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UM CASO DIFERENTE!

 

Adaptado do Livro  Minhas Garatujas do Autor Dr. Eldebrando Morais Pires,

 

Texto de PauloSNSantana

 

O Dr. Bandinho era médico do Hospital de Coaraci, e estava de plantão. Após o meio dia desceu do quarto dos médicos, pois pretendia bater um papo com o pessoal da administração e enfermagem, antes de retomar o atendimento a seus pacientes. 

Quando chegou à sala, lá estavam algumas funcionárias ouvindo atentas e curiosas uma história que estava sendo contada por Mariza também  funcionária:

  Ela dizia:

-Repare bem, meninas.

-É aquele negócio da televisão que vai crescendo, crescendo, engrossando, engrossando...

As meninas entreolhavam-se surpresas, e com um discreto sorriso e muita curiosidade! 

O doutor cheio de malícia disse que sabia o que era!

A narradora prossegui contando efusivamente que o negócio crescia e possuía uma a cabeça bem grande! Bandinho já tinha certeza do que se tratava!

 

Então ela olhou para ele e disse:

-Doutor quando ele está bem grande, grosso e com a cabeça enorme fica todo verde!

Bandinho voltou à estaca zero! 

Decepcionado, já não sabia do que se tratava, por causa da cor, verde!

Então ela gritou:

-''Me lembrei, é o Huck!'', aquele bichão verde da televisão, que aparece todo dia de Domingo, na Globo. Estava explicado! ''Aquilo'' que Dr. Bandinho pensava maliciosamente ser o sujeito da história de Mariza não poderia aparecer de jeito nenhum na programação dos domingo, da rede Globo.

 

 

ONDE COMEÇOU O BAR BOLACHA!

 

Fonte Renato Fraifer

 

Texto adaptado por PauloSNSantana

 

O boteco ''Bar Bolacha'' pertenceu ao Sr. Joaquim, o pai de Zé Milome, e quando iniciou suas atividades era uma barraquinha localizada em frente à área onde foi construção do Clube Social de Coaraci. Na época reuniam-se lá, comerciantes, fazendeiros, e alguns profissionais liberais existentes na região. O antigo Bolacha vendia ''fogos'' e ''cachaça'' e até uísque, ainda não vendia cervejas, mas lá só frequentavam pessoas da ''sociedade'', da época. Depois que o Clube Social foi construído, mudou-se para a Praça Jairo de Araújo Góes,  local onde até hoje está localizado. Era um point da elite da região, depois bem mais tarde, com a instalação da feira livre na Praça, a frequência ficou bem  mais democrática, já se via fregueses feirantes, magarefes, pessoas mais humildes. Mas os primeiros fregueses nunca deixaram de estar presente naquele espaço, para beber umas e outras e também ouvir o som do ''Jazz Bolacha'', uma bandinha bem afinada formada por amantes da música, seresteiros e instrumentistas que tocavam bandolim, cavaquinho, violão, saxofone, clarinete, pandeiro, etc. Os músicos eram instrumentistas gabaritados, que sabiam mesmo, tocar um instrumento. Alguns dos frequentadores daquela época foram Nonô Leal, Dourival Mascarenhas, Dr. Eldebrando, Dr. Vanderlino, Raimundo Benevides, Sr. Vavá, Tete, Joaquim Moreira, Elias Leal, Dr. Afonso, Dr. Queiroz, Candido e muitos outros...

 

ELITE BAR

 

Entrevista com Renato Fraifer

 

Texto de PauloSNSantana

 

O Elite Bar começou com Feitosa irmão de Juscelino Feitosa depois passou para o Sr. João Reis. Era um bar e sorveteria frequentado por coronéis do cacau, gente da alta roda, pessoas poderosas da região. A sorveteria era equipada com o que havia de mais moderno na época, o que aumentava o movimento do bar nos finais de semana. A Elite de Coaraci, pessoas como o Dr. Durval Duarte, Lourival Mascarenhas, Raimundo Benevides, comerciantes, médicos, advogados eram comumente encontrados neste point. Lá se realizavam grandes negócios, e circulava muito dinheiro da compra e venda de cacau. Os dias de Sábado eram os mais movimentados em razão da feira livre, e das grandes festas no clube social. A propósito as primeiras feiras livres ficavam situadas onde hoje esta localizado o Banco do Brasil, na João Batista Del Rei e na Praça da Bandeira. naquela época não havia calçamento e quando chovia a feira livre transformava-se em um imenso lamaçal, por causa do transito de pessoas, e dos animais.

