
FECHOU-SE UM CICLO: A ERA DE OURO DO CACAU
Havia em Coaraci nos meados de 1955 um fazendeiro chamado de Zé Grande, que possuía três fazendas de cacau, duas na região dos Macacos e uma no Distrito do Bandeira do Almada, onde ele residia. Homem de muitas posses, mas que não sabia usufruir a riqueza que possuía. Assim, como muitos outros que habitavam nesta região. Ele tinha uma coisa peculiar, não gostava de gastar nem um centavo da sua fortuna, mas quando chegavam os vendedores de roupas, utensílios domésticos, ouro, prata, bijuterias, sandálias, sapatos, etc., ficava mais feliz que mulher quando vai comprar vestido novo. Os mascates, como eram chamados, sabendo que era fácil engabelar o velho, vendiam anéis falsificados, pelo preço de ouro. Aí nesta parte, ele caia que nem um pato, pois era obcecado por joias e por não saber diferenciar o falso do verdadeiro, gastava assim, uma pequena fortuna. Em cada dedo havia um ou dois anéis, que ele se gabava dizendo que eram todos de ouro.
Certa ocasião, vinha caminhando do Bandeira para Coaraci, puxando um animal, para fazer a feira para a semana. Tomou uma topada, e gritou para o seu empregado, “ta vendo aí Genaro! Se eu estivesse calçado, teria estragado o meu sapato”. Pois costumava andar descalço com eles amarrados com os cadarços, pendurados no pescoço.
Você pode duvidar, mas é a mais pura verdade, foi um caso real. Dinheiro na cabeça dele era para guardar e não para gastar com as necessidades básicas.
Um dos hábitos dele em relação aos filhos era, mandá-los procurar emprego e sair de casa quando completavam 18 anos, acreditava que já era o momento de sair de casa para buscar o seu próprio sustento, estando preparado ou não, querendo ou não, tinha que sair de casa pelo mundo afora.
Ele tinha oito filhos, tinha quatro mulheres e quatro homens. As mulheres tinham de casar logo, pois na cabeça dele, ficou maior de idade, acabava a sua obrigação de pai.
Certo dia, um dos filhos, que morava longe, em São Paulo, fez uma carta para o pai, e pediu que ele mandasse dinheiro para comprar uma calça. Então ele mandou uma certa quantia. Então o filho respostou: “Meu pai. O dinheiro que o senhor me mandou só dá para comprar a metade de uma calça, peço-lhe que me mande a outra metade?”.
Pois é, o velho era assim, tinha a mão fechada. Quando ele veio a falecer, os filhos, que não estavam habituados a administrar tanto dinheiro, começaram a gastar exageradamente. Começaram a comprar Rural nova, enchiam a cara de cachaça, muitas mulheres. E como ainda não sabiam dirigir, viviam batendo os carros. Mas não mandavam consertar, deixavam o carro largado na fazenda e compravam um novo. Em pouco tempo, a fortuna acabou. Começaram a viver de favor na casa dos parentes que tinham uma condição financeira melhor. Mas, chegou o momento no qual os donos da casa, se cansam da “tranquilidade” dos hospedes, e acabam convidando-os a sair. É difícil acreditar em histórias assim, mas meus avós me contaram que isso se passou com meu bisavô e seus filhos, que eram irmãos da minha avó. De herdeiros ricos a mendigos, assim aconteceu com a vida de muitos filhos de coronéis do cacau, por não saberem administrar ou investir em outras áreas ou na diversificação agrícola, e acharem que o ouro (como era chamado o cacau) não perderia o brilho, e nunca pensarem que chegaria o tempo em que todo o mal semeado nesta terra seria requerido.
Pois é, o sangue dos inocentes derramado pela ambição de alguns, clamou por vingança, que não demorou a acontecer, pois nesta vida, nada acontece por acaso. Se esta estória tem alguma semelhança com a sua vida real, é mera casualidade, desde criança que ouço esses casos contados por minha família, muitas vezes ocorridos com antepassados.
FRANCISCO CARLOS ROCHA ALMEIDA
PERFIL DA CIDADE DE COARACI EM 1956
Textos adaptados por PauloSNSantana
A duzentos metros acima do nível do mar em terras da Capitania de Ilhéus, Coaraci surgiu semelhante a muitas cidades da região, resultado do avanço dos desbravadores da região que predominante- mente era composta da mata atlântica, cujas terras férteis recebiam as primeiras sementes de cacau. Os primeiros desbravadores seguiram o curso do rio com seus cem quilômetros de extensão, desaguando no atlântico.
