
MINHA BISAVÓ ANA
Fonte: Álbum de Família
José A. F. Rebouças
Texto adaptado por: PauloSNSanatana
Certa vez Ela estava na casa de Tio Juca Rebouças em Santa Inês, um município que tinha um serviço precário de água encanada.
Um mata-mosquito chegou para examinar as instalações sanitárias da casa, como exigia o serviço contra malária. Havia no quintal um tonel, onde se aparava a água, que só caia de dias em dias.
Os meninos colocavam umas piabinhas no tonel, justamente por causa de mosquitos, e jogavam pedacinhos de pão para elas. O fiscal implicou com as migalhas de pão e disse que ia derramar aquela água. Minha Tia Adelina pediu que não fizesse aquilo, pois iria ficar sem água vários dias, com a casa cheia de crianças.
Tio Juca estava viajando. O sujeito insistiu: derrama, não derrama, joga fora, não joga... Minha Bisavó, no quarto, escutava a discussão. A certa altura, passou a mão no revolver 38, apareceu na porta da cozinha, apontou para o mata-mosquito e falou: ''Diga aí, de novo, que você vai jogar fora essa água, seu moleque!''. Imediatamente o tremulo mata-mosquito retirou-se cabisbaixo e muito pálido, e nunca mais voltou a importunar a família.
ÍNDIA
Fonte: Livro Último Sopro
De: Enock Dias Cerqueira*
Como encontrar uma pessoa desejada, em meio à tanta gente? Em qual dos cinemas? Em que igreja? Na casa de quem? Da tia, no final da Avenida Itapitanga? Na casa da sobrinha, na Av. Ilhéus? Ou na Rua do cacau? Eram milhares de pessoas indo e vindo de todas as direções! O serviço de alto-falantes continuava com seu tradicional anúncio, que já fazia parte do folclore coaraciense: - Alô, alô morena de blusa branca, saia azul e sapato marrom, ouça essa gravação que alguém muito apaixonadamente lhe oferece! Aí começava a tocar a bela musica ''Índia'', do interprete, tradutor e letrista José Fortuna. Quem nunca ouviu essa música! Um sucesso incontestável lançado nos anos 1950. Essa música era uma das mais executas no Parque Estrela do Sul, pela Voz da Liberdade e Voz do Comércio; uma média de trinta a quarenta execuções diárias. Seus versos diziam o que cada um queria dizer a suas amadas, mas faltavam palavras, e a timidez impedia. A beleza dos versos da música, combinavam com o desempenho das belas Wasky Cunha e Ivone Rocha Souza, duas habituais frequentadoras das ruas e praças de Coaraci.
Muitos rapazes não retornavam as suas casas enquanto estivessem presentes jovens que sintetizavam um misto de beleza e representatividade de Coaraci como as belas: Gedehy Almeida, Maria do Carmo, Neli Andrade, Maria Bonita, Rita Galo, Neide Barreto, Elisabete Kruschevsky, Marlene e Lindóia, e Margarida Coutinho, Gironda Neves, Leda Feitosa, Liana e Glícia Rocha, Ivone, Ivonilda e Ivonice Sande, Joselita Jojó Alves, Nivalda Lima, Marlúcia Aguiar, Marly Marlete e Marlene Gusmão, Efandil, Evalda e Evanilda Soares, Dirce, Maria de Lordes e Alaíde Vilanova, Altamira Rebelo, Eunice, Ester e Elivalda Santos, Ivone e Joselita Santos, Maíta, Valdelice Alves, Eliete, Arlete, Ivonete, Aurea e Maribela, filhas de Norminanda Souza, a loura, e centenas de outras anônimas, vindas de pouso Alegre, Ruinha dos Três Braços, e de distantes fazendas da região do Ouro e Cidades próximas.
Alguns musicólogos consideram a musica Índia como a música mais executada em todo território nacional em todos os tempos.