Junto ao Elite Bar havia o snooker de Agripo com três mesas, que pertenciam a Enock Ramos, junto a este encontrava-se o gabinete do Dr. Adalto Sacramento, em frente localizava-se a Sapataria de Raimundo Benevides, onde um dos funcionários era o Sr. Edinho Pão. O primeiro andar era a república onde moravam o falecido Alberto Assis, Raimundo Benevides e muitos outros rapazes que vieram iniciar suas vidas na Terra do Sol. No lado esquerdo do Bar Elite junto a este era o deposito de atacados de Enock Ramos, e em frente a este havia duas mansões uma dos Kruschevsky e a outra do Sr. Manuel Ramos, na esquina localizava-se a farmácia de Soares do avô de Evandro. A Farmácia que hoje pertence a Evandro Soares, pertenceu aos Drs. Eldebrando e Vanderlino, o farmacêutico da mesma era o Senhor Swing, conhecido por todos como Dr. Carlos, embora não fosse médico, dava injeção, receitava remédios, e realizava consultas. O estoque das farmácias daquela época era muito variado, e se encontrava de tudo no ato da compra. Havia muitos fregueses para comprar e pagar em dinheiro.

Sr. João Reis tocou o Bar Elite durante aproximadamente vinte anos. A Praça Getúlio Vargas era local escolhido para apresentações, desfiles cívicos de sete de setembro as festas de carnaval, desfiles dos blocos carnavalescos, e batucadas. Lá se realizavam comícios, movimentos estudantis, recepção de visitantes ilustres. As famílias reuniam-se para conversar, os fatos eram divulgados e noticias sobre politica e sociedade eram difundidas.

Vinte anos mais tarde surgiu o Tambaú, e muitos outros comerciantes abriram novos negócios. Surgiu a beira-rio, construiu-se o calçadão da Ruy Barbosa, mas o movimento já não era o mesmo.

Com os novos tempos chegando em Coaraci, ao invés de criarem pontos de encontro para as famílias circularem com áreas de lazer, lugares aprazíveis, a prioridade sempre passou a ser dos bares e das festas noturnas, na Praça de Eventos.

Ainda existem praças onde as famílias podem encontrar-se, entre elas a Praça Pio XII, Praça João XXIII, a Fonte Luminosa, a pracinha do Bairro Maria Gabriela, outra no bairro do Cemitério. Hoje município oferece poucas opções de lazer e como são poucas as opções as famílias permanecem em suas casas, para evitar os  risco das drogas, prostituição e marginalização.

 

ALMIR TOURINHO ROCHA O POPULAR MICHELIN

Um jogo da pesada!

 

Autor Chico Bolota

 

Texto de PauloSNSantana

 

Michelin era metido a juiz de futebol. Certa ocasião foi marcar um jogo entre as equipes dos pretos e dos brancos na zona rural. A luva que recebeu para marcar o jogo, promovido pelos pretos, foram doze galinhas d'angola.

No final do segundo tempo, o juiz querendo agradar os pretos, arranjou um pênalti fajuto em favor deles.

O capitão da equipe branca puxou uma peixeira e cravou na bola, inconformado com o roubo do juiz.

 O capitão da equipe, um homem de dois metros de altura por 1,50 de largura, pés enormes e por isso jogava descalço, destemido, chamou o capitão dos brancos e afirmou categoricamente que iriam continuar o jogo nem que fosse com uma bola de coco!

