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O PADRINHO DE IVETE SANGÁLO

 

Texto adaptado por PauloSNSantana

 

Fonte: Livro Garatujas de Dr. Eldebrando Morais Pires. Escrito em novembro de 2005, em seu apartamento da Rua Carlos Gomes em Salvador na Bahia.

 

Antônio Sena chegou, despertou, surgiu, irrompeu em Coaraci. Não me lembro da data, Sena veio assumir a gerência do banco do Brasil, na deslumbrante Coaraci.

Gerente do banco na zona do cacau era mais do que prefeito para o cargo. Modificou o conceito de gerente enclausurado, era afável, fala mansa, passou a fazer visitas, e participar ativamente da vida da comunidade, visitava os clientes do banco sem grandes distinções, esclarecia direitos dos ruralistas e condições de outros clientes do banco.

Era muito estimado alegre e gentil. Na hora “H” era sério e preciso. Alguns lhe faziam pequenas restrições. Eu mesmo o achava mais para o banco. Também o banco era seu ganha pão, a sustentação da família, embora o banco vivesse do dinheiro da gente. Aí são outros quinhentos. Sena chegou meio analfabeto, mas fez admissão e foi estudar no Ginásio de Coaraci, um belo estabelecimento de ensino. De manhã no banco e à noite de blusão e tudo, caderno embaixo do braço a caminho das aulas lá no outro lado do rio. Era bom aluno e ninguém  falava de privilégios do gerente do banco com os professores, seus clientes de verdade.

Era esse o Sena de Coaraci: Estudante, gerente do banco do Brasil, cidadão. E aí entrou para a maçonaria para saber dos seus segredos e morrer com eles. Foi sim escolhido pela loja como sendo capaz de a ela pertencer. Passaram-se os anos e Sena foi transferido quando já estava apaixonando pela encantadora Coaraci, foi para Juazeiro na Bahia. Lá no norte, a mesma vida, a mesma conduta, a mesma aceitação da sociedade. E dos inúmeros clientes mais chegados, um lhe prometeu ser o padrinho de um filho. E o filho nasceu. Não era um filho e sim uma filha. Sena como Nildete sua esposa, a levou à pia batismal, tornando uma cristã com o prenome de IVETE. E o sobrenome de Sangalo. Aí está: Sena e Nildete são padrinhos de nada mais, nada menos, que Ivete Sangalo. Ela fala sempre disso nas suas entrevistas quando se refere ao nascimento em Juazeiro. Está sentindo o currículo do rapaz? Na verdade ele não é esse balaio tão grande. Nildete sua mulher esta sim é um doce.

Nildete e Sena saíram por aí fazendo uma porção de filhos. De juazeiro foi transferido para Recife. Afinal um prêmio: uma capital. E Recife.

Não era mais Sena. Concluiu o curso de direito. Era o doutor Antônio Sena de Coaraci. Gerente do banco do Brasil em Pernambuco, marido de Nildete Sena, padrinho de Ivete Sangalo, Mestre Maçom da Loja Filhos da Acássia de Coaraci, Rotariano Emérito! Chega? Eu falei: olha o currículo do homem. E se ainda fosse pouco, pai de cinco maravilhosos filhos. Uma alegria só. Catulo dizia: "ninguém sente uma alegria sem sentir logo uma mágoa".

E a mão certeira da tragédia se abateu sobre a família feliz. Sena entrou em coma e dez dias depois abriu os olhos, limpou a consciência, conferiu com estranheza o ambiente, aquela parafernália circundante, e tentou livrar-se dela. O médico ficou pasmo, segurou as suas mãos;

-hei rapaz calma!

Era um milagre com M grande e maiúsculo. Passaram-se os anos e um dia Sena subiu as escadas do meu apartamento na Rua Carlos Gomes, número 204. Conversamos, e a conversa foi bater lá no coma. No fim da conversa ele olhou pra mim e disse:-olha Bandinho eu estive lá do outro lado por dez dias e não vi nada! E arrematou:

- olha Bandinho esse pessoal da novela que veio do outro lado, não veio de lado nenhum. Ele deve ter ficado sim, em sono profundo e sonhando com aquelas besteiras todas. Eu fiquei dez dias em coma profundo, como tantos outros. Estive com o pé no lado de lá. O pé, a mão e a cara; faltou pouco para ir o resto. Dez dias. Olha Bandinho eu lhe dou minha palavra de honra eu presto testemunho em juízo se for o caso! E a prova testemunhal é válida sim. Lá do outro lado não tem é nada!