UM JOGO, UMA ARMAÇÃO POLITICA
De. Nilo Bonina
Na época em que atuava pela Seleção de Futebol de Coaraci, fomos convidados para jogar contra a Seleção de Futebol de Ibicuí, no famoso campo do Distrito de Ibitupan, conhecido como O Caldeirão do Sertão.
Tínhamos que chegar cedo ao Distrito, pois estava em festa e as comemorações se iniciariam logo cedo, ao amanhecer.
Seguimos pela Estrada do Ouro, cheia de buracos e muita poeira, mas após longo tempo de viagem chegamos em paz. Chegamos por volta das 10h30m, desembarcamos e fomos recepcionados como se fossemos jogadores profissionais, pois naquela época tínhamos fama de forte seleção, pois estávamos invictos a muitos tempo. A nossa fama espalhou-se por muitas cidades da região. A festa tinha iniciado muitos Políticos Influentes estavam presentes, fazendeiros poderosos exibiam seus cavalos de raça e o publico se concentrava e crescia rapidamente, principalmente em razão da nossa chegada e de gente de outros distritos e cidades vizinhas.
Nossa equipe foi convidada para almoçar na fazenda da família do Sr. João Mané, fazendeiro rico e respeitado na região, Quando chegamos para o banquete, fomos surpreendidos com a presença de apenas quatro ou cinco jogadores adversários. Durante o almoço, após boas conversas com alguns conhecidos do meio esportivo local, começamos a entender o que estava acontecendo, tratava-se de uma armação, pois a dita Seleção de Ibicuí, não passava de um combinado com jogadores de Ipiaú, Jequié até do Vitória de Salvador, esses últimos jogadores, eram profissionais. Tudo estava armado para nos derrotar. Rolavam altas apostas no combinado, poucos acreditavam em nossa Seleção e muito menos se arriscavam em apostar em nossa equipe.
Na hora do jogo notava-se a presença de muitos policiais, estavam por todos os lados e a pressão aumentava rapidamente.
Finalmente a bola rolou. Daí começaram as provocações, tais como: Onde ficava Coaraci? Se Coaraci estava no mapa da Bahia, mesmo?
Mas para nós jogadores da Seleção de Coaraci, não havia pressão que nos intimidassem, ao contrário nessas ocasiões é que sufocávamos os adversários. Pra nós aquilo era normal.
Nossa equipe era composta por jogadores enxutos, esbeltos, bem condicionados fisicamente, nenhum jogador estava acima do peso ideal, por isso mesmo começaram a nos chamar de ''passa fome'', ''seleção de papa-jacas''. Mas o que eles não sabiam é que nós tínhamos um pacto: ''Qualquer jogo tinha que ser disputado como se fosse uma final de campeonato. '' Começamos muito bem, e fizemos um gol, através do nosso excelente jogador ''Toinho Moisés''. Daí em diante começaram os absurdos da arbitragem claramente tendenciosa a seleção local, comum naquela época. Lá pelas tantas já no segundo tempo de jogo, aos quarenta e sete minutos o árbitro mandava seguir o jogo sem a mínima preocupação com o cronometro. Dizia que ainda estava cedo. Eu como Capitão da equipe, educadamente me dirigi ao Arbitro para avisar que o tempo já havia se esgotado e já estava escurecendo. Para minha surpresa, a resposta foi curta e grossa: ''Mande o diabo de o seu goleiro deixar a bola entrar, que aí fica bom pra todo mundo. ''
Realmente naquele dia o nosso goleiro Eduardo (Massa Bruta), estava mesmo iluminado e não endiabrado. Durante nosso rápido diálogo, ele já, marcava um pênalti. Totalmente ilegal! Nós fizemos pressão, reclamamos, ameaçamos sair de campo, catimbamos mesmo.
Eles empataram o jogo, a torcida invadiu o gramado após o apito final, e ficou tudo como eles queriam,
Mas tarde durante o jantar oferecido pelos diretores e políticos, soubemos pelo próprio árbitro, que se fosse preciso, os apostadores e fazendeiros, acenderiam os faróis dos carros até que sua seleção local conseguisse o tão esperado empate.