Pegaram um coco seco, colocaram na marca do pênalti e chamaram Castilho, um negrão enorme, com a unha do dedão o pé direito medindo aproximadamente uns três centímetros, para chutar o coco:

 Castilho tomou distância correu como um touro e chutou com tanta força que dividiu o coco em duas bandas, uma foi parar nas mãos do goleiro e a outra dentro do gol.

O juiz então decidiu pela banda do coco que fora gol, e confirmou o tento. Foi uma revolta danada!

Pouco depois chegou um recado para o Juiz;

-Perguntaram quem era ele? Michelin apresentou-se tremulo!

-O portador do recado ofegante disse a Michelin que dezesseis torcedores dos brancos estavam com galhos de araçá para dar uma surra nele! Como retirar Michelin do campo de futebol, na verdade o pasto do gado? Perguntaram se ele sabia montar a cavalo, arranjaram um animal quase selvagem, mas veloz! Michelin subiu no animal em pelo, empurrado pelos fundos, e com as doze galinhas, amarradas pelos pés. 

Soltaram o cavalo arisco debaixo de cipoadas, o animal saiu voando e Michelin sem nada poder fazer para pará-lo, mesmo porque, atrás dele vinham uns vinte torcedores perversos montados em burros bravos, para alcança-lo e dar-lhe uma lição. Chegou em casa, com as calças rasgadas, o traseiro assado, e as galinhas depenadas, prontas para o abate! A sua mulher vendo a cena para agradá-lo, aprontou uma galinhada para o jantar. Ele nunca mais apitou jogos de futebol.

 

EQUIPE DE FUTEBOL DO BOLACHA 1983

 

A equipe de futebol do Bolacha era convocada para o Torneio Caixeiral como forma de entretenimento para os adeptos do líquido etílico,  frequentadores do boteco famoso.

A princípio apenas os mais fieis e assíduos fregueses foram convocados. Depois, virou clube, cresceu, tornando-se um dos mais queridos do torneio.

Com o passar do tempo, alguns atletas envelheceram, outros bateram em retirada, houveram novas convocações , o time foi reformulado e mais uma vez abraçado pela família Bolacha, que incentivou até quando pode. O símbolo da equipe era uma garrafa de pinga e um  violão.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a equipe do Bolacha ganhou fama regional por sua péssima qualidade nos gramados. Derrotas consecutivas e jogada hilárias, dignas do Íbis de Pernambuco, era o tempero que conquistou fama municipal.

Foram anos sem comemorar uma única vitória, mas de muita festa e resenhas concorridas, regadas a muita cachaça, onde havia relatos dos micos do jogo. A fama de pior time do Caixeiral veio com uma brincadeira de torcedores da época.

Embora nunca tenha chegado às finais dos torneios caixeirais, sempre levou muita alegria aos torcedores e familiares dos bolacheiros que acompanhavam seus atletas, até o campo, uns cambaleantes, outros ainda sóbrios, mas todos imbuídos do sonho de vencer, mesmo que fosse um delírio ou uma  ressaca.

Ficou na última posição em todos os torneios, era o primeiro a jogar e a retirar-se do evento, mas que importava isso, se para eles, mais importante era os quinze minutos de fama, tempo em que ouviam os torcedores incentivando suas jogadas hilariantes.

Nunca venceu uma partida. Teve a pior defesa entre todos os participantes e marcou pouquíssimos gols, resultando num imenso saldo negativo.

Mas deixou saudades, pelo desempenho amador, até mesmo infantil,  que marcou um tempo, uma época de completa felicidade e harmonia, onde podia-se ver amigos sorrindo, incentivando-se, impacientes, esperando o  final do  jogo,  para voltar beber  mais umas e outras!

                                                                                                      Texto de PauloSNSantana

 

UMA PIABA INUSITADA!