Coaraci era um caminho para muitas outras cidades e povoados da região como Almadina, Itapitanga, Itamotinga, São Roque, Bandeira, Floresta Azul. Uma estrada estadual asfaltada em 1964 no governo de Juraci Magalhães ligava Coaraci às demais cidades. A maior parte da população era composta por prestadores de serviço, comerciantes e pequenos fazendeiros, pessoas humildes. Os grandes fazendeiros residiam em Itabuna, Ilhéus e Salvador. A entressafra ia de janeiro a maio, período de paradeiro, quando o trabalho escasseava nas fazendas e o povo sofria provações, o que tornava a região vulnerável e pouco movimentada.
Naquela época muita gente acreditava que havia uma mina de ouro subterrânea, sob as águas do Rio Almada e que conjugada com um criadouro de peixes em cativeiro poderiam mudar a vida do povo da região. Acreditavam que no dia em que a ciência e à técnica se juntassem na região, e os homens passassem a explorar esses mananciais de recursos inesgotável certamente haveria maior abundância de riquezas do que existia sobre a ditadura da monocultura do cacau. O que se tornava um imperativo para se alcançar esse estágio de desenvolvimento era uma organização de cursos de nível técnico e superior, para habilitar as relações no domínio das técnicas da ciência para essas atividades de mineração. Mas só ficaram as ideias.
Fonte Livro «A Visão» de Pastor Jesse
COMO ERAM REALIZADAS AS COMPRAS E VENDAS DE CACAU EM 1957.
Nos meses de dezembro, com as chuvas abundantes e sol ardente, os últimos frutos de cacau já haviam sido colhidos e suas amêndoas recolhidas nas barcaças para secagem. As tropas diminuíam o ritmo de entrega do cacau em sacas aos armazéns da cidade. Os compradores com os olhos especulativos ofereciam preços irrelevantes a quem quisesse vender a produção na flor, alegavam que o preço em baixa oferecia risco de grande prejuízo a quem comprasse por antecipação o produto. Com isso os pequenos cultivadores se endividavam e as firmas exportadoras lucravam fortunas. Quando o produto estava nas mãos dos agricultores elas baixavam o preço. Quando a safra caia nas mãos dos compradores o produto para pronta entrega subia de preço. O agricultor tinha assim o seu produto hipotecado pela especulação. Dezembro de 1957 foi cheio de desesperança e atingiu a todos na região; os que venderam a safra na flor nada tinham a receber e os cautelosos se encolhiam e deixavam o tempo passar, o dinheiro não circulou, o comércio caiu e o desânimo se generalizou.
Fonte Livro «A Visão» de Pastor Jessé da Silva
A IGREJA CATÓLICA EM COARACI
A vila de Guaraci seguiu as mesmas tendências católicas do município de Ilhéus, tendo sido celebradas as primeiras missas em 1939 numa casa na esquina das atuais Av. Juracy Magalhães com a rua Jaime de Campos Ribeiro, hoje Laboratório Santa Rita. Era uma pequena sala onde se instalou a Capela N. Senhora de Lourdes, com trabalhos sob a responsabilidade do Frei. Victor O. F. Com a ajuda da comunidade as obras da igreja matriz tiveram inicio em 1937, onde após 10 anos de um árduo trabalho e dedicação da população as obras foram finalmente concluídas, e com mais um ano a torre estava pronta (foto). Em 1968 após uma grande reforma que exigiu a demolição da parte posterior para expansão e construção da nova cúpula a igreja chegou ao formato atual. Por aqui passaram os freis: Victor O. F., Hermano José, Oto, Mário, Petrônio, Augusto, Carlos, Valentim e a partir de 1968 tivemos como padres: Sinval Laurentino (dez/68 a mar/69), Paulo Lima (Jun/69 a ago/76), José Maria Alves (ago/76 a mar/78), Francisco Xavier Cardoso (Abr./78 a Nov./83), Alberto Kruchewsky (nov./83 a fev./88), Nilton Conceição de Souza (fev/88 a set/96) e João Boaventura Oiticica, a partir de set/96.
A congregação Mariana de Coaraci foi fundada em 30 de maio de 1947 através do Sr. Júlio Olímpio da Cruz. Interrompida em 1964 só retornou em 1979 com a chegada do dinâmico Pe. Xavier.