Eu ouvi aquilo, fiquei calado, achando uma situação cômica pra não dizer trágica.
ACREDITE SE QUISER
De PauloSNSantana
Certa feita, um cidadão incrédulo, deparou-se com o inacreditável mundo dos espíritos. Tudo aconteceu quando foram morar em uma casa na rua da paz. Sua namorada, noiva, depois esposa era médium, mas sem saber. O homem nem acreditava que existisse tal coisa. A primeira casa onde residiram localizava-se na periferia, Rua da Paz, perto do cemitério do mesmo nome. Uma sexta-feira foi trabalhar e deixou as duas, ela e sua filha com apenas meses de nascida em casa. La pelas onze horas da manhã recebeu um telefonema, avisando que a sua esposa estava passando mal. Saiu da empresa rapidamente, e seguiu para casa, para ajudá-la. Quando chegou, ela estava enrolada, em duas cobertas, tremendo de frio, embora o dia estivesse bastante quente. Chamou a vizinha, que residia no andar térreo, para ajudar, e assim que a vizinha botou os pés na casa, começou a sentir os mesmos calafrios. Imediatamente deduziram que seria algo mais que um simples resfriado. Coisas que só os baianos soteropolitanos são capazes de acreditar. Pegaram então um Evangelho na mesinha do quarto, passaram a orar, rezaram a prece de Caritas. Fervorosamente! Quando terminaram de pronunciar as ultimas palavras, a situação reverteu-se e a mulher aquecida, sem frio e sorrindo, perguntou o que havia se passado. Acredite se quiser! Leitor (a) envie sua História Sobrenatural, para nosso E-mail: informativocultural162@gmail.com.Se for verdadeira, que publicaremos neste espaço.
DO OUTRO LADO DO RIO
O Rio Almada, majestoso em 1953 banhava silenciosamente a bela cidade de Coaraci. Havia uma pequena ponte separando o lado de lá, o outro lado, do lado de cá, a sociedade chamada de: os grandes comerciantes, a burguesia, armazéns e a Agências de Cacau Wildberg, Correia Ribeiro, o grande comércio, a Igreja Católica, o Instituto Pestalozzi, a sede da Prefeitura, o Fórum, a Unidade da Fundação SESP, o Grupo Escolar, as melhores residências, os poucos calçamentos, o Mercado Popular, a Agência de Ônibus Sulba. Só os dois Ginásios e o Campo de Futebol ficavam do outro lado do rio, com o cemitério, onde tudo é igual mesmo, do lado de cá ou do lado de lá.
O Rio Almada corria no meio majestoso, soberbo com sua água escura e caudalosa. Era caça por todo lado. Do outro lado do Rio, os mais pobres, os trabalhadores rurais, os empregados do comércio, os artesões e, num destaque todo especial, o brega, a rua das mulheres, a conhecidíssima e malfadada Rua Primeiro de Janeiro. No fundo mesmo, na realidade, ninguém fazia diferença dos dois lados. Era uma cidade só, uma comunidade ordeira e unida, sem distinção. Um exemplo disso era que a dona do brega morava do lado de cá do rio e a noite atravessava a ponte para o comando das suas subordinadas; uma das mulheres da vida mais conhecida, vendia Produtos da Avon, durante o dia, do lado de cá da ponte, tendo acesso livre e franco a todas as casas de família. Depois entrou converteu-se, na Igreja Batista. era respeitada pelas dondocas da época.
Os Padres e pastores eram respeitados, o babalorixá, Joaquinzinho era muito querido pela população coaraciense, um povo só, dentro das afinidades possíveis do ser humano, médicos, dentistas, advogados, professores, miscigenados e se querendo bem.