 

DOIS HOMENS E A JUSTIÇA!

 

Autor PauloSNSantana

 

Fonte um amigo coaraciense...

 

Essa história é baseada em fatos ocorridos no passado em Coaraci, os nomes dos personagens são fictícios.

Essa é a história de Antônio Cantaria um coaraciense, um herdeiro de um patrimônio com muitas pendencias financeiras, que teve de assumir uma grande responsabilidade ainda muito jovem. Era o mais velho de uma família bem conceituada, em um pequeno município do Interior da Bahia, localizado a quarenta quilômetros de Itabuna, setenta quilômetros de Ilhéus, vinte e cinco quilômetros de Itajuípe, vizinho de Almadina e Itapitanga, conhecido por Terra do Sol e encontrada no mapa como Coaraci na Bahia.

O nosso personagem era jovem ainda, quando assumiu o patrimônio do seu Pai, Senhor Rodrigues, e deveria administrar os bens da família, e partilhar com eles os lucros e as perdas. Era recém-casado, e a sua esposa Lucinda estava esperando o primeiro dos quatro filhos que tiveram.

Ha algum tempo o Senhor Rodrigues sabia que estava doente do coração, e que tinha pouco tempo de vida, por essa razão escolheu Antônio o filho mais velho para administrar os seus bens ainda em vida, pedindo que se comprometesse a cuidar da mãe, uma senhora com setenta e poucos anos. Pouco tempo depois daquele dia Rodrigues faleceu, teve ataque cardíaco fulminante. Antônio providenciou o féretro e assumiu todas as dividas do seu pai, com apenas vinte e dois anos de idade. Dias depois, reuniu-se com a família e programou os primeiros passos e avaliação da situação financeira dos bens deixados por Rodrigues. O resultado foi preocupante, havia débitos substanciais, que demandavam entendimentos com os credores e entre eles estava um grande banco baiano, o Banco da Bahia, em Salvador. Então planejou viagem à Salvador para conversar com o Gerente. Já naquela época Antônio sofria com uma ulcera violenta, que exigia alimentação adequada e medicamentos periódicos. Continuando o seu plano reuniu todos os documentos em uma pequena pasta, algum dinheiro para viagem, comprou passagem na antiga SULBA, e seguiu para capital. A viagem foi longa e cansativa, nove horas e uma péssima estrada, durante as quais o ônibus quebrou, e houve muitas paradas até o ponto final em Salvador. Chegou as dezesseis horas, e hospedou-se em uma pequena pensão frente à antiga rodoviária na Baixa de Quintas. No dia seguinte acordou cedo, escolheu sua melhor roupa, e às nove horas saiu para cumpri a sua missão. No Banco, na sala de espera, depois de um chá de cadeira, o gerente  o convidou para sua mesa, após apresentações e conferencia de documentos respondeu friamente que não iria atendê-lo naquele momento, que voltasse a semana seguinte, embora soubesse que Antônio viera do interior. O coaraciense saiu da sala do gerente decepcionado, humilhado e aborrecido, e retornou à Coaraci. Chegou muito cansado e contou para a esposa o que havia acontecido, mas a mesma  aconselhou a voltar ao banco para tentar outra vez, justificando que o Gerente poderia estar passando por um dia difícil. Alguns dias depois Antônio voltou ao Banco. Para sua decepção o Gerente se repetiu.

Antônio passou a elaborar um outro plano para acertar aquelas pendencias? Dias depois em Coaraci, preocupado, decepcionado, mas não vencido, ele queria voltar lá e ser atendido mesmo que fosse com uma carta de apresentação. A sua esposa quebrou o silencio, com mais uma sugestão:

- Disse firme e convicta, que ele fosse falar com o Dr. Duarte Catarino, um homem poderoso e muito amigo do falecido Rodrigues.

Antônio foi a Ilhéus, cidade onde residia o Dr.Duarte Catarino.

Após algumas horas estava diante de uma mansão, com área verde e grande jardim, portões imensos.