 

De Eldebrando Morais Pires

 

Em Coaraci havia um barbeiro, conhecido por Auxênio, homem extremamente irritável e, mais ainda pornográfico. Era bulir com ele e jorrar da sua boca os palavrões mais pesados. Para compensar mostrava-se um profissional competente, bom no corte de cabelo e excepcional na barba. A navalha mais suave da cidade. Afonso Tavares, a barba mais fechada e dura só ia lá a Auxênio e dizia: a sua navalha parece um papel de seda alisando a cara da gente. Auxênio tinha um freguês ilustríssimo, o Dr. Eduardo Catalão, um dos homens mais educados e de fino trato da região cacaueira, provinha de uma das mais tradicionais famílias de Ilhéus. Catalão era nome de peso na sociedade pelo poder econômico e político. O irmão Pedro foi Prefeito de Ilhéus. Ele, Eduardo, Senador da república, Ministro e presidente do banco do Brasil em ocasiões diversas. Corpo bem trabalhado, face simpática, largo bigode negro, porte impecável, elegante e gentil, voz firme grave e serena, acentuando as palavras, as silabas e as vogais, mais parecia oriundo da Inglaterra da Rainha Vitória, que da região rústica dos frutos de ouro de Jorge Amado, em fim, um verdadeiro gentleman. Como bom político, acessível, sem preconceito, mas sempre acentuando aquele, ''o senhor'', ''a senhora''. Possuía diversas fazendas de cacau, algumas perto de Coaraci pelos lados de Itapitanga, daí a necessidade de passar por Coaraci quando se dirigia às suas propriedades. O Dr. Eduardo Catalão vinha de Ilhéus, onde residia para fazer a barba na passagem por Coaraci, com o ''senhor'' Auxênio.

Em uma dessas passagens pela barbearia, o Senador já estava com o corpo estirado na cadeira do barbeiro, com os olhos fechados e a face escondida tomada pela espuma, quando ''Teteu'' ia passando pela porta da barbearia e confundiu o freguês que estava sendo atendido com uma pessoa da sua turma, do seu grupo, digamos assim, sem discriminar, da sua laia. Entrou na barbearia, tocou no ombro de Auxênio, fez sinal para ele se afastar, levantou o braço forte e a mão grande e desceu os dois dedos sem piedade sobre  larga testa do ministro, naquilo chamado na época de uma piaba, completando o gesto impensado com sua voz gutural: - Acorda ladrão!

O Dr. Eduardo Catalão saltou da cadeira do barbeiro, firmou-se de pé a testa afogueada, encarou Teteu com espanto, reconheceu-o, controlou-se, respirou fundo, estendeu a mão ao agressor e falou: - Bom dia, senhor Aristeu. Como está a família? Teteu pasmo, parado, sem falar, sem respirar, atônito e quase se mijando ao reconhecer a sua vítima, olhou para o Senador, Ministro, Advogado, Presidente do banco do Brasil da linhagem dos Catalão, homem de uma educação primorosa e avaliou, num piscar de olhos o seu impropério. Recompondo-se estendeu a sua mão gelada na palma e cinco picolés compostos pelos dedos. E falou:

-Mas Doutor Eduardo, pela bênção de sua mãe, pelo amor dos seus filhos, por sua educação reconhecida, o senhor me perdoe! Eu pensei que era um vagabundo assim como eu fazendo a barba aí com Auxênio. Me perdoe doutor Eduardo pelo amor de Deus. Eu sou mesmo um desastrado, um infeliz. Como é que eu vou fazer uma coisa dessas, logo com o senhor, que me trata tão bem, embora sejamos de nível diferente. Me perdoe doutor Eduardo. Aquele desgraçado me paga.

-Nada disso senhor Teteu, nada de vinganças impensadas e injustificadas.  Aconteceu e aconteceu com o senhor e comigo. São fatos do acaso. O senhor tenha um bom dia e me recomende a dona Santinha, sua esposa.

Teteu foi um mestre na piaba só até aquele dia. O caso correu célere pela cidade. Teteu sumiu do mapa por vários dias, para evitar as gozações, esfriar o desastre! Mesmo assim a turma caiu em cima: Teteu lá vem o doutor Eduardo! e chamou pelo nome dela.

 

O CARÃO PAVOROSO

CARÃO: AVE AQUÁTICA DO BRASIL;

 

Nome Científico Aramos Guaraúna - Linnaeus 1766. De  Solon Planeta .