Da Rua Primeiro de Janeiro, a Rua das Flores. Podia-se ver a cruz da Igreja Católica, o candomblé de Joaquinzinho. Na Rua das Flores uma das casas era bem ajeitada, e havia uma placa abaulada daquelas esmaltadas, com um fundo branco, letras azuis em relevo onde podia-se ler ''Schimidt Ferreira'' na parte de cima e, logo abaixo, '' Detetive particular''. Schimidt era um detetive cursado, diplomado, registrado e tudo mais. Mas em Coaraci em 1953 ninguém precisava ir atrás do ladrão criminoso. Sabia-se que era e pegava-se, fácil-fácil. O que um detetive particular iria fazer em Coaraci naquela época? Em Coaraci se sabia de tudo. Não se sabe se Schimidt teve algum cliente. Mas para não passar dificuldades o Sr. Schimidt tinha outra profissão. Ele não teria crédito para investigar adultério, pois o mesmo tinha um casinho bem particular. Pra complicar a vida do detetive em Coaraci não havia segredos que não fosse logo descoberto. Seria muito difícil para aquele Detetive do FBI, seguir homens ou mulheres adulteras, ou correr atrás de ladrões, embora a cidade fosse plana, sem ladeiras, mas chovia demais e a lama era geral. E o nosso detetive não tinha pernas para isso.
Ele tinha um defeito em uma das pernas, atrofiada por uma espécie de paralisia. Por isso usava uma bengala e andava apoiando-se sobre a inseparável ferramenta. Por esse motivo nosso detetive particular do FBI em Coaraci ganhou um apelido de Schimidt Capenga Detetive Particular.
AS FACES DE COARACI
Texto de PauloSNSantana
Coaraci tem tantas faces, que pode acolher toda gente. E todos que chegam nesta terra, são abraçados diferentemente, mas com o mesmo amor. Coaraci é democrática e se adapta aos visitantes suprindo a suas necessidades. É religiosa e profana. Bondosa e exigente, cobradora dos seus caprichos. Gosta de festas, é feliz. Não se esquece das datas especiais, como o 12 de dezembro dia da sua Emancipação Politica, a Festa de Nossa Senhora de Lourdes Padroeira da Cidade, o São João, e o Natal. Sofre, canta, dança e dá exemplo. Já foi povoado, distrito e hoje é um município sábio e politizado.
É menina e menino. Quando chega Setembro o mês de São Cosme e Damião ou dia de Oxalá e Iemanjá, mostra seu sincretismo religioso.
Nas Igrejas, reza. Nos terreiros, dança e paga obrigações. Come hóstia e faz despacho. Bebe vinho e cachaça. Veste-se de Branco ou Vermelho, sendo santa e profana. Deus e o Diabo vivem harmoniosamente nesta terra do sol.
Tem micareta, dança atrás do trio, que é também uma invenção do diabo que Deus abençoou.
É muito mais que tudo isso. Ninguém consegue expressar em palavras o que é que ela tem.
Que terra é essa, que não fica zangada? Que terra é essa que cheira a cacau? Que terra é essa que é salgada como a carne do sol e doce como um beijo da morena brejeira. Que terra é essa, húmida de amor, quente de paixão. Esta terra obriga a sentir saudades, quando não se esta aqui.
Aqui se come dobradinha e carne do sol, tem colina que não é sagrada, é terra dos puros e impuros, do amor e do ódio.
Coaraci é uma terra que trago dentro do peito. É uma terra que respeita seus filhos. Que me permite escrever nesta página do Caderno Cultural, sem receios, das verdades e segredos, caras e jeitos.
Coaraci é muito mais que tudo que foi dito aqui. Ninguém conseguiria traduzir com palavras o que é que Coaraci tem.
Coaraci dos mistérios. Das verdades e fantasias.
Quem descobre fica encantado e jamais esquece sua magia. É esse tempero que mantem esta terra pulsando, viva e valente.
Coaraci é desta forma. Tem mil faces. A que escrevo agora é a Coaraci que me acolheu, ensinou, aceitou, educou e amou verdadeiramente.
