo da riqueza concentrada, e hoje existem muito mais opções de se ganhar a vida. Saudades daquele tempo, das casas de sede cheias de famílias, o emprego para os peões, e o futebol e os torneios que eram realizados nas fazendas. Se existiu outra coisa benéfica me esqueci, depois alguém pode me fazer lembrar.  

 

histórias de Coaraci

População estimada 2014 (1)20.183

População 201020.964

Área da unidade territorial (km²)274,500

Densidade demográfica (hab/km²)74,17

Código do Município2908002

Gentílicocoaraciense

Prefeito

JOSEFINA MARIA CASTRO DOS SANTOS

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