 

Adaptação: robertopovoas.blogspot.com.br

 

Como já falei em outra oportunidade, em 1929 meu pai comprou uma área rural na região, hoje conhecida como Lagoa de Dentro, mais como na propriedade não havia nenhum meio de subsistência, foi até sua terra natal e trouxe para aqui um irmão e um concunhado com a família e o colocou na área para desbravar a terra e dar inicio ao plantio de cacau. Isso feito legalizou a terra e voltou à região do Rio do Braço para gerenciar as fazendas do coronel  Tico Brandão.

Aproveitando a facilidade de mão de obra da época, conseguiu dois trabalhadores da sua confiança para também vir para aqui para a Lagoa de Dentro plantar cacau na condição de contratistas. Um dos homens chamava-se Antônio João Batista, um dos homens mais direito e mais trabalhador que já tive oportunidade de conhecer. Às vezes, sozinho se arriscava a derrubar um jequitibá ou outra árvore com mais de 10 metros de “rodo” (comprimento do tronco) e mais de 2 metros de diâmetro levando 4 a 5 dias para derrubá-la. Na maioria das vezes gastava um dia ou mais, só para fazer o “girau” (armação construída com madeira mais fina, tipo, andaime de pedreiro), para fazer o corte acima das “catanas” (raízes que floram do solo para sustentação da árvore) que lhe dava sustentação. O outro trabalhador chamava-se Themístocles Tavares conhecido por Pombo que também muito contribuiu  com a feitura da fazendinha que hoje tem o nome de Vencedora. Esses homens eram tão destemidos e operantes que pouco tempo depois, ambos conseguiram adquirir suas terras próprias, formando também suas propriedades. Em 1941, fui autorizado a passar uns dias na casa de minha tia Mocinha, esposa de meu tio Emídio que vieram lá das bandas do rio Itapicuru para desbravar a terra que meu pai adquiriu. Nessa época eu tinha 11 anos. Minha tia tinha três filhos adolescentes, duas mocinhas e um rapaz de nome Francisco que se tornou famoso por tocar cavaquinho, violão e saxofone, ficou conhecido por Chico Viola, hoje já falecido. Essa turma criou um jazz que ficou conhecido, atraindo músicos que tocavam pandeiro e tamborim. Com mais gente a sobrecarga no sótão aumentou e uma noite a estrutura não resistiu e veio a baixo, causando um enorme susto e também algumas escoriações, sem maiores consequências. Como minha tia reclamava da nossa algazarra, pois Chico já tocava cavaquinho, fizemos um sótão na casa de farinha e passamos a dormir lá. Certa noite, já alta madrugada, fomos acordados por um alarido estranho, esquisito e assombroso que apavorou a todos. Não demorou muito e tio Emídio chegou na casa de farinha com lanterna e espingarda na mão, mandando que nós descêssemos para ir dormir dentro de casa, por que o alarido poderia ser uma onça, ou outro bicho qualquer. Ficamos alguns dias sobressaltados, até que um dia, buscando água no ribeirão, quando uma ave de porte médio, de pernas e pescoço alongado e depenado posou num galho de imbaúba e ensaiou alto e assustador, tal qual o grasnido da noite do pavor. Fui até a casa de “Seo” Antônio João ( homem vivido e experiente), pai do popular Manoel Pecadão e detalhando o tipo do animal, ele explicou que se tratava de um carão, ave pernalta existente nas grandes lagoas das nossas matas. Aí então, voltamos a dormir no girau e tocar cavaquinho e cantar até as tantas da noite.

Naquela época a começar pelo berimbau, os proprietários  na Lagoa de Dentro ou Ribeirão do Recreio, eram: Manoel Peruna, João Biano, José Gregório, Marcolino Ferreira, Manoel Matias, Aureliano Dias, José Ludovico, o gringo Laroca, Afonso Portela Gaspar, Renato  Leite da Silveira, Manoel Vila Nova e outros.

