
AVENIDAS J.J. SEABRA E JURACY MAGALHÃES UMA
HOMENAGEM DE COARACI AOS GOVERNADORES DA BAHIA
Fonte: Livro Coaraci Ultimo Sopro de Enock Dias de Cerqueira.
Texto adaptado por PauloSNSanatana
Em 1932 o canteiro de obras da Praça Getúlio Vargas reduziu repentinamente os seu ritmo de trabalho. Os operários foram surpreendidos com as noticias chegadas de Ilhéus, da eclosão da Revolução Constitucionalista, que reclamava o fato de Getúlio Vargas estar governando sem uma Constituição legítima. O povo ainda não havia esquecido a revolução de 1932, quando a 23 de novembro de 1935,no extremo Nordeste da Nação, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, eclodia a Intentona Comunista organizada por Luís Carlos Prestes, que clandestinamente retornara do exílio, para onde teria ido após a grande marcha que atravessou o Brasil de 1924 a 1928. No canteiro de obras da Praça Getúlio Vargas, soube-se dos inflamáveis protestos que José Joaquim Seabra realizava em Salvador através da imprensa e de passeatas, algumas agressivas, pelo fato de Juracy Magalhães, natural do Ceará e Coronel do Exercito, ser Governador de Estado, eleito pela Assembleia Estadual Constituinte, em 14 de Outubro de 1934.Os protestos de antes, transformaram-se em momentos de grande alegria, com o mesmo povo vibrando nas ruas , em 10 de novembro de 1937,quando Juracy Magalhães foi substituído pelo Comandante da Região Militar, Cel. Antônio Fernandes Dantas, em decorrência da decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas. Essa atitude agradou profundamente a J.J. SEABRA, que foi para os destinos da Bahia uma espécie de Helvécio Lemos para os posteriores destinos de Coaraci, que o homenagearia nomeando importante avenida no centro da Cidade com o seu nome: Avenida J.J. SEABRA. A constante presença de submarinos, em nossa costa, pelo apoio dado por Getúlio Vargas às forças aliadas, na Segunda Guerra Mundial /1939-1945, prejudicou profundamente as exportações, fazendo com que muitos produtores, por falta de preços, jogassem dentro do Rio Almada, em plena vila, todo o cacau trazido de suas
fazendas.
A visita de Getúlio Vargas a Ilhéus, durante campanha presidencial em 1950, levou muitos coaracienses ao porto de Ilhéus para lhe dar as boas vindas, vê-lo de perto. Uma multidão estava presente para recebê-lo, e ouvi-lo, como ficou muito difícil desembarcar, Getúlio usou o sistema de som do Navio para se dirigir ao povo, disse em alto e bom som: ”coloquem-me na presidência, que construirei a ponte Ilhéus-Pontal”.
Getúlio foi eleito e iniciou seu mandato em 1951, uma oposição fortíssima agia contra o seu governo, e o episódio do atentado contra Carlos Lacerda, a morte do major Rubens Florentino Vaz, atingiu seu governo fatalmente. Não suportando a pressão violenta de todas as esferas do País, comete então suicídio em 24 de agosto de 1954.
Em Coaraci as aulas foram suspensas, o comércio fechou suas portas, as rádios alteraram imediatamente suas programações. Nas ruas de Coaraci o sentimento era de tristeza, muita gente chorava, pessoas abatidas, suas fotografias eram exibidas em todos os cantos ,ruas e avenida., como se fosse a morte de um parente.
ANTIGAS BODEGAS DE COARACI.BATE-PAPO
Uma cultura que sempre existiu em Coaraci
Fonte Livro Ultimo Sopro de Enock Dias Cerqueira
Texto adaptado por PauloSNSantana
Esses pontos sempre existiram na história de Coaraci, desde 1932, nos períodos de repouso dos trabalhadores que trabalhavam nas obras de construção da rodovia e da praça. Surgiam por acaso, e em torno de pequenos comerciantes que aproveitavam sua popularidade, entrando também na conversa da clientela. De repente uma mesa, algumas cadeiras, mais uma mesa e mais cadeiras, uma televisão, que não despertava nenhuma atenção.