Descubra as outras faces da Terra do Sol, lendo periodicamente os exemplares do Caderno Cultural de Coaraci.
A VISITA
De: PauloSNSantana
As sextas feiras são bastante festejadas pelos baladeiros, é a noite dos farristas, dos casais, dos motéis, de bares e restaurantes .
Mas as sextas-feiras tem um significado muito especial para alguns espiritas, dos terreiros de candomblé, aos kardecistas, e para as entidades visitantes em busca de consolo, e caridade, assim como também sedentos de vingança e possessão. Eu conheci um casal de amigos, novos amigos, inteligentes bonitos e saudáveis, que jamais imaginaram um dia receber a visita dessas entidades. A esposa de meu amigo era médium. Ele totalmente descrente, um jovem materialista, iniciando-se na vida a dois.
Não se sabe quando tudo começou, mas ela era sensitiva. Tinha sonhos medonhos, via e sentia coisas, que não eram levadas a serio. A esposa de meu amigo era linda, uma morena esbelta, charmosa e muito, muito educada. Meu amigo era imaturo, dedicado, e comprometido com a nova responsabilidade de esposo e pai. Viviam harmoniosamente, amavam-se imensamente, um não vivia sem o outro, e eram vistos sempre juntos, frequentavam praias, viajavam e curtiam a vida com prazer. Mas uma terrível tragédia os atingiu, em uma tarde chuvosa de inverno. Aquela mulher tão bonita e saudável possuía uma falha no sistema imunológico. Sofria dos Rins. Doença agressiva e causadora de terríveis sofrimentos. Mas juntos meu amigo e sua companheira, enfrentaram o mundo, um apoiando-se no outro, fortificados por um imenso amor. Conseguiram grandes vitorias. Inclusive mais tempo de vida para aquela mulher fervorosa. Mas a doença não foi vencida, e com o tempo, foi minando sua resistência. Materialmente debilitada, seu corpo abria uma porta para a ligação com as energias espirituais. Os dias mais críticos para ela eram as sextas feiras. Certa ocasião, altas horas , quando na rua, as pessoas passavam eufóricas, animadas para as festas, e encontros amorosos, outros dormiam, e a noite transcorria calma e fria, dentro de casa de meus amigos a tv transmitia cenas de um filme qualquer, e as crianças dormiam, o casal sonolento preparava-se para mais uma noite de descanso, repentinamente, ela debilitada pela doença, sentiu-se mal, dores fortíssimas de cabeça, frio, calafrios terríveis, não vencidos por uma montanha de cobertores. A pressão arterial altíssima, o perigo rondava aquela casa. O silêncio era quebrado pelos seus gemidos. Repentinamente uma voz, agressiva, em tom ameaçador, saiu das cordas vocais daquela mulher sofredora, bradando segura e forte :'' Não adianta, vou levar ela de qualquer jeito''. Encarando para o meu amigo, com olhar profundo e tenebroso; Ele Arrepiou-se. Tremeu dos pés a cabeça. Como resolver aquela situação? Naquela hora? Sozinho, e com muito medo? Naquele momento a única coisa a fazer era pedir socorro a algum vizinho ou orar com muita fé. Meu amigo abriu a gavetinha ao lado da cama, apanhou um livreto com a prece de Caritas. E começou a orar. Criou coragem e dirigiu-se à entidade desconhecida: Quem é você, o que você quer? Só quem da a vida ou tira é Deus! Seu lugar não é aqui. Deve ir embora! Vamos rezar para que isso aconteça agora. Então: Aquela estranha energia sorriu, alucinadamente, desdenhando daquelas palavras. Mas ele fervoroso, começou a orar, sozinho, tremulo e incrédulo. Rezou com muita fé. Suava e tremia. Mas a força da oração trouxe a paz para alma, daquela mulher sofredora. A entidade retirou-se daquele corpo frágil, silenciosamente. Meu amigo, respirou fundo, abraçou-a fortemente, como se estivesse tentando protege-la, beijou-a, ternamente, declarando seu amor, e juntos dormiram, na paz de Deus. ACREDITE SE QUISER!