Na Lagoa de Fora ou Lagoa de Eurípedes (hoje Lagoa de Sambaíba), eram: Francolino Gonçalves, José Antônio Zoião, João Pedro Fraga, Dona Sinharinha, Benvindo de Tal, Egídio Pereira, Caetano Estrela, Eurípedes Leão, Carlos Oliveira, Dr. Sarmento e tantos outros.

Foi com esse denodo, arrojo e determinação desses pioneiros que hoje temos a nossa aprazível e aconchegante Terra do Sol.

 

DIABRURAS DE ESTUDANTES NO GINÁSIO DE COARACI

 

Em 1955, primeiro ano sob a direção de João de Oliveira Leite, o ginásio de Coaraci destacava-se pela qualidade do ensino. Pais e mestres tinham sempre reuniões com a diretoria, onde se liam relatórios, problemas internos eram discutidos e sugestões apresentadas em prol do destino do ginásio, já que seu funcionamento regia-se pelo sistema de cooperativa. Em uma das reuniões noturnas, um fato aborreceu o diretor João Leite:

Oito alunos aproveitando-se que alguém havia esquecido um chapéu sobre a pilastra do portão de entrada, disputaram um joguinho de futebol usando o mesmo como bola, em pouco tempo jogo, já estava totalmente irreconhecível.

Os envolvidos não foram punidos, por falta de provas, mas os alunos da segunda série, a mais irreverente e problemática, tiveram que ouvir pesados sermões do diretor, por muito tempo...

SAPATO NO MINGAU!

O ginásio de Coaraci continuava um canteiro de obras, andaimes e materiais de construção ficavam espalhados por todos os lados, indicando que novas reformas estavam sendo realizadas ali.

Durante as aulas vagas ou qualquer minuto disponível o tempo era  preenchido com alguns lances de voleibol, basquetebol ou futebol, qualquer objeto servia de bola.

Em um desses intervalos, no ano de 1955, um sapato velho retorcido abandonado no local certamente por algum pedreiro, foi a bola da vez que os alunos usaram para jogar uma partida de futebol. Foi chutado para todos os lados, todas as direções, com muita força, e irresponsavelmente, o que ninguém imaginava é que fosse parar acidentalmente dentro da panela de mingau de Dona Maria, a vendedora de lanches do Ginásio, presente ali todos os dias, durante as aulas. Em segundos os irresponsáveis sumiram da área, ninguém soube quem foi o autor da façanha;

Nunca se descobriu também como alguns sapos ’’cururus’’ apareciam com dentro de algumas gavetas das mesas dos professores.

Os alunos sempre arranjavam justificativas para o fato, diziam:

-Professora! Deve ser por causa dessas lagoas em volta do ginásio   

UMA CHARGE DE MULHER

Uma brincadeira intencional custou à perda do ano letivo a Novenal Quinto, que, com rara habilidade, rabiscou no quadro negro uma charge de uma mulher de maiô sentada nas areias de uma praia imaginária. Uma colega, sentindo-se ofendida queixou-se ao diretor João Leite, que imediatamente aplicou a Novenal uma suspensão de 20 dias. Mesmo sem a prova material, a decisão fora mantida, atingindo até o período das provas finais.

Ambos estudavam na mesma sala e o fato deixou os demais colegas revoltados e impossibilitados de promoverem uma reação.

PAU-DE-PERI

O acesso ao ginásio para alguns alunos continuava sendo pela frágil ponte pau-de-Peri, uma passarela que mal dava para passar uma pessoa, um tronco de árvore que unia o dois lados do rio, frontal à rua Presidente Dutra.

Uma passagem estreita, escorregadia, que mal permitia o cruzamento de duas pessoas ao mesmo tempo.

Em uma ocasião o professor João desequilibrou-se caindo dentro do rio.