Assim que chegou ao portão foi barrado pelos seguranças, mas para sua sorte o Dr. Duarte estava no jardim do casarão acompanhado da esposa e o reconheceu de longe, aproximando-se e ordenando aos seguranças:

- Vocês não conhecem um homem de verdade!

–Esse é filho de Rodrigues Cantaria, grande homem, o deixe entrar.

Após saudações seguiram ao gabinete: O que você faz aqui meu jovem? Perguntou o Dr.Duarte. Esta com algum problema? Timidamente Antônio, passou a explicar o ocorrido, e quando acabou, o Dr. Duarte, sensibilizado, ofereceu-se para ajuda-lo. O jovem disse ao Dr. Duarte Catarino que fora ali pedir uma carta de apresentação. Dr. Duarte surpreso com aquele jovem sentado a sua frente, disposto a cumprir compromissos deixados pelo pai, disse:-Meu jovem, volte ao Banco, e fale com o Gerente que eu o enviei, diga meu nome e veremos o que acontece.

Vou lhe dar uma quantia em dinheiro para pagar o seu prejuízo com as viagens infrutíferas que fez a Salvador. Antônio levantou-se, agradecendo a proposta de ajuda, embora não tivesse aceitado, despediu-se do Dr. Duarte com um aperto de mão e voltou à Coaraci. Dois dias depois voltou ao Banco, fez aquela viagem difícil e finalmente estava sentado à mesa do gerente intempestivo, mas desta vez com uma carta na manga.

Quando o viu, o Gerente foi dizendo: - Rapaz você aqui mais uma vez, eu já não disse que não vou resolver seu problema agora? Antônio, calmamente perguntou ao gerente se poderia falar: Fez-se silêncio e ele começou a dizer:

-O senhor não quer saber quem me enviou aqui, agora? Estou aqui a mando do Dr.Duarte Catarino, o senhor conhece? O Gerente amarelou, pediu para repetir e sentou-se amedrontado. Antônio vendo que o funcionário considerado de alto escalão, tremeu nas bases, disse:

-Não se preocupe não Senhor Gerente, pois eu pedi ao Dr. Duarte Catarino para não fazer nada contra o senhor, pois o que eu queria mesmo era resolver as pendencias da conta do meu falecido Pai. O gerente repentinamente tornou-se gentil e atencioso e resolveu rapidamente a situação, inclusive com alguns descontos.

Antônio Cantaria retornou pra casa tranquilo e passou a cumprir fielmente todos os compromissos com o Banco da Bahia, do qual o Dr. Duarte Catarino era na verdade o maior acionista.

 

MEIO SÉCULO DEPOIS, PELÉ RESGATOU UM SONHO.

 

De José Leal

 

Início dos anos 60, o futebol de salão de Coaraci passou a ser reconhecido em toda região cacaueira  pela  organização de seus campeonatos que eram disputados na quadra dos Bancários, e que tinha no Santos Futebol Clube e no Botafogo seus principais componentes. A história do Santos não vou comentar, pois  já  foi contada aqui neste Informativo; a história do Botafogo é missão de Toinho. Ocorre que o nosso material, a exceção do goleiro que era igual ao do Gilmar, era curiosamente vermelho ou branco com faixa em amarelo e preto nas camisas. Nada que  lembrasse o Santos paulista, que era tradicionalmente branco. Naquela época o Santos de Pelé viria jogar em Ilhéus através de uma promoção fantástica, envolvendo patrocínios, bingo de 5 veículos, e toda a região se locomoveu até aquela cidade para ver o Santos jogar. Naquele jogo, estiveram jogando pelo Santos: Cláudio, Carlos Alberto (estreia no Santos),  Joel, Lima, Doval, Mengalvio Coutinho, Pelé e Pepe,  outros e mais outros  que entraram depois. No time de Ilhéus, Manequinha dificultou bastante a exibição de Pelé, que ainda assim nos proporcionou um belo espetáculo; Pelé o cumprimentou depois do jogo. O Santos levou Betinho goleiro  de Ilhéus para testes. Não ficou por lá. Dizem que fugia da concentração. O placar do jogo: Santos 5 x 1 Seleção de Ilhéus.