A 1ª eucaristia celebrada pelo Feri Victor, teve sua turma preparada sob a responsabilidade de Dona Alzira Clímaco e Profa. Rita Lima, católicas bastante atuantes na vila.
O Coral N. Sra. De Lourdes surgiu com a chegada do Frei Victor O. F. a partir de 1939 onde a Prof. Rita e a D. Alzira iniciaram um curso de catecismo com um grupo de crianças, cujo objetivo era prepará-las para a primeira eucaristia, o que aconteceu em 28 de maio de 1940. Após essa realização, o grupo já formado começou a cantar nas missas com as seguintes componentes: Judite, Joselita, Zenilda, Dulce Leal, Dejanira, Terezinha, Bidinha e Romilce.
Em 2003 o Pe. João Oiticica deu início às obras de restauração da Igreja Matriz, dando um novo formato à lateral, bem como uma nova cor à estrutura do templo.
PRIMEIRO DESFILE CÍVICO EM COARACI: DIA 7 DE SETEMBRO DE 1954. ALUNOS DO GINÁSIO DE COARACI.
Texto de PauloSNSantana
Em 1954, a primeira manifestação pública realizada pelo Ginásio de Coaraci foi o desfile de Sete de Setembro, até então realizado por alunos do curso primário. A partir de então começou a fazer parte do contexto cívico da cidade. A população eufórica, não continha a emoção e orgulho com os desfiles, e as evoluções da banda marcial, sob a batuta do maestro Airton Adami. No inicio da tarde os alunos se preparavam para o desfile em Itajuípe. Este intercâmbio serviu para aproximar os dois municípios, e diminuir a tensão causada pela rivalidade no futebol e a relação natural entre os dois. Mais tarde Coaraci ampliou este intercâmbio com outros municípios da região.
Fonte Coaraci Último Sopro de Enock Dias.
Os exames escolares nos anos 1955/56
O Professor João Leite, como diretor em 1955/56 estabeleceu duas avaliações aos seus alunos: a primeira delas eram as tradicionais provas parciais, e aconteciam em meados de junho, onde cada disciplina participava com dez assuntos escolhidos para dissertação e dez para as questões escritas. Nas provas finais de dezembro, eram vinte os assuntos para dissertação e outros tantos para os quesitos, seguidas de avaliação oral, e cada aluno era examinado por três bancas examinadoras.
GILDART GALVÃO
Gildart Galvão contou aos amigos como foi obrigado a cometer um homicídio quando era muito jovem. Ele disse que costumava se banhar nas águas do rio Almada, em Pouso Alegre, quando um cidadão de nome Petronílio, dele se aproximou, e, de arma em punho ameaçou matá-lo, sem nenhuma explicação. Gildart, demonstrando muita calma e a princípio pensando tratar-se de alguma brincadeira, pediu permissão para sair e vestir-se. Chegou a manter luta corporal com desafeto, que foi atingido pela arma de Gildart, escondida entre suas roupas. Gildart descontrolou-se com o fato. Mas o agressor que morreria pouco tempo depois, o isentou publicamente de qualquer culpa pelo ocorrido. Gildart era de extrema sensibilidade. Ele gostava de ficar em uma das portas do seu estabelecimento comercial para observar atentamente tudo que se passava no seu entorno. Quando algum vendedor ambulante de água, produtos hortigranjeiros ou de pirulitos, passava em frente a sua sapataria, ele acompanhava com seu olhar significativo e profundo todos os seus movimentos, chegando, às vezes, a acompanha-los a certa distância.