FREI AUGUSTO x SÔNIA LEAL

Em 1956 o Frei Augusto ministrava aulas de religião no ginásio mas não gozava da simpatia dos alunos. Sônia Leal, de família tradicional, também não gostava da sistemática do Frei Augusto. Espirituosa e irreverente, era respeitada e extremamente querida pelos colegas, gostava de pular sobre a passarela com todo o vigor de suas forças, justamente no momento que algum colega passava. O Frei foi uma das vitimas dela, quando ia dar aulas. Sem ter onde segurar desequilibrou-se e caiu nas águas turvas e fria do rio, de batina, com uma pasta, etc.. A aluna foi suspensa por quinze dias.

 

BARBEARIA DE EMÍDIO – O BATISMO

 

(História escrita por Zé Leal)

 

Coaraci  tinha várias barbearias, que atendiam à comunidade masculina lá pelos idos de 1960, a saber; Emídio Barbeiro, Adolfo, Auxêncio, João Barbeiro, entre outros. Todos eles exibiam  nas salas de atendimento, quadros dos seus times de futebol preferidos, e fotos de belas mulheres quase sempre, com pouca roupa, ou nenhuma. As barbearias eram ponto de encontro para os contadores de histórias, mentirosos, gozadores, fofoqueiros, etc. Ali se falava de tudo. Desde política, futebol, aventuras amorosas, a vida dos outros, etc. Enquanto você esperava a sua vez, ouvia e alimentava os papos muito divertidos. Eu frequentava a barbearia de Emídio, que ficava ali em frente ao restaurante de Renato Fraife. O salão tinha 3 cadeiras de barbeiros que eram instrumentos de trabalho de Emídio, Dió e Pelé. Quem me atendia era Dió ou Pelé, Emídio era preferido pela clientela mais antiga. Um dia fui cortar o cabelo e quem me atendeu foi Pelé.

Cabelo cortado, trabalho quase concluído, quando o Pelé na hora de fazer a costeleta, aprumou a navalha próxima da orelha, e arrastou  a bicha até a altura do queixo, depois fez a mesma coisa do outro lado, e continuou raspando a minha cara toda sem eu entender aquele procedimento, já que eu não tinha ainda barba, mas, apenas uma penugem, que ele limpava da navalha com as pontas dos dedos. Ao final, ele disse pronto você está batizado, fiz a sua primeira barba. Agora você é homem de verdade. A turma da espera aplaudiu aquele ato, e eu fiquei todo orgulhoso, me sentindo um homem novo. Só tinha 14 anos de idade. Calma, disse o Pelé, o ritual  ainda não foi concluído. Trouxeram  até minha presença um copo com uma pequena dose de uma bebida amarelada, acompanhada de um tira gosto  que eu deveria consumir. Era uma dose de pinga envelhecida e uma coxinha de sariguê que eu deveria comer, rapidamente para aí sim sentir-me um  homem de verdade. Todos olhavam para mim e perguntavam vai encarar ou vai amarelar? Enchi-me de coragem e bebi aquele troço, comendo depois o pedaço do sariguê, que estava muito gostoso. Pronto tudo consumado. A galera ria  com o que estava para acontecer, já sabiam da armadilha que eu havia caído. Entra Pelé com uma garrafa de pinga com uma cobra dentro, e a infeliz era vermelho e preto (flamenguista),e  um couro de gato nas mãos, dizendo; Você bebeu cachaça de cobra e comeu um pedaço de carne de gato. Quase morri, comecei a suar frio, fiquei tonto, queria meter o dedo na goela, e a turma adorando o meu sofrimento. Até que seu Emídio disse. Calma Zé Leal, a pinga que você bebeu não tinha cobra nenhuma, era de outra garrafa, e a carne era de sariguê mesmo. Este é o ritual de nosso batismo. Fique tranquilo. Fui aplaudido pela minha coragem, e saí de lá todo compenetrado. Agora sou um homem de verdade, apesar do susto. Coisas da mocidade.

histórias de Coaraci

População estimada 2014 (1)20.183

População 201020.964

Área da unidade territorial (km²)274,500

Densidade demográfica (hab/km²)74,17

Código do Município2908002

Gentílicocoaraciense

Prefeito

JOSEFINA MARIA CASTRO DOS SANTOS

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