O TELEFONE PÚBLICO
Caso verídico de PauloSNSantana
A vida nos reserva surpresas, tragicômicas, que faz lembrar das histórias do saudoso Chico Anísio. Uma delas aconteceu comigo nos anos 90, quando era Técnico de Esportes do CSU de Coaraci. Era um trabalho atraente e desafiador. Os momentos mais difíceis que vive naquele espaço público aconteceram durante os babas da tarde quando haviam muitos jogadores, e todos a seu modo se achavam donos do pedaço, eu tinha justamente que coordenar a paz, evitar confusões.
Certa ocasião, minutos depois do inicio do baba, estourou um bafafá, com a troca de ofensas e empurrões.
Alguém no meio da confusão lembrou-se de me chamar para resolver o impasse. É que um dos jogadores gritava, que o baba iria acabar ali. Não iria permitir que o mesmo continuasse.
Dirigi-me aquele pandemônio, onde todos gritavam ao mesmo tempo e queriam partir para as vias de fato. Eu estava apreensivo, como iria resolver aquela situação? O cara gritava, que naquela tarde não haveria mais babas! Eu não poderia permitir aquilo. Todas as tardes havia problemas, mas aquele requeria atenção e precaução. Na portaria trabalhava um cidadão conhecido com Sr. Salvador, uma espécie de faz tudo. Era porteiro, zelador, educador, disciplinador. Sr. Salvador estava assustado e em alerta. Preocupado com a situação. Eu me dirigi ao campo, e fui de encontro ao meliante. Chegando lá pedi ao mesmo que levantasse do meio do campo, que ele não tinha autoridade para acabar baba naquele local. Mas o cara irredutível não se levantou, e bradou que ninguém o tiraria dali. Educadamente tentei dissuadi-lo daquela ideia, cordialmente conversei, mas ele gritava enlouquecido. O cara estava estressado, bravo e irredutível. Vaias de um lado, gritos de outro, e nenhum apoio chegava para ajudar-me. Ameacei o cidadão de suspensão de exclusão, mais nada disso surtiu efeito.
O Sr. Salvador permanecia imóvel na portaria, olhando pelos cantos, amedrontado, receoso não queria fazer parte daquele fuzuê.
Eu sozinho, estava assustado, sem apoio chamei o Sr. Salvador.
Sr. Salvador cadê o Senhor? Ninguém respondeu. Ele não apareceu, estava olhando, nos via, mas nós não o víamos.
Eu continuei gritando chamando por ele. Queria ajuda. E nada do cara aparecer. Quando vi que ele não viria ajudar-me pensei. Vou blefar. Gritei bem alto!
-Salvador! Senhor Salvador! Telefona aí para a Policia! Chama eles agora!
Mas, Salvador gritou de lá: -O telefone tá quebrado! -O telefone tá quebrado!
Naquele momento eu tremi, o cara me entregou aos leões. Mas uma coisa que nunca tive foi medo. Para não ficar desmoralizado, enfrentei o cara. Parti pra cima dele, tirei meus óculos, pedi a alguém para segurar.
Estava disposto a tudo, mas o cidadão amarelou, baixou a voz, saiu e foi sentar-se na lateral do campo. O baba voltou a rolar. O Cara ficou calmo. Foi proibido de continuar ali, jogando, foi severamente advertido e suspenso, mas desculpou-se e ficou tudo bem. Ele estava em um dia de cão. Eu em um dia de sorte e Salvador com muito medo.
CARURU DE PROMESSA
De: PauloSNSantana
Quem não gosta de caruru? Principalmente quando é setembro e se comemora o dia dos santos mabaços.