Gildart, em muito enriqueceu arquitetura de Coaraci, quando, através do fruto de seu trabalho, construiu, por volta de 1949, um belo e espaçoso palacete de dois pavimentos e garagem, com requintes da época, na esquina da rua J.J. SEABRA, com a Juvêncio Peri Lima, em frente ao atual BRADESCO. Lamentava-se com frequência por não ter estudado, e tudo fazia para que seus filhos tivessem essa oportunidade. Mantinha em sua mesa de trabalho livros e dicionários onde sempre olhava a procura de palavras e de frases de significado filosófico, a exemplo de Solércia, Égide, Apanágio, aplicadas posteriormente em seus pronunciamentos políticos ou pregações religiosas. Tinha no sangue uma forte vocação política, e mesmo professando a religião Batista, na época, com fortes divergências com a Igreja Católica, filiou-se ao partido Trabalhista Brasileiro, PTB, visando a prefeitura, nas eleições de outubro de 1958. Deu início então a seu trabalho de conquista do eleitor, com sucessivas viagens por todo município, mas, fazendo do Distrito de Itamotinga seu maior reduto. Depois de árdua batalha, ele não impediu que saísse vitorioso o senhor Jairo de Araújo Góes, com 68 votos de frente. Essa derrota política atingiu profundamente seu patrimônio, que resultou na perda de sua imponente residência. Mas ele retornou ao trabalho com todas as suas forças, e através de sua empresa, reergueu-se, recuperando boa parte de seu patrimônio. Mais experiente cauteloso, Gildart retornaria à política, visando das eleições de 1962. Nessas viagens, consultava demoradamente a relação dos eleitores analisando o perfil de cada um, e mantendo Itamotinga, como seu principal reduto. Ao se aproximar o dia da votação, Gildart, com suas largas passadas, rigorosamente milimetradas, repetia sorridente: - estou eleito! Foi um cidadão coaraciense da mais alta estirpe.
Fonte livro Coaraci o Último Sopro de Enock Dias Cerqueira, página 112.
COARACI JÁ TEVE ’’COPA DO MUNDO!’’
Gildarte Galvão possuía um velho carro, que só retirava da garagem em ocasiões especiais e durante às eleições em Coaraci. Gildarte foi Prefeito por duas vezes e nas eleições de 1962, retornou para o seu segundo mandato. Durante a campanha, viajava muito, para conversar e consultar os seus eleitores, principalmente em Itamotinga. Ao se aproximar o dia das eleições, podia-se vê-lo andando com suas passadas rápidas e milimétricas, sorrindo e afirmando para todos: - Estou eleito! Gildarte foi um coaraciense da mais alta estirpe. Nessas eleições manteve-se sempre em segundo lugar até que começaram a abrir as urnas de Itamotinga, através das quais conseguiu sua tão almejada vitória. Foi o terceiro prefeito de Coaraci, eleito para o mandato compreendido entre 16 de abril de 63 e 15 de abril de 1967. Gildarte possuía uma velho carro, que era muito importante nas suas campanhas politicas, como esse carro só era utilizado nos períodos de campanha politica, por tanto de quatro em quatro anos, ganhou da população o apelido de “Carro Copa do Mundo”.
Fonte Lrv. Coaraci Ultimo Sopro,pags.112,113,114.
SANTIAGO,UM OBSTINADO ÀS GRANDES OBRAS
Num dos tantos poemas do dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht ele nos fala de Homens que são imprescindíveis para a humanidade.
Quero, aqui, render minhas homenagens a um homem. O Cidadão, Prefeito e um desses imprescindíveis, o Senhor Antonio Ribeiro Santiago.
Santiago foi uma pessoa determinada, um gestor que compreendeu como poucos que o alicerce fundamental de uma sociedade livre é a educação e foi imbuído desse espírito que ele não mediu esforços e construiu uma das mais importantes obras de Coaraci.
Em local distante, numa área da periferia chamada pejorativamente e de forma discriminatória de Alto do Exu foi erguido aquele que seria o primeiro colégio público da cidade, o Centro Educacional de Coaraci. - CEC
Homem de visão, o prefeito Santiago, com a sua obra, acabara com os privilégios e promovera assim a universalização do ensino, onde todos passaram a ter direitos a uma educação de qualidade. E o local, antes chamado de Campo do Exu, sofreu um processo de urbanização e se transformou num dos bairros mais valorizados da cidade.
Mas esse Homem não era um obstinado apenas pela educação. Foi durante a sua gestão que Coaraci passou a ter uma torre repetidora de TV. Para isso acontecer viveu uma saga épica reservada somente aos grandes nomes da história.
Saga essa comparada à do personagem Fitzcarraldo, do filme que leva o mesmo nome, dirigido por Werner Herzog.
Assim como no filme, o prefeito Santiago foi um obstinado, um sonhador e ao mesmo tempo um realizador. Um homem com visão de futuro.
Ao implantar no topo de uma serra, no meio da mata, uma antena de transmissão ele estava colocando a cidade em sintonia com mundo. Além de assinar seu nome no livro da história da educação, da cultura e da comunicação de Coaraci
Nosso muito obrigado Prefeito Antonio Ribeiro Santiago!
“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis"
(Bertold Brecht)Carlos Bastos Junior (China ).