Os casos, as histórias, iam surgindo um após outro, lembranças dos fatos de grande importância dentro da história do município. Em um desses pontos de bate papo, na rua J. J. SEABRA, onde existiam duas ou três mesas, sempre ocupadas pelos admiradores de cerveja, no balcão, uma posta de bacalhau presa por um barbante no alto indicava que ali se vendia aquele produto. Entre um gole e outro, alguns frequentadores aproveitavam da distração do proprietário, para tirar uma lasquinha. Em alguns minutos outra lasquinha, sempre que o dono distraía-se com qualquer coisa; Os outros vendo aquilo, cada um tirava e provava do tira-gosto, sorrateiramente pra não despertar a atenção do proprietário. Mais tarde nova investida. O proprietário só descobria a façanha quando se preparava para fechar o estabelecimento, no lugar do bacalhau só encontrava o barbante balançando ao sabor do vento. O coitado xingava, esbravejava severamente, mas depois, pensava..., quem tem como me pagar, não nada me deve!
ROTA DO CACAU
Bandeira do Almada: Era uma feira livre. Certa ocasião um caçador levou um tamanduá bandeira morto, e deixou pendurado ao sol, a noticia espalhou-se, e a feira passou a ser conhecida como Bandeira do Almada.
Sequeiro Grande por que o rio secava naquelas paragens constantemente;
Acampamento: Esse nome surgiu durante a construção da estrada Itajuípe - Coaraci.
O Enfeza Homem: Havia um homem na região muito cismado, que quando o ônibus passava levantando poeira, baixava a cabeça, ocultando o rosto com o chapéu. Por isso os condutores diziam que ele ficava enfezado. E que aquele lugar era o Enfeza Homem;
União Queimada: Houve uma grande briga na feira livre do lugarejo, lá havia uma rua de casas cobertas de palha, os briguentos enraivados, tocaram fogo nas casas, queimando todas. O lugar passou a ser conhecido como União Queimada;
São Roque era conhecido como o Garganta, Itajuípe como Pirangi. A Lagoa por que havia duas lagoas na região. Constantemente cheias pelas constantes chuvas e que dificultava o acesso aos tropeiros.
A ESTRADA DE FERRO DE ILHÉUS
Texto adaptado por PauloSNSanatana
Construída pelos Ingleses e inaugurada em 1905, foi a grande responsável pelo imenso comércio de mercadorias, produtos agrícolas e, sobretudo pelo deslocamento de pessoas que habitavam e trabalhavam ao longo da ferrovia, nos primeiros 35 anos do século XX. Essa ferrovia possuía dois ramais: o leste oeste partia de Ilhéus acompanhando o rio Almada pela sua margem direita, quando, nas proximidades da Lagoa Encantada, tomava bruscamente o sentido leste até atingir um Posto comprador de cacau, conhecido no final do século XIX como Sequeiro de Espinho, próximo a um pequeno povoado mais tarde chamado de Pirangi. Outro ramal, norte-sul, ligava Poiri emancipado com Aurelino Leal, até Itabuna, passando por Agua Preta, mais tarde, Uruçuça. O encontro desses dois ramais proporcionou, logo após sua inauguração, o surgimento de dois importantes centros de desenvolvimento: Banco do Pedro, ao lado esquerdo do rio Almada e Rio do Braço, um pouco mais abaixo, a margem esquerda do afluente de mesmo nome. O apogeu desses dois centros comerciais provocou insatisfação dos comerciantes, principalmente de Ilhéus, que viam neles os grandes responsáveis pela queda em suas vendas, já que importantes famílias da região utilizavam-se frequentemente da ferrovia para grandes compras. Com o surgimento gradativo das rodovias em outros pontos do município de Ilhéus, a partir de 1935, a ferrovia foi aos poucos caindo em abandono. Em 1960 era apenas um remota lembrança na memória dos antigos habitantes, mais tarde foi definitivamente extinta.
COARACI AOS 35 ANOS
Texto adaptado por:
PauloSNSantana
Com 35 anos de idade o município de Coaraci era uma cidade próspera e bonita. O município possuía uma população de quarenta mil habitantes, vinte e cinco mil dos quais concentrados na zona urbana e o resto na zona rural.
Coaraci situada em uma região privilegiada pelo verde, a extensa mata podia ser observada a sua volta, principalmente dos pontos mais altos da cidade, como o alto da Colina, de onde se tinha uma visão quase total de toda a extensão da zona urbana. Limitada com Itapitanga ao Norte, Ibicaraí ao Sul, Ibicuí a Leste, e Itajuípe ao Oeste, Coaraci era considerada a cidade “satélite” da região. Formada por ruas extensas e arborizadas, era uma cidade onde predominava o verde. Até mesmo no centro comercial, onde se concentrava em grande parte, no calçadão da rua Rui Barbosa e Praça Presidente Vargas. Nessa mesma área, estavam localizadas as agências bancárias do município (Banco do Brasil, Bradesco, Baneb e Caixa Econômica Federal).