São Cosme e São Damião são homenageados com quiabo, farofa de dendê, arroz, vatapá, galinha de xinxim e muitas outras iguarias. Aqui na Bahia, essa culinária toma o nome de ''comida baiana'' ou ''comida de azeite''. Tudo gostoso e cobiçado por todos. Eu sou do tempo que se disputava para ver quem ia mais a caruru do que o outro. Tem o caruru de promessa (obrigação), onde existe todo um ritual para comer e o de festa. Mede-se o tamanho e a importância do caruru, contando o número de quiabos. Fulano faz um caruru de mais de mil quiabos. Dizem os comensais. '' Já fui a muitos carurus. mas um caruru em particular me vem a lembrança, o Caruru de Marinalva, aquele que ela convidou Janjão e Joaquim Torquato.
O terreiro de Marinalva, fica localizado até hoje nas cercanias do Centro Social de Coaraci. Era um Caruru de promessa ou obrigação. Mas os convidados não sabiam desse detalhe. Marinalva era eleitora do Sr. Joaquim Torquato, e de Janjão
Janjão ficou ligado neste dia para não deixar de comparecer ao evento, era um fã dos tradicionais pratos de caruru servidos por Marinalva.
O dia transcorria normalmente para os dois que participaram de algumas reuniões, e encontros políticos pois estavam vivendo as emoções de mais um pleito eleitoral.
O tempo passou rapidamente naquele dia, e ambos resolveram que deixariam o almoço para depois em virtude do convite tão especial, de Marinalva. Às 12h00, rumaram para a residência, onde ficava localizado o terreiro de Candomblé da própria. Os tambores rufavam, acompanhados das cantigas sacras, muitas crianças alegravam o ambiente. Os adeptos da cachacinha, já haviam bebido todas, e podia-se identificar alguns bebuns circulando cambaleantes pelo recinto. Uns falavam alto, outros cochichavam, entreolhando-se, com surpresa e satisfação em receber duas autoridades daquele porte naquele evento religioso.. Marinalva esperava apenas a chegada dos dois para servir o caruru. Finalmente chegaram bem vestidos, roupa de linho branco, a caráter e entraram e ficaram de pé na sala, esperando o excelente caruru. No centro da sala um grande caldeirão, com o caruru, pratos com galinha, farofa e vatapá.
As crianças disputavam seus lugares brigavam pelos pratos e as panelas. Vestida com traje de baiana, a mãe de santo, trás dois pratos para os convidados especiais. Mas um detalhe chamou atenção! Não havia talheres! Os convidados entreolharam-se surpresos. Era um Caruru de promessa que só se podia comer com as mãos. Aquela altura as pessoas curiosas indagavam-se:
-Como eles iriam comer de mãos?
Os convidados pediram os talheres e finalmente receberam duas colheres. Janjão e seu Joaquim com um misto de decepção e vergonha, seguravam os pratos cheios por certo tempo, para trocar depois com alguém por um prato vazio. Janjão segurou uma cocha de galinha, deixando o prato quase cheio para uma criança faminta.
Aquela altura ambos só pensavam em sair dali, para almoçar tranquilamente. São os ossos do oficio de quem faz politica e torna-se politico.
UMA CASA MAL ASSOMBRADA!
De: PauloSNSantana
Essa história absolutamente verdadeira aconteceu em uma das fazendas de parentes ha muito, muito tempo atrás. Era uma bela fazenda, que abrigava centenas de famílias de trabalhadores, agricultores e vaqueiros. Na casa Grande habitava uma família numerosa, com muitas crianças, adolescentes, adultos e idosos, além de serviçais. Era uma casa grande na acepção da palavra: Três pavimentos, muito bem divididos, planta elaborada por Engenheiros Portugueses, em estilo Europeu. Construída no alto da colina, de onde via-se toda pradaria, e podia-se ver a entrada principal cercada por árvores, que formavam um corredor verde, cercas pintadas de branco ladeando a estrada de pedras polidas pelo tempo. Havia muito trabalho naquela propriedade, centenária. Mil cabeças de gado nelore, cafezal, e centenas de hectares de cacau. Cercando a imensa mansão, um pomar e uma bela horta e muitos pássaros e cães.