Aí, nós jogadores do Santos de Coaraci, tivemos a ideia de entregar a Pelé, uma carta, onde contávamos a história do nosso time, e pedimos a ele  que interferisse junto  ao Santos para nos presentear com um jogo de camisas original, o que muito nos honraria. Naquele tempo era difícil ter acesso a materiais esportivos, que também eram muito caros.

Capitão Leite, então Diretor do nosso Santos, conseguiu junto a segurança do jogo que entrássemos no campo, para entregar a tal carta a Pelé. Entramos eu, Capitão Leite e Edson, nosso zagueiro. Contudo, após entregarmos a correspondência, não conseguimos sair  do campo e fomos obrigados a assistir ao jogo sentados à beira do gramado. Pelé passava driblando todo mundo bem a nossa frente. Uma experiência inesquecível para os nossos olhos. A resposta da carta nunca aconteceu e tivemos que comprar o material original, caríssimo, com recursos de nossos simpatizantes, atletas e dirigentes. Decorridos 50 anos, Guto nosso amigo de família, santista, foi passar férias naquela bela cidade e contou esta história a um amigo seu  que é secretário de Pelé nos dias atuais. Então ele disse a Guto: - Compre a camisa  na loja da Vila Belmiro, que eu peço ao Pelé para autografar para o Sr. Leal.  Pelé ouviu a história, autografou a camisa (foto) e disse que naquele tempo o Santos recebia centenas de pedidos semelhantes, e que era impossível atender a todos. Ele enviou um abraço aos santistas coaracienses.

A camisa está comigo guardada a sete chaves. Posei com ela  para uma foto exclusiva para o Informativo Cultural.  Divido a honra deste presente com todos que comigo  compuseram a história do nosso querido Santos, além de agradecer ao Guto, pela iniciativa. Depois de 50 anos Pelé fez este resgate, passando para nós  a luz do seu privilegiado carisma uma grande lição de humildade e relações humanas. O Brasil sempre terá motivos para se orgulhar desse notável  homem abençoado por Deus. Obrigado Pelé.

 

ZÉ BIXIGUINHA

 

Texto de PauloSNSantana

 

Era baixinho, o nariz original, meio achatado com uma pontinha empinada, a pele morena, a cabeça achatada como a dos nordestinos, o pescoço curto e inúmeras marcas remanescentes de uma varíola. Não era gordo, gostava de sorrir, gargalhar, era simpático um personagem muito querido da cidade. Possuía uma barraca na feira onde vendia entre outras coisas um gostoso sarapatel, no centro de sua barraca havia uma mesa coberta com uma toalha rendada branca, e sobre a toalha especialmente arrumadas umas quarenta lindas xícaras de chá. Perguntado porque quarenta xícaras, ele respondeu:-se gosto de uma só, imagine de quarenta! Zé gostava tanto delas que sentia-se feliz, alegre e disposto no trabalho. Fonte: Livro de Dr. Eldebrando Moraes Pires, página 54,55.

 

ARMADILHA

 

Autor PauloSNSantana

 

Essa estória é baseada em fatos ocorridos nos anos noventa, no município de Tacuru, num acampamento de ciganos. Os nomes das cidades e personagens e o conteúdo da estória são fictícios.

A caminho de Tacuru, uma pequena equipe de policiais civis e dois militares, sob o comando de um delegado municipal, tinham a missão de localizar, prender e recambiar para a cidade de Tiriti o cigano Ramírez, acusado de roubo e agiotagem, além de assassinatos na região. Para isso teriam que entrar em território do inimigo, um acampamento de ciganos.

A equipe era pequena e vulnerável para aquela missão difícil, o cigano Ramirez era um criminoso perigoso que vivia em um município vizinho, portando outra jurisdição, e no seio de sua gente ele era respeitado, temido e venerado.

A viagem foi programada com antecedência, saíram na madrugada de um Sábado, pois pretendiam, retornar ainda pela manhã. Jonas Albuquerque era um homem de posses, um cinquentão e o delegado municipal, Lucas Barbacena seu auxiliar era um jovem com uns trinta e poucos anos, habilidoso com armas, destemido e voluntarioso, Juacir e Atanásio, eram os dois soldados, desgastados pelo tempo de serviço, sem preparo para a ação e carregavam fuzis e revolveres e pouca munição.

O delegado era um homem sistemático, metódico, rígido e exigente no cumprimento do dever.

Barbacena era um oficial sem patente, servidor publico municipal, lotado na delegacia de Tiriti, onde fazia diligencias e investigações, efetuava prisões o que fosse necessário para manter a lei e a ordem. Os  policiais militares eram parte de um pequeno contingente existente em Tiriti.

O armamento que conduziam era velho e ultrapassado, e eles estavam despreparados para aquela missão, mas determinados a prender e trazer o bandido para Tiriti. Eles não tinham a menor ideia do que os esperava. Noticias ruins vazam, e um cigano da região de Tiriti, soube e mandou avisar a sua gente em Tacuru. Os ciganos são extremamente corporativistas, e não costumam respeitar limites quando se trata de manter a honra e a união das famílias, são conhecidos pela fala mansa e o dom de enganar e ludibriar as suas vitimas. A família de Ramirez era conhecida pela agressividade e crimes contra cidadãos da região do cacau. A equipe seguia viagem em uma Rural e um Escort, cada carro com dois ocupantes, o delegado e seu auxiliar e os dois policiais militares, respectivamente. A distancia de Tiriti a Tacuru era relativamente curta, mas o percurso deu tempo para os policiais conversarem sobre amenidades, e no carro da frente, o delegado combinar com seu auxiliar como abordar o bandido e como reagir diante de uma resistência. No segundo carro os policiais militares estavam apreensivos, muito nervosos com aquela missão perigosa que iriam cumprir, eles eram acostumados a ações melindrosas apenas no município onde eram lotados e isso causou medo e apreensão , eles estavam cometendo um terrível erro, ao subestimar um bandido e sua quadrilha, e pra piorar não comunicaram a ação à policial de Tacuru.

Após duas horas de viagem chegaram ao acampamento de onde  avistava-se a cidade a uns cinco quilômetros.

Para chegarem ao acampamento foi necessário subir um morro, uma estrada de aproximadamente dois quilômetros, serpenteando abismos, rodeado de fazendas de cacau e pecuária. Finalmente avistaram o acampamento e constataram que havia cavalos, motocicletas, carros e gente eufórica, algumas alcoolizadas, que freneticamente cantavam e dançavam ao som mecânico de um automóvel. Havia muitos ciganos, mas a equipe concluiu que estavam comemorando alguma coisa, que era uma festa. Talvez um casamento. As festas ciganas são tradicionalmente organizadas, e os ciganos obedecem a um ritual milenar, que começa com oferta de presentes aos noivos e seus familiares, danças tradicionais e solenidade religiosa. Uma festa de ciganos pode durar até uma semana. Havia também crianças, mulheres, o que tranquilizou a equipe, infelizmente um engano fatal. Aproximaram-se mais, e a cem metros do lugar, foram recebidos por uns cinquenta ciganos, entre eles mulheres que olhavam os chegantes nervosamente. A musica continuava alta, e a festa colorida pelas roupas das ciganas, dava um tom amistoso ao ambiente, os ciganos ostentavam joias, relógios e sorrisos dourados. As belas ciganas seus corpos sensuais e suados.

Estacionaram a camionete no centro do acampamento, junto a uma fogueira ainda esfumaçante, a festa tinha virada a noite. Os soldados estacionaram  a uns vinte metros do local, desligaram o motor, e ficaram junto ao carro. O delegado e seu auxiliar foram levados por uns vinte ciganos até o Chefe do acampamento, que era um homem alto, cabelos e bigode grisalhos, usava um chapéu de couro, fumava um grande charuto e na cintura havia um parabélum 44. O homem educado, sorridente e tranquilo, apresentou-se como Zidane. Os esperados visitantes foram saudados calorosamente, e nos primeiros instantes pareciam convidados dos ciganos. Infelizmente eram policiais com a difícil missão de prender e tirar dali o filho mais jovem do homem mais respeitado e amado da tribo. Mas Ramirez era  bandido, ladrão e assassino e tinha que ser conduzido preso para cadeia de Tiriti para pagar pelos seus delitos. O Cigano com rosto rosado, olhos grandes e alguns dentes de ouro, silenciou-se um instante, como a pensar qual palavras usar naquele momento..., mas finalmente perguntou:

-O que faziam ali e quem os havia convidado, se vieram para festa de casamento de sua filha. As ciganas aproximaram-se curiosas, farejavam tudo, atentas a resposta dos estranhos.

Quando o Delegado começou a explicar o motivo da presença ali e o objetivo que os havia levado até lá, o clima mudou de vinho pra água suja! Ordenaram que parasse a música, e a festa acabou imediatamente! As ciganas começaram a gritar e chorar, armou-se um grande barraco, os ciganos estavam bravos e descontrolados. Um enxame deles aproximou-se dos dois policiais civis, armados até os dentes.

Era uma festa com muitos convidados e uma prisão seria inaceitável naquele momento, os dois homens da lei estavam extremamente pressionados, o delegado e seu auxiliar estavam de pés junto ao chefe dos ciganos, mas corriam naquele momento sério risco de serem agredidos, pois estavam rodeados de ciganos bêbados e raivosos manifestando revolta e agressividade. O delegado municipal inabalável estava muito seguro e em nenhum momento demonstrou medo, procurou sair do meio daquela gente, recuou dizendo que tudo iria se resolver na justiça, mas a cada passo eram cercados por uma teia de feras aos gritos, ameaçando-os de agressão, ordenando que saíssem imediatamente dali.

Os soldados persentiam o perigo e o medo era inevitável, estavam na verdade apavorados. O cigano criminoso surge no meio da multidão, o procurado pela lei, que já havia sido preso pelo mesmo delegado, semanas antes, e que estava solto por falta de provas, alegou aos gritos, que esteve preso em Tiriti e que na cadeia foi espancado. Disse que não voltaria pra Tiriti, de jeito nenhum, que só sairia dali morto! Foi a gota d’agua! O descontrole já era visível, havia ciganos armados com facões, biscó, revolveres e rifles de repetição, algumas mulheres estavam armadas. Foi quando um cigano saíu da multidão acertou o maxilar do auxiliar do delegado com um golpe de facão, Barbacena gritou e caiu desacordado, com um corte profundo no rosto e o queixo deslocado, os ciganos ataram a vitima com facadas, golpes de facão, um massacre, quando o serviço havia sido feito partiram pra cima do delegado que também foi brutalmente assassinado. Os soldados atiravam para cima para amedrontar a multidão, mas também foram ameaçados pelos ciganos descontrolados que passaram a atirar pedras e paus no carro, só não matando os dois porque o Zidane interferiu, gritando:

-Policial de farda nós não matamos não! Deixem eles em paz, que vão embora e levem seus mortos.

Vamos sair todos daqui agora! Carreguem o que puderem e vamos embora agora! Abandonaram os corpos dilacerados e inertes, cobertos de sangue, estendidos no terreiro. Em pouco mais de dez minutos o acampamento estava vazio e silencioso. Os ciganos fugiram do local apressadamente, levando o que podiam carregar. O sol estava quente, eram aproximadamente treze horas, os dois homens da lei permaneciam inertes, estirados no chão quente agonizando, sob os olhares dos soldados que rezavam pelas almas, choravam pelos amigos.

Foi quando um deles seguiu em disparada para Tacuru, para comunicar o fato a policia local, que imediatamente deslocou-se para a cena dos crimes. Foi solicitado um rabecão, para conduzir os corpos ao Instituto Médico Legal de Itabicas. Foi aberto um inquérito para investigar os crimes e punir os culpados, mas como foi um linchamento, os verdadeiros culpados permaneceram impunes. Quanto ao bandido Ramirez, nunca mais foi visto, dizem que os ciganos fugiram para o sul do país. Os soldados foram ouvidos e continuaram servindo no mesmo pelotão. O Delegado Jonas Albuquerque e seu oficial Lucas Barbacena foram velados e sepultados no cemitério de Tiriti .                                      

 Acredite se quiser!

histórias de Coaraci

População estimada 2014 (1)20.183

População 201020.964

Área da unidade territorial (km²)274,500

Densidade demográfica (hab/km²)74,17

Código do Município2908002

Gentílicocoaraciense

Prefeito

JOSEFINA MARIA CASTRO DOS SANTOS

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