COARACI E SEU CARNAVAL
Na primeira metade dos anos trinta Coaraci não tinha ruas que permitissem manifestações carnavalescas. No entanto, elas já aconteciam com frequência em várias de nossas fazendas. Uma delas, no Brejo-Mole, pertencia a José Simões, onde era proprietário de um engenho dentro de uma plantação de cana. Os convites eram verbais e já com o tipo de roupa a ser usada, por homens e mulheres.
As duas fotografias da página 285 do livro “Coaraci: o Último Sopro” registram as primeiras manifestações carnavalescas de Itacaré do Almada, em 1937 ou 38. Numa delas vê-se o nome “Cordão do Bola Preta” no estandarte, certamente, numa alusão ao cordão de mesmo nome criado no Rio de Janeiro para o carnaval de 1919. Em pouco tempo, os armazéns de cacau foram as primeiras opções para essas festas, mesmo assim muitos preferiam valorizar as promoções de José Simões, mesmo que precisassem caminhar oito quilômetros. As poucas ruas de Coaraci, já consolidadas, embora de chão batido, adquiriram um importante impulso a partir de 1945, quando entrou em cena a Banda de Música 13 de Junho, onde clarinetes, saxofones, trombones, trompetes, tubas, bombardinos, caixas e surdos arrastavam foliões através de frevos e maracatus pernambucanos, e de marchas e sambas cariocas.
Destaque especial no carnaval de Coaraci a partir de 1946 foi o afoxé de Vitalino Ribeiro, onde cerca de uma centena de figurantes com fantasias coloridas, faziam evoluções de acordo com o ritmo de sua batucada, cujo andamento foi uma criação do próprio Vitalino, já que nunca se ouviu nada parecido em nenhum outro quadrante do Brasil. A população, orgulhosa, jogava em sua direção todo o estoque de lança-perfume, serpentina e confete que tinha nas mãos. A população rural, bem superior à urbana enchia as ruas e praças do distrito e dificultava a locomoção dos foliões. Em 1952 e 1962, entravam em atividade, respectivamente, o Clube Social e o Clube Bancários, logo se constituindo em espaços apropriados para festas. Em 1954, um bloco improvisado e mascarado de estudantes do ginásio juntava-se aos que já existiam. Executava evoluções, chamavam pelos nomes e acariciavam os que estavam ao longo das ruas. Tinha um pequeno repertório e surgia repentinamente numa esquina cantando: Chegou a turma do funil / Todo mundo bebe / Mas ninguém dorme no ponto / Ha, ha, ha, ninguém dorme no ponto / Nós é que bebemos e eles ficam tontos. Eu bebo, sem compromisso / Com meu dinheiro ninguém tem nada com isso / Aonde houver garrafa, aonde houver barril / Presente está a turma do funil. Após algumas repetições, trocava de música e começava: As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar / Eu passo a mão no saca, saca, saca-rolha / E bebo até me afogar /( Deixa as águas rolar). Se a polícia por isso me prender / Mas na última hora me soltar / Eu pego o saca, saca, saca-rolha / Ninguém me agarra, ninguém me agarra. Em seguida cantava: Domingo é dia, de pescaria, oi / E lá vou eu de caniço e samburá / Maré ta cheia / Pesco na areia, oi / Porque na areia tem mais peixe que no mar.... .
Enock Dias de Cerqueira
CARNAVAL EM COARACI
Fonte Livro Coaraci Último Sopro
Texto adaptado por PauloSNSantana
As primeiras manifestações carnavalescas de Coaraci aconteceram ainda quando era Itacaré, um povoado em 1937, quando vários cordões e afoxés desfilaram fantasiados pelas ruas de chão batido, com muitos outros usando ternos de linho e sapatos de fino trato, ao lado de muitas crianças e adolescentes. Em meio a seus organizadores estavam os recém chegados Ernesto Feitosa e Antônio da Silveira. A cada ano, a festa carnavalesca tornava-se mais animada, e novos participantes juntavam-se aos já conhecidos, quase todos, com suas bases no lado esquerdo do Rio.
O impulso carnavalesco tornou-se maior, a partir de 1944, quando surgiu o primeiro conjunto formado por instrumentistas da filarmônica, empunhando saxes, trombones, trompetes, surdos, e caixas, arrastando grandes e ruidosos grupos que enchiam ainda mais as ruas e praças da vila.
Com a população do distrito estimada em torno de quarenta e quatro mil habitantes, o carnaval de 1948 surpreendia seus promotores em decorrência da grande animação de seus foliões. Sem clubes sociais, os amplos armazéns de cacau, livres do produto, serviam de locais para importantes bailes em pleno centro urbano.
Pequeno grupos fantasiados surgiam em cada esquina fazendo evoluções padronizadas, carregando sacos de confetes, pacotes de serpentinas coloridas, e espalhando esguinchos de lança perfume sobre a multidão postada nos passeios, janelas e portas de suas casas. Ao que parece, a posse de Getúlio Vargas na Presidência, trouxe mais animação ao carnaval de 1951. Surgia, nesse ano, entre os foliões a Marcha do Caracol, uma feliz criação de Peterpan e Afonso Teixeira, dando fortes referências ao problema da habitação no Brasil.
O carnaval de 1953 trazia uma animação ainda maior, em decorrência dos festejos de emancipação, decorridos a pouco mais de dois meses. Os serviços de auto falantes, continuavam oferecendo aos coaracienses, músicas da época, sem esquecer das tradicionais, todas elas, devidamente acompanhadas pelos foliões que estavam nas ruas.
As letras das musicas eram publicadas nas revistas do Rádio e Radiolândia, encontradas em muitas casas e que já faziam parte da rotina de cada folião. Mal um grupo dobrava uma esquina outro, surgia, mascarado, batendo caixas, surdos e tambores, e cantando inesquecíveis clássicos carnavalescos.
Entre 1954 e 1958, Coaraci manteve os carnavais de alto nível, sempre engrossados por grupos que chegavam das fazendas, em trajes típicos e já cantarolando.
A partir de 1960, o carnaval sofreria um profundo declínio, a semelhança dos festejos natalinos. Uma das últimas manifestações aconteceria em 1959, quando um grupo de estudantes do ginásio percorria as ruas da cidade, onde se destacava a música, a Turma do Funil.
COARACI: MAIS CARNAVAL
No Informativo XIV foi feita uma rápida abordagem ao Cordão do Bola Preta fundado em 1937, e já participando intensamente do carnaval de 1938 na condição de primeira manifestação do gênero da história urbana de Coaraci, que sete anos antes tinha aproximadamente 40 moradores residindo em dez ou doze casas, algumas delas também servindo de comércio. Essa pequena e agitada comunidade só se tornou conhecida após a chegada do administrador Juvêncio Peri Lima em 1931, época em que as principais fazendas de pecuária já estavam com milhares de reses em seus pastos, e as de cacau já estavam próximas a 90% de sua plantação, atividades essas que se desenvolveram por cerca de quarenta anos, onde as projeções indicam a participação de aproximadamente trinta mil pessoas. Mesmo dispersa dentro da mata, essa grande população foi consolidando um profundo sentimento de união entre irmãos, e demais famílias, e assim se mantendo à medida que foram se transferindo para a área urbana da vila.
Uma fotografia da época mostrou que o Bola Preta era composto por pouco mais de cento e trinta figurantes, onde a criançada menor de dez anos predominava, e as fantasias de colombina, arlequim, pirata, marinheiro, pierrô, palhaço eram as mais preferidas, da mesma forma que no carnaval do Rio de Janeiro, tido como referência. Suas músicas, fantasias e evoluções eram tão contagiantes que blocos masculinos, femininos e mistos já estavam participando do carnaval de 1939, 40, 41 a exemplo dos inesquecíveis: Não dou Confiança, Gato Preto e Holandesas, esse, organizado pela sra. Noêmia Leal, esposa de um dos mais conhecidos comerciantes da época. A atual praça Getúlio Vargas e imediações, até então, sem calçamento, não permitia qualquer manifestação pública, em decorrência das obras em execução.
Grupos de dez, de cinco, de três, de dois, foliões individuais, mascarados ou não, e sem destino, enchiam as ruas de chão batido, cantando e lançando jatos de lança-perfume, punhados de confetes e bobinas de serpentina colorida para todos os lados para dar vazão às alegrias do carnaval coaraciense. Zum Zum de Dalva de Oliveira; Mamãe eu Quero de Jararaca; Saca-Rolha e Ressaca de Zé e Zilda; Madureira Chorou de Joel de Almeida; Nós, os Carecas dos Anjos do Inferno; Praça Onze do Trio de Ouro; Balzaquiana de Jorge Goulart; Lata d’Água de Marlene; Eva Querida de Mário Reis; Trabalhar, eu não de Nuno Roland; Confete de Francisco Alves eram apenas algumas das dezenas e dezenas de músicas cantadas nas ruas pelos carnavalescos e também executadas pelos serviços de alto-falantes da Voz da Liberdade de Helvécio Lemos e da Voz do Comércio de Oscar Araújo.
A criação da Banda de Música 13 de Junho, a partir de 1944 impulsionou ainda mais a alegria dos coaracienses, que tinham, a partir de então, músicos de qualidade, filhos da terra vindo das classes mais humildes do distrito, que abrilhantavam todos os tipos de festas, inclusive as procissões católicas. Era composta inicialmente por cerca de 40 figurantes, e até 1954 esteve sob a batuta do maestro fundador João Evangelista Melo.
Foi também em meados dos anos quarenta que a Batucada de Vitalino Ribeiro e o Afoxé de Joaquim Nascimento surgiram nas ruas de Coaraci, provocando arrepios nos que lhes assistiam. É preciso lembrar que a sua população foi beneficiada a partir de 1941 com o parque de diversões Estrela do Sul, que atraía todos os dias milhares de moradores do meio da tarde ao amanhecer do dia seguinte. Em 1944 surgiram o campo de futebol, o cine Teatro Coaraci, a escola de Corte e Costura de Alice Kruschevsky, e em 1949, o requintado cine Glória que se tornou mais um ponto de atração da população.
A partir de 1937/38, as festas, mesmo as não carnavalescas, aconteciam nos armazéns de cacau espalhados em diversos pontos da vila em decorrência da falta de clubes sociais, embora boa parte da população continuasse fiel aos já tradicionais bailes à fantasia que vinham acontecendo em fazendas da região, sobretudo na de José Simões, no distante Brejo Mole, próximo a Ribeirão do Terto, época em que todo o Brasil já cantava A Jardineira, marcha de Benedito Lacerda e Umberto Porto. Algumas outras da região da Lagoa, das Duas Barras e da estrada de Pouso Alegre também se tornaram conhecidas por suas festas e churrascadas que aconteciam em boa parte do ano.
Nenhum centavo do dinheiro público participava dessas festividades. Segundo moradores da época, todas as comemorações carnavalescas bem como as festas natalinas iniciadas a partir de 1938, mantiveram o mesmo brilho em todos os anos da década de quarenta, só perdendo motivação por volta de 1955, já com Aristides Oliveira na condição de primeiro prefeito, quando possivelmente nove a dez mil coaracienses já tinham deixado a cidade no período médio de quatro anos. Nos primeiros anos da década de setenta, já se via uma cidade inteiramente desmotivada com uma população se reduzindo a cada ano, sem a meninada nas ruas, nas fazendas, nos campos de futebol, nos cinemas, nos clubes, nas tradicionais prosas na praça até uma, duas horas da madrugada, etc. Essas mudanças não ficaram restritas a Coaraci, atingiram todos os municípios brasileiros.
Boa parte da população adulta encontrava em Coaraci, desde meados dos anos trinta, várias formas noturnas de divertimento, onde permanecia até a alta madrugada. Essas atrações se concentravam na rua 1o. de Janeiro, conhecida como zona de prostituição. Aliás, essa intensa movimentação em direção a Coaraci era também observada por volta de 1943/44, na estrada das Duas Barras, em plena segunda guerra, não apenas durante o dia, mas também à tarde, à noite e em toda a madrugada, em qualquer direção da estrada, época em que, sete de cada dez coaracienses, ainda residiam em sua zona rural.
Há décadas que as construtoras pelo Brasil afora procuram atrair compradores para seus imóveis oferecendo um grande número de opções de lazer, onde alguns esquecem que todos eles são cobrados nas taxas mensais de condomínio. Todas essas opções juntas eram insignificantes em relação ao que nossos pioneiros coaracienses ofereciam em suas fazendas: banho de rio, de represa, passeio pela plantação de cacau, a pé ou em animais, jogos de futebol, consumo de qualquer tipo de fruta de época, cuscuz de milho verde, frango a molho pardo, leitão na brasa, feijão com jabá Rio Grande, pituzada com espécimes de grande porte, além de poder ver estrelas e planetas no céu azul, com se estivessem há poucos metros dos próprios olhos, privilégio nunca alcançado por aqueles que são beneficiados pela energia elétrica .
As últimas manifestações carnavalescas em suas modalidades tradicionais aconteceram entre os anos de 1954 e 60 por contra das primeiras turmas pioneiras dos estudantes do Ginásio de Coaraci, onde o tema era a música – Turma do Funil.
Enock Dias de Cerqueira