Mas nem tudo por ali eram flores. Havia muito trabalho, exigido o cumprimento de horários, a fazenda era uma grande empresa, dirigida com mãos de ferro.
Haviam muitos escravos. As mulheres cuidavam da limpeza da casa, lavagem de roupas e alimentação. Mulheres negras lindas. As filhas do fazendeiro eram brancas com traços europeus, esbeltas, curvas perfeitas, perfumadas, especialmente educadas. Passavam os dias estudando, lendo e andando a cavalo.
Havia rixas entre os trabalhadores, fofocas entre as mulheres, disse me disse inimizades e ódios reprimidos. Foi nesse cenário, que aconteceu o impensável. Um assassinato! Em uma noite calma, quando todos já se preparavam para dormir. Alguém grita aterrorizado! Mataram a filha do patrão! Mataram a filha do patrão! Os gritos ecoaram na fazenda e logo foram chegando os curiosos. A vitima era a filha mais velha do Patrão. Estava despida. Foi estrangulada. Mas não havia nenhuma indicação de arrombamento ou roubo. Alguém daquela fazenda havia cometido aquele assassinado. Tudo indicava uma agressão sexual. Quem seria o assassino? Não havia provas contra ninguém. Começaram então a investigar e especular, até que surgiu um suspeito.
Um rapaz que era visto constantemente ao lado da bela moça. O suspeito foi caçado, preso, julgado e condenado à morte por enforcamento em 24 horas. Foi julgamento rápido, impreciso e injusto. O suspeito fora enforcado e seus membros foram decapitados e expostos no terreiro da propriedade.
O assassino assistiu a tudo silenciosamente, postado ao lado do corpo da vitima, demonstrando tristeza e revolta.
Nada seria como antes naquela propriedade. A casa ficou triste, vazia e misteriosa. As noites passaram a ser aterrorizantes: cachorros latiam, gatos miavam, panelas caiam, chumaços de cabelos caíam do telhado na mesa do jantar, ouvia-se gritos terríveis que vinham do sótão, risadas cínicas e assustadoras ouvidas no quarto da falecida, gritos desesperados que invadiam o silencio da noite.
Como passar a noite naquela mansão?
Convidaram então um médium vidente, para investigar os acontecimentos, procurar uma explicação para aqueles terríveis acontecimentos. Um vidente, irmão Souza, que andou solitariamente pela enorme mansão, por duas noites até que entrar no quarto da falecida. Sentiu algo incomum, frio e tenebroso. ficou assustado, mas continuou atento a algum sinal, esperava um contato com a entidade que estava provocando aquele terror. Viu então em um canto do quarto, na penumbra, um vulto negro de um homem, aproximou-se e identificou o vulto como Arnoldo, tio da moça assassinada. Ele contou então que havia falecido em uma troca de tiros. Estava aterrorizado e arrependido. Confessou o assassinato da sobrinha e seu sentimento de culpa pela condenação de um inocente. Suplicava perdão. Onde estava só havia, gritos e desespero, não havia a paz, estava sendo açoitado por entidades agressivas. O vidente ouvia a tudo atenciosamente. O espirito estava acompanhado por uma dezena de entidades agressivas, zombadores, cruéis que protagonizavam o terror daquela família. O espirita então perguntou: O que queriam?
O Espirito de Arnoldo respondeu que só abandonaria aquela casa quando os familiares da vitima, encomendassem uma missa. Que só assim eles poderiam seguir seus terríveis destinos. Disse em tom de ameaça e desespero que enquanto houvesse ódio, e ressentimento, eles não deixariam ninguém em paz. O Irmão Souza, ordenou então que se retirassem da casa e que ali não voltassem antes do dia da missa, que foi realizada oito dias depois na sede da fazenda. Daquele dia em diante as noites voltaram a ser silenciosas, e misteriosamente calmas.
Acredite